III (atualizado)

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Quando finalmente decidi me levantar, fui andando pelas ruas da baixa a ver as montras e os cartazes que havia espalhados pelos placares. Adorava andar na rua nesta altura do ano. O sol já começa a estar quente durante o dia e para passear não há melhor sensação. Nem muito frio, nem muito calor. Pena é não ter uma boa companhia com quem desfrutar o meu passeio. Na rua montes de casais felizes passavam por mim. Desde adolescentes, adultos e até casais de mais idade. Até os pássaros.... Ultimamente toda a gente parece se estar a apaixonar, até o meu pai. Pergunto-me: será que algum dia vou encontrar alguém que goste realmente de mim. Nunca tive ninguém que gostasse de mim a sério. Ter até tive, mas não sei se era assim tão real.

Continuei a andar e a olhar para as montras até que uma me fez parar. Era uma loja de animais e tinha uns gatinhos bebê para adoção. Decidi entrar para os ver mais de perto. Eram a coisa mais adorável de sempre. Tinha uns castanhos-escuros, outros laranja e outros pretos e brancos.

"Boa tarde, precisa de ajuda?" Um rapaz, presumo trabalhador da loja, perguntou. Ele não aparentava ser muito velho. Talvez uns 5 anos mais velho. Era bonito e os seus olhos cinzentos sem dúvida que não passavam despercebidos.

"Não, obrigada. Estou só a ver." Respondi e continuei a olhar para a gaiola onde estavam as crias. O rapaz permaneceu atrás de mim encostado ao balcão.

"São adoráveis não são?" Voltou a falar passado algum tempo. "Até dá dó vê-los aí fechados."

"Pois é, tem razão." Respondi simplesmente. Não percebia o porquê de o rapaz estar a falar comigo. Ele não tinha mais clientes para atender?

"Não queres adotar nenhum?"

"Infelizmente não posso. O meu pai nunca iria aprovar, ainda por cima é alérgico, mas eu sempre adorei gatinhos." Sorri a olhar para os seis gatinhos que ali estavam. Ainda não tinha encarado o rapaz, então virei-me. "Mas, posso ajudar de outra maneira, certo?"

"Claro que sim. Como queiras." Sorriu e foi para o outro lado do balcão onde deveria estar.

"Então, eu quero comprar três sacas de comida e uns brinquedos para terem com que brincar, e assim a loja não fica a perder."

"Certo, podes ir escolher o que queres doar. Tens toda a loja, e a minha atenção também." Ignorei o seu comentário e fui escolher. Quando já tinha tudo o que queria doar voltei ao balcão e paguei. O rapaz olhava para mim de forma intensa e começava a sentir-me desconfortável. Pude reparar no crachá que ele tinha ao peito que se chamava Isaac. Era um nome bonito de facto. "Sempre que quiseres voltar estás à vontade. Podes me encontrar por aqui, a loja é dos meus pais e sempre que posso venho cá ajudar, o que significa estou cá a toda a hora." Riu-se e piscou-me o olho.

"Está bem..." peguei na minha mala e fui me embora o mais rápido que pude. Mas porque raio é que aquele rapaz tinha falado assim comigo? E porque é que não parava de namoriscar?

Apanhei o autocarro e fui para casa. Passado meia hora já tinha chegado. O meu pai ainda não estava em casa o que era ótimo. Assim não tinha que o ver e não tinha que olhar para a sua cara de arrependimento. Ou não. Subi para o meu quarto e pus-me a ler no telefone. Gostava imenso de me deitar na cama e ler pequenas crónicas. Isto quando não tinha que estudar. O que seria o que eu deveria estar a fazer. A semana que vem vai ser cheia de testes e não sei se vou conseguir aguentar a pressão. É muito trabalho só para apenas uma cabeça. Por vezes a escola torna-se um sacrifício e não nos beneficia em nada. Mas por um lado é para o nosso bem, para o nosso futuro.

Quando me fartei de ler, e também porque estava a ficar sem bateria. Deitei-me de costas na cama a encarar o teto e a pensar no que tinha acontecido. Mas quem era este rapaz que eu tinha conhecido? Será que vou ver muito mais sobre ele? Ele sem dúvida é cativante, mas é tão cheio de mistério e talvez seja por isso que é tão chamativo. Eu quero conhecer mais sobre ele, mas tenho medo de me aproximar. Será que ele também se quer aproximar? É estranho pensar sobre isto porque na verdade nós mal nos conhecemos. Mas consigo sentir que temos coisas em comum e é o que eu quero descobrir.

Fui até ao meu casaco e tirei o pedaço de papel com o numero que ele me tinha dado. Pensei em mandar-lhe uma mensagem. E se ele não responde-se? E se ele simplesmente ignorar a mensagem? Iria estar a fazer figura de otária. Simplesmente tirei essa ideia da cabeça. Não valia a pena.

Passei o resto da noite deitada na minha cama. Eventualmente levantei me para ir estudar. Não desci até ter a certeza que não encontraria o meu pai, e ele também não demonstrou interesse em me encontrar. Só queria que esta coisa desta mulher passasse e que não ficássemos chateados por isto. Gosto tanto dele que me custa estar assim. Mas eu sei que nos vamos resolver e tudo vai ficar bem.

O Perfeito Desconhecido | Maggy Austin | PTOnde histórias criam vida. Descubra agora