Bato com a cabeça na parede, confusa com tudo o que acabo de descobrir.
Isso quer dizer que o Andrew não foi o verdadeiro culpado? Que foi apenas um boneco nas mãos de outra pessoa? Não, não. Se ele concordou em fazer tudo o que fez, mesmo que tenha sido a mando de alguém, significa que é tão culpado quanto.
Afinal, ele poderia muito bem ter negado, certo?! Ou será que não?
Bem, indiferentemente de qual for a razão por trás de seus atos, não creio que fará com que seja menos responsável. Ele tem a sua parcela, de qualquer forma.
O que me leva ao segundo problema: se ele agiu com alguém, Deus, quem mais sabe que John e eu temos um caso? Isso é o que realmente me assusta agora.
Escorada o máximo que consigo na porta, sem denunciar a minha presença, volto a aproximar a orelha da madeira para saber o que falam. Meu lado bisbilhoteiro está mais ativo do que nunca. Sei que se eu for pega ouvindo conversa alheia, posso ser repreendida e ainda ficar com uma fama pior do que já tenho, mas eu não sairei daqui até saber o que de fato está acontecendo. É algo que envolve não só a mim, como ao John também. Eu tenho que correr este risco.
– Apesar de tudo o que fizemos, eles ainda estão juntos. – ouço-o dizer, cessando os seus passos – O que só confirma o que venho tentando lhe dizer desde que enfiou essa ideia estúpida na cabeça e por pura birra não quis escutar. O John ama verdadeiramente a professora Clara. Ele nunca se comportou dessa maneira por causa de uma mulher antes, nem mesmo por você, que tanto dizia ser a queridinha dele.
– O Johnie não ama aquela vadia velha! – ela grita, aparentemente contrariada.
Eu rio, desacredita. Mas quem essa piranha pensa que é?
A vontade de olhar para a cara da infeliz que acaba de dizer o que não deve, sobe em mim como labaredas. Mas, com muito custo, eu a detenho. Se souberem que estou aqui, vão parar de falar e assim não saberei de mais nada.
Preciso me acalmar. Tenho que me acalmar.
– Desde quando John Berryann ama alguém, Andrew? Hã? – a voz da bendita soa outra vez – Esse casinho ridículo com aquela professorazinha de quinta, que se acha a salvadora da Terra, não é mais do que um dos joguinhos dele.
– Você sabe que não é. E mesmo que fosse, ele está feliz com ela, enquanto você está aqui se remoendo de raiva. – o garoto diz e, inevitavelmente, deixo um sorriso escapar – Por favor, vamos parar logo com esse absurdo. Deixe que o Johnie viva a vida dele e vamos viver a nossa. Como eu disse, temos coisas mais importantes para...
– Eu não vou entregá-lo tão facilmente para aquela mulher.
– Você não tem que entregar o John. Ele sequer foi seu um dia, para que pudesse entregá-lo a alguém. – Andrew solta o ar com força e novamente seus passos ressoam na sala – Aquela época passou, não consegue entender?!
– Sempre fomos nós três, e então essa maldita Clara apareceu...
– Mas agora somos nós dois. – ele interrompe, um tanto nervoso – Nós dois e...
– Eu não quero que seja apenas nós dois!
– Só que as coisas são assim, droga! Uma hora ou outra iria acontecer, e poderia ser com qualquer um de nós. Você deveria estar feliz que o Johnie finalmente encontrou alguém que faz o coração dele bater e que também o cuida.
– Eu deveria cuidar dele, assim como...
– Você tem a mim, não é o suficiente? – pergunta e noto o seu timbre amargurado.
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Inabalável
Roman d'amourSe apaixonar não estava nos planos de Clara, especialmente por um de seus alunos do Terceiro Ano. Mas aconteceu e é recíproco. John Berryann também se rendeu ao sentimento e os dois vivem um relacionamento escondido dos olhos de todos, sob as fachad...