Capítulo 17 - Por John

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Desde que Clara me contou sobre o tal ex-namorado e os abusos que sofreu nas mãos deles, eu não consigo tirar esse assunto da cabeça. 
Apesar de ter conseguido afastá-lo por algum tempo enquanto conversávamos e fazíamos amor outras duas vezes ("uma e meia", já que fomos interrompidos pela ligação do Sebastian), sua confissão está me perturbado tanto que nem mesmo o fato de estarmos em um hospital no meio da noite faz com que os meus pensamentos parem de girar em torno disso.
Depois de quase uma hora, esperando Sebastian desgrudar da namorada, entro para visitar a Manu e fico feliz por vê-la bem. Trocamos algumas palavras, mas prefiro não prolongar muito. Ainda que se mostre mais disposta, sei que precisa descansar e também que o meu amigo está se coçando para estar com ela de novo.
Passamos um pouco mais de duas horas no hospital e deixamos que Seb tome conta da Manu, sendo o seu acompanhante no quarto, uma vez que não temos muito mais o que fazer para ajudá-la. Nos despedimos dos dois e digo que podem ligar para mim ou para a Clara, no caso de precisarem de alguma coisa.
Decidimos descansar o restante da noite na minha casa. Assim que chegamos, quase as duas da manhã, tomamos um banho juntos e depois eu coloco o seu uniforme e o meu para lavar. Afinal, as aulas de sábado ainda não terminaram. 
Quando nos deitamos, eu abraço Clara junto ao meu corpo e beijo os seus cabelos. Posso notar como está cansada e, ainda que a sua pele nua contra a minha seja muito estimulante e desperte o meu desejo de terminar o que Sebastian interrompeu, também preciso de descanso. Amanhã - hoje, na verdade - será um longo dia.
Então, aconchego minha tão amada namorada, que agora ressoa baixinho, entre os meus braços e me entrego ao cansaço. Logo adormeço.
[...]
Acordo sobressaltado pela segunda vez. As imagens daquele verme encostando nela e o som do seu choro, ainda tão vívido, me deixaram agoniado. Com uma sensação ruim no peito. Não vou conseguir mais dormir, tenho certeza disso. Se esse pesadelo me assombrar outra vez, sou capaz de sair e ir caçar aquele maldito agora mesmo.
Deitado ao lado de Clara e mantendo o seu corpo tão próximo quanto é possível, observo o seu sono pelo o restante da madrugada, pensando em como um cara teve coragem de agir de maneira tão violenta com ela. 
Mesmo que eu tenha tentado empurrar esses pensamentos para o mais longe possível, imaginar a minha Clara sendo machucada, tanto física quanto psicologicamente, faz com que eu fique com ainda mais vontade de enterrar o meu punho nos dentes daquele filho da puta, e quebrar cada um de seus dedos para que ele aprenda a nunca mais encostar numa mulher.
Mas, eu não posso. Merda! Eu não posso!
Quer dizer, eu prometi a Clara que não me envolveria em confusão e que - totalmente a contragosto - deixaria que as pessoas continuassem acreditando que Jackson é o seu namorado, isso até aquele cretino dar o fora.
Porém, em momento algum eu prometi que não me vingaria e estou contando com essa "falha nas regras" para colocar o tal Adrian no lugar onde ele merece. E se depender de mim, vai ser com a cara enfiada na merda. Se for no sentido literal, melhor ainda.
De qualquer forma, por enquanto, eu não vou pensar nisso. Hoje à noite é a minha apresentação no bar e tenho que estar preparado. Uma coisa de cada vez. Assim que o final de semana passar, vou começar a lidar com esse assunto.
Sua hora vai chegar, babaca, mais cedo ou mais tarde.
Embora o meu sono não tenha sido dos melhores, me empurro para fora da cama assim que o despertador toca e vou me aprontar. Uma vez que estou arrumado, acordo Clara para que também vá se arrumar e vou preparar o café da manhã enquanto ela toma o seu banho.
