Hope

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Assim que Shawn atravessou a porta da área de embarque, Nikki deu as costas e saiu do aeroporto. Ela queria chorar por Shawn ir embora, mas ela sorriu pois ele havia prometido voltar. E aquela jaqueta com o cheiro dele impregnado não a deixava mentir.

Não quis voltar para casa logo. Por isso decidiu dar uma volta, caminhando sem rumo por aí. Ainda estava muito deprimida com os pais. Sentia falta do irmão Terry, sentia falta de ser uma criança normal, sentia falta de não sentir falta de uma vida tranquila. Nunca pediu uma família perfeita, ela sabia que era impossível, mas queria paz, queria amor e carinho. E a única pessoa que lhe deu isso teve as cinzas jogadas no Grand Canyon

Terry era incrível. Tudo o que faltava da parte dos pais, Nikki e Terry davam um para o outro e era completamente recíproco. Nikki lembrava que ele lhe levara para a sua primeira aula de balé, e ele deu a ela esse pequeno colar de bailarina, que ela usa até hoje, muitos anos depois. Terry tentou ensiná-la a tocar violão, coisa que ele fazia muito bem. Nikki até aprendeu algumas notas, mas depois que o irmão morreu, ela jurou que nunca mais voltaria a tentar aprender, pois a única pessoa que tinha o direito de lhe ensinar, não estava mais aqui. Terry gostava de Beatles, e o sonho dele era ir morar na Inglaterra. Ele prometeu que levaria Nikki junto, caso conseguisse. Todos os planos que eles fizeram juntos, debaixo dos lençóis que serviam de cabana no quarto, segurando suas lanterninhas de plástico contra o próprio rosto, todos aqueles sonhos morreram junto com Terry. Por que além de seu irmão, Terry era seu melhor amigo, e nada daquilo fazia sentido se ele não estivesse junto.

Nikki podia lembrar perfeitamente lembrar do fatídico dia, se ela fechasse os olhos, podia ver detalhadamente. Haviam ido comprar sorvete, duas bolas de chocolate para cada. Não haviam ido muito longe de casa, apenas duas quadras. Estavam voltando na faixa de pedestres, e Nikki saltitava alegremente enquanto se lambuzava com seu sorvete, manchando seu vestidinho. Então foi rápido. Ela ouviu primeiro a buzina, seu corpo travou como pedra quando gritos começaram a fazer parte daquele coro bizarro. Ela não teve tempo de olhar para lugar nenhum. Só sentiu as mãos de Terry nas suas costas, dando um solavanco forte que a fez saltar vários centímetros. Seu sorvete voou de sua mão, se espatifando dono asfalto quente. Nikki caiu de joelhos no chão, sentindo a dor do ralado no joelho e no antebraço. Até hoje tinha a cicatriz no joelho. Ela não teve tempo de fazer nada, quando ouviu o barulho. Um baque surdo, seguido de vidro se quebrando e gritos das pessoas por perto. Quando olhou para trás, Terry estava no chão, machucado e ensanguentado. O sorvete caído no chão havia deixado de ser problema. Nikki se aproximou do irmão, trêmula. "Terry!" ela o chamou, mas ele parecia estar desmaiado. "Vamos, Terry, deixa de piada! Precisamos voltar para casa." Ela o chamou. Terry era um idiota que sempre fazia essas pegadinhas, fingia que estava desmaiado, ou se sujava de ketchup para assustá-la. "Terry, isso não tem graça!" Ela o cutucou no braço. Uma mulher estranha a abraçou e a carregou no colo. Nikki estranhou. "Eu sei que ele está só brincando" ela dizia para a mulher. "Ligue para a ambulância!", a mulher estranha disse para as outras pessoas que se aglomeravam em volta da cena, então ela lançou um olhar triste para Nikki. Um olhar que lhe doeu no fundo da alma. "Vai ficar tudo bem, querida."

Mas nada ficou bem.

Terry deu a última e derradeira prova de amor. Morrer por alguém que você ama, é incontestavelmente, uma boa forma de morrer. Mas para quem ficou, restou apenas sofrimento, mágoa e culpa. Muita culpa. Nikki nunca mais foi a mesma. Gostaria de dizer que superou a perda, que viveu ainda mais intensamente para fazer valer a segunda chance que Terry lhe deu. Mas isso também não aconteceu. Tudo o que houve foi a sua decadência, a queda em espiral, rumo ao fundo do poço.

Nikki percebeu que, involuntariamente, enquanto divagava, ela acabou tomando o rumo para sua casa. Já era hora de voltar, afinal, mesmo brigando com os pais, ela não tem outro lugar para ir.

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