Blue Rose

Capítulo XII - A Corte do Vigário

[N/A]: Dessa vez eu atrasei, mas culpem a capa. Foi um parto pensar no que fazer e um segundo parto pra fazer de fato. Mas, como diria o ditado, "antes tarde do que mais tarde" :v

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Com a cabeça baixa, perdido em devaneios, Lance deixa que seus pés o guiem. Por vezes, esbarrando em ombros alheios e pedindo desculpas aos transeuntes por sua falta de atenção. E mesmo os arrependimentos eram um gesto automático, pois estava concentrado demais nas lajotas da calçada para considerar a presença dos que cruzavam seu caminho.

Aonde aquela estrada o levaria? A algum lugar conhecido, como o chalé ou o antiquário? Algum paradeiro distante, para fora dos limites do continente? Ele não sabia dizer. E, sinceramente, não se importava com a resposta. Só sabia que – onde quer que fosse – Keith não estaria lá, e isso bastava para seu desinteresse.

Um passo após o outro, Lance desce pelas ruas da capital. E, desatento, nem percebe que a caminhada o direciona a um empecilho. Ou melhor, dois.

Dois pares de coturnos, alinhados, barram sua passagem. O inconveniente obriga Lance a sair de seu transe e, ao erguer a cabeça, seus olhos vão de encontro a duas figuras altas e autoritárias. 

Oficiais do exército. Pomposos em suas fardas justas e com as mãos recolhidas nas costas. A visão faz Lance recuar um passo, defensivo.

- Ah, sinto muito. Eu não vi os senhores. – Lance se justifica, dessa vez bem consciente de suas desculpas. – Com licença.

Ele faz uma breve reverência, traçando um caminho ao desviar dos guardas. Mas era muito cedo para despedidas.

- Vai a algum lugar? – Um deles pergunta, o fazendo parar.

- Não, só... Estava de passagem.

O homem coça a barba, como se refletisse sobre algo.

Aquilo não era bom sinal. Lance podia sentir os ossos rangerem, como se o alertando de alguma coisa. E os olhos semicerrados dos oficiais o espreitavam como uma isca. Estava prestes a girar sobre os calcanhares e caminhar para longe dos figurões, mas a conversa não havia terminado como o silêncio momentâneo presumia.

- Se importa de nos acompanhar por um instante? Gostaríamos de fazer algumas perguntas. – Apesar das palavras educadas, a voz era bastante ríspida.

- Sobre...? – Lance tentou extrair uma explicação deles, mas não teve sucesso.

Os guardas se limitaram a acenar em direção ao beco atrás deles, convidando Lance para uma conversa particular, longe dos olhares do público. Isso era o que Lance temia.

Como ex-ladrão, sabia bem o que normalmente acontecia nessas horas. Nada de bom vem de um convite supérfluo e inesperado como esse. Muito menos de uma autoridade como eles. Menos ainda se tratando de galras. 

Seu instinto o mandava fugir, mas sabia que isso poderia ter consequências piores. Ele não estava em posição para reagir. Não se quisesse passar alguma credibilidade aos soldados.

Lance respirou fundo e fez-se presente, seguindo obediente os dois estranhos. Estava tentando se manter calmo antes de conversarem, afinal "quem não deve, não teme". Ele não havia cometido nenhum tipo de delito em sua breve estadia em Feyiv e, graças ao documento de Kolivan, era um estrangeiro legal. Sendo assim, não havia razão para nervosismo.

Um dos guardas o acompanha por trás, com uma das mãos em suas costas, obrigando-o a seguir em frente. Assim que ganham uma distância razoável da rua, eles param no meio do beco. Os brutamontes se posicionam na viela estreita, mantendo Lance encurralado.