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Quando se encontrou com Jungkook, o sol já quase se punha. Tudo que podia pensar, enquanto sentado num dos banquinhos de sua bicicleta, era neles dois.

Eles dois estavam ali, juntos, andando de bicicleta, juntos, no por do sol, juntos. Jimin deixou-se sorrir porque Jungkook não estava o vendo.

E deixou-se inclinar na direção de Jungkook um pouquinho mais, as mãos ao lado de sua cintura.

Deixou-se aproveitar do vento batendo em seu rosto, do perfume doce de Jungkook e da quentura de seu corpo.

Prometeu a si mesmo que iria desistir. Que iria desistir de fingir que o coração não doía de tanto doer, e suava de tanta adrenalina.

Jimin se escorou um pouquinho mais contra Jungkook, seu nariz esbarrando contra a jaqueta dele. Jungkook não o recusou. Ele virou o rosto e olhou-o por cima dos ombros, rapidamente, antes de afrouxar as mãos nos guidões da bicicleta.

Viu-o abrir um sorrisinho.

— Foi mal. — Ele disse, depois do que pareceu ser um tempo considerando o que ia dizer — Eu te chamei um pouquinho do nada, não é?

Encarou-o de onde estava; os cabelos balançando de um lado ao outro, vento frio, jaqueta jeans, casaco preto, gola olímpica.

Jimin negou, mesmo que ele não conseguisse o ver. Firmou suas mãos no banco.

— Eu acho que aceitaria, de qualquer forma.

Tinha prometido para si mesmo. Se ele soubesse, que ele soubesse de tudo.

Jungkook começou a pedalar mais devagar e, dessa vez, fora ele quem se inclinou na direção de Jimin.

— De qualquer forma?

Percebeu de que talvez ele não conseguisse o escutar bem. Com o coração martelando o peito, Jimin limpou a garganta e assentiu para si mesmo.

— Quero dizer, — Começou a falar, um pouquinho mais alto — Não foi do nada. Talvez um pouquinho. Mas eu ainda aceitaria.

Jungkook deu uma risadinha.

— Por quê? Você nem sabia o que eu tinha em mente.

Jimin imaginou porque. Porque é que ele olhava-o tanto, sentia-o tanto.

Estreitou os olhos na direção dele. De novo, mesmo que Jungkook não o visse. Por que ele tinha que perguntar coisas daquele tipo e dificultar tudo para ele?

— Porque é você.

Quase não conseguiu ouvir o som de outra risada de Jungkook. Já estavam andando rápido novamente.

Não o suficiente para o deixar com frio, mas suficiente para que ele se sentisse flutuar.

Tirou as mãos do banco e apoiou-as na jaqueta de Jungkook, o vento embolando eles dois. Embolando Jungkook, e ele.

— Hm... — Ele murmurou, risonho — Boa resposta.

E Jimin não aguentou o sorriso da boca. Estavam perto demais, deixando-o bêbado de nervosismo.

— Obrigado. 

...

Jungkook não tinha levado-o a nenhum lugar extraordinário. Nada que o fizesse querer chorar.

Mas era Jungkook ali. Era ele. Então, enquanto andavam lado a lado pelas ruas iluminadas da cidade, só sentia-se palpitar.

Conversaram mais do que nunca tinham. E não viram o tempo passar, as luzes sumindo aos poucos. E agora lá estavam eles, jogados na grama, quietos.

Jungkook deitou ao lado de Jimin, a bicicleta caída na grama. Jimin o olhou e deixou-se queimar, deixou-se palpitar, deixou-se admirá-lo.

Seu nariz levemente arrebitado brilhava com a luz do poste mais próximo, um pouco fraca.

Jimin o via, mas talvez Jungkook não conseguisse o ver.

Estava escuro o suficiente para não ter medo de esconder nada.

Os lábios de Jungkook se curvaram num sorriso satisfeito e Jimin, com o coração a mil, viu seus olhos fechando junto.

— Faz tempo que não faço nada assim. — Jungkook comentou, a voz baixa, como se não quisesse que alguém mais escutasse.

E sem aviso prévio, ele virou o rosto.

De uma vez só, não foi capaz de compreender tudo mais do que lentamente. Suas bochechas esquentaram enquanto olhava-o nos olhos, metade dos cílios brilhantes, a outra misturada com a sombra em seu rosto.

Os olhos curiosos de Jungkook, a luz iluminando os cabelos de sua nuca, fios escorregando na testa.

Jimin apoiou a cabeça num dos braços e conseguiu sorrir, meio desajeitado.

— Na verdade, eu nunca fiz nada parecido.

Jungkook franziu a testa imediatamente surpreso.

— Sério? Nem com Taehyung?

Jimin assentiu.

— Eu e Taehyung costumamos sair de dia e dormir de noite.

Ele o olhou por alguns segundos com um sorriso torto, antes de dar uma risada arrastada.

E Jimin sentiu vontade de rir junto mas não conseguiu, pois Jungkook voltou a o olhar. E olhou, olhou, olhou. Depois, deu um sorriso para o nada.

Jimin também sorriu.

— O quê? — Indagou, curiosamente.

E de repente, os lábios de Jungkook estavam curvados e seus cílios brilhando mais uma vez.

— O jeito que você olha para as pessoas. No momento eu, mas em geral.

Jungkook deu uma risadinha e fechou os olhos de novo.

Jimin teve de engolir o coração na porta da boca. Subiu suas mãos e arrastou a grama de um lado ao outro, pelas bochechas de Jungkook. Ele franziu o nariz. 

— O que tem isso?

Era difícil tê-lo tão perto, tão bonito. Com o calor de seu corpo tão perto, seu cheiro o invadindo. Jimin viu-o forçando os lábios para cima, pensativo.

— O jeito que você olha para as pessoas, parece que está apaixonado. — Jungkook respondeu e abriu um sorrisinho — Se alguém te olhasse agora, diria que tá apaixonado por mim. — E por fim, brincou.

O estômago de Jimin revirou, pulou e fez festa.

E lá estava ele, sem respiração, quente demais.

— Talvez.

Jungkook riu. Porque ele não sabia.

Eram duas da manhã e os dois estavam deitados no jardim do cinema ao ar livre, vendo as estrelas.

Duas da manhã, e Jimin estava olhando para Jungkook como se estivesse apaixonado por ele.

Céus.  

i give upWhere stories live. Discover now