Capítulo 05

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Paralisada diante o meu colega de trabalho, apenas observo-o, sem saber ao certo o que dizer e muito menos o que fazer. O mundo não pode ser tão pequeno assim ou pode?

Céus, não é possível!

De tantos lugares, de tantos momentos, Jackson tinha que aparecer justamente agora? Mas que porcaria de timing é esse? Isto é, se realmente esse encontro for pura casualidade, o que, sinceramente, eu torço para que seja. Do fundo da minha alma, eu espero que Jackson não tenha visto John e eu juntos, e por isso esteja aqui.

Entre todas as alternativas prováveis, antes que o meu coração exploda por bater mais rápido do que já está e eu caia dura no chão desse mercado, eu prefiro acreditar que é somente uma coincidência. Pois, se ele nos flagrou, só posso considerar um desastre.

Com a expressão gentil de sempre e os cabelos agora castanhos, Jackson sorri, ajeita a cesta de compras na mão e então diz:

– Oh, então é você mesma! Por um minuto, achei que estava me confundindo, principalmente porque está usando esse boné e também óculos escuros. – sorri mais uma vez, tocando a aba do boné – O que está fazendo aqui? Está acompanhada?

– Eu? Ah... – pigarreio, tentando manter a calma e soar o mais normal que consigo – Não, estou sozinha. Tive um compromisso nas redondezas e resolvi comprar algumas coisas que estão faltando em casa. E você, o que faz por esses lados?

– O mesmo que você. Estou voltando da casa de um amigo e resolvi aproveitar para fazer algumas compras, já que é caminho para a minha casa, de qualquer forma.

Consinto e fico calada. Meu coração aos poucos vai se acalmando, ainda que a tensão esteja pensando em meus ombros. Jackson parece alheio a situação, não vejo repreensão ou desconfiança em seus olhos, o que significa - assim espero - que ele não faz a mais vaga ideia de que estou aqui com um de nossos alunos. O mesmo com o qual mantenho um caso secreto há meses e se encontra a poucos passos de nós.

Disfarçadamente, olho por cima de seu ombro e noto que Johnie continua entretido escolhendo as verduras. Ainda não percebeu a presença do outro e isso me dá a chance de acabar com essa conversa o mais rápido possível. E é exatamente o que irei fazer.

Bem, o que eu pretendia, pelo menos.

– Como está passando o recesso? Conseguiu participar daquele campeonato de bicicleta que mencionou?

– Aproveitando o máximo que posso. Descansando bastante. – dou-lhe um sorriso forçado. De fato, não é mentira, mas estou descansando a minha maneira – Quanto ao campeonato, eu consegui participar e fiquei em quarto lugar.

– Sério?

– Sim, sim.

– Parabéns!

– Muito obri...

Minha voz trava na garganta assim que deparo com o olhar de John direcionado a nós. As sobrancelhas franzidas e o maxilar rígido demonstram que não está gostando nenhum pouco da proximidade desse "estranho", que sequer imagina que é, ninguém mais e ninguém menos, do que seu professor de matemática.

Vejo-o largar as compras sobre a bancada e fazer menção de se aproximar, e no mesmo instante lhe mando uma súplica silenciosa para que não o faça. Ele detém o passo, por mais contrariado que esteja. Seus intensos orbes escuros observam-me, buscando explicações, mas como posso dá-las se qualquer movimento em falso e somos descobertos? Que angustiante!

A cada segundo que passa, o meu nervosismo só aumenta. Embora esteja de costas, nada impede Jackson de virar e encontrar o seu (nosso) aluno nada feliz, e se eu tiver que continuar trocando mensagens subliminares para que aquele coelhinho teimoso não chegue perto, daí que o meu colega ficará mais tentado a olhar para trás.

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