dois

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a cicatriz demorou um pouco pra curar, mas curou. durante o tempo que ela permaneceu aberta e que mesmo assim eu a cutucava, a única coisa que eu queria era o seu entendimento.
queria que você entendesse meus motivos pra ficar e pra ir embora. à cada explicação eu ia me perdendo mais e a sutura já não estava mais suportando.
a constatação de que o "nós" nunca mais existiria - se é que existiu de fato - me corroía a cada palavra. percebi um leve sangramento, mas estava tudo bem - era só limpar.

e foi assim todas as vezes que o coração falou mais alto que a razão e que corri para os teus braços igual criança pros braços da mãe quando cai.

[era só limpar, caso escorresse um pouco de sangue]. engoli o choro e o medo e cada argumento bem planejado só pra te ver ficar, mas de nada adiantou.

você partiu, levou o eu que conhecia tão bem e só restou os escombros do que eu era.

lembrei que um dia li que "quanto maior a massa de uma estrela, menor é o seu tempo de vida, porque ela gasta muita energia para se manter iluminada."

e o que eu sentia por você não deveria me desgastar tanto porque amor tem que ser algo simples e sem t a n t o s efeitos colaterais.
quando for pra ser amor, a gente não vai ter que gastar tanta energia pra mantê-lo iluminado e vivo. isso vai acontecer naturalmente, porque p r e c i s a acontecer.

e a cicatriz já nem sangra mais.
demorou um pouco, mas curou.

tudo que ainda me restouOnde histórias criam vida. Descubra agora