tudo que ainda me restou

cinquenta e nove

mais uma carta que você nunca irá ler, guardada num envelope com o cheiro do seu perfume preferido.

Jay,
eu até te queria de volta, mas você nunca esteve tão bem como está agora. seu sorriso cada vez mais lindo, sua pele mais bem cuidada e as constelações em seus olhos cada vez mais nítidas. cuidou da dor no braço? espero que sim.
eu passei noites me perguntando o motivo de não termos dado continuação àqueles inúmeros sonhos que por diversas vezes achamos que não dariam certo - e, de fato, não deram.
andei procurando resquícios de você por toda casa e não encontrei. você saiu pela porta, trancou o portão às sete chaves e levou absolutamente t u d o. não me restou nada de você, a não ser palavras que não passaram do nó na garganta e o restinho do seu perfume preferido - espero que você não volte para buscá-lo, mas, se viesse, seria uma boa desculpa para tentar fazer você ficar.

você não veio.

permaneci triste por um bom tempo, mas uma hora alguém tem que ceder, né? uma hora alguém tem que quebrar e eu só não contava que seria eu. me despedaçei completamente e até hoje tento juntar cada caquinho minuciosamente sem ter que furar os pés.

eu até te queria de volta, confesso. mas você nunca esteve tão feliz comigo, como está agora, com ela. há dias em que eu ainda vejo você e dói porque sou um ser humano e o que pode ser uma simples onda, para mim pode se tornar um tsunami. depende do quão intenso a gente é.

eu sou demais no quesito intensidade, não é mesmo? quem melhor que você para saber disso? mas, apesar de tudo, eu sempre soube que amar é querer ver o outro feliz, mesmo que isso custe nossa felicidade por um tempo.

porque nada é eterno, e, assim como você está feliz sem mim, eu também tenho o direito de ser feliz sem você.