Comemos juntos, do jeito que adoramos fazer quando temos a oportunidade, mas acabamos nos separando para ir ao colégio. Eu pego o ônibus e ela um táxi.
– Aqui está o nosso futuro astro da música. – Andrew diz, assim que ponho a bolsa sobre a mesa – Ansioso para a apresentação dessa noite?
– Você sabe que sim.
– Vai ficar ainda mais, por que estaremos todos lá. Na primeira mesa. – Jimmy sorri e me dá um soco fraco no ombro depois que sento – A propósito, o Sebastian vai? Ou melhor, você sabe porque ele não apareceu hoje?
Conto para eles o que aconteceu ontem à noite e que talvez o nosso amigo não apareça no bar para a apresentação, mas nenhum deles vê mal algum nisso.
– A profe... Ela também vai? – Matt cochicha, para que ninguém além de nós escute.
– Vai sim. Por isso não espalhei que me apresentaria. Não quero nenhum problema.
– Você está certo.
Quando o professor entra na sala, cessamos a conversa. O restante do pessoal toma os seus lugares e, enfim, a aula começa. 
Ao longo de toda a manhã, não paro de pensar na apresentação. Nela e naquele outro assunto não resolvido. Porém, o nervosismo causado pela expectativa dessa noite fala mais alto. Fico repassando mentalmente as letras das canções que pretendo cantar hoje e a sequência que combinei com os outros músicos que me acompanharão.
No intervalo e até o final do período, a mesma coisa. Me deixo levar e suspiro de alívio ao escutar o sinal bater, liberando para irmos embora.
É, acho que estou mais nervoso do que imaginava.
– Então, nós encontramos você mais tarde. – Austin fala, junto aos outros quatro.
– Ok. Eu estarei esperando por vocês.
Nós nos despedimos e eu entro no primeiro ônibus que aparece, em direção a minha casa. Não posso perder tempo, pois ainda tenho muito o que organizar até a noite.
Durante a tarde, quase surtando por não saber o que fazer primeiro, tenho o meu momento de puro estresse interrompido pelo som do celular. É uma mensagem da Clara: "Fique calmo e faça o que precisa sem pressa. Vai dar tudo certo".
Como um tremendo idiota, eu sorrio para a tela do aparelho e suspiro. Ela tem razão. Preciso ficar tranquilo ou tudo vai por água abaixo antes mesmo de começar.
Perto das sete, vou para o banho. Fico mais tempo do que o normal debaixo do chuveiro. Assim que saio e termino de secar os cabelos, visto uma das minhas calças jeans escuras, uma camiseta branca e a jaqueta de estampa camuflada que comprei há tempos e nunca tomei vergonha na cara para usar. Coloco os tênis pretos e me dou por satisfeito. Não sei se é o melhor visual, mas é o que tem pra hoje.
Pego o violão e saio de casa. Decido ir de táxi, já que estou com volume extra e também para não me atrasar. Ainda tenho que conversar com o dono do bar e repassar o som com os outros caras antes da apresentação. Nem acredito que isso está mesmo prestes a acontecer. Minha primeira apresentação em público.
– Oh! Aí está você, meu garoto! – o dono do pub, um cara chamado Daniel, me cumprimenta – Está pronto para essa noite?
– Acredito que sim. – tento sorrir, mas deve ter saído uma careta muito bizarra, porque o homem dá risada. 
– Venha, vou te levar até o palco. Os seus companheiros já chegaram e vocês podem repassar o som. O bar abre apenas as oito e a apresentação começa as nove.
Consinto e me deixo ser guiado local adentro. Christian e Lucas são os músicos que fazem a percussão para os "artistas" que se apresentam aqui. São, respectivamente, o tecladista e o guitarrista. De primeira, já nos demos muito bem e agora não é diferente. Nos cumprimentamos e logo estamos repassando o som em meio a risadas.
Fico tão empolgado com o nosso pequeno ensaio, que sequer percebo quando o pub é aberto e algumas pessoas nos observam de suas mesas. Assim que terminamos a última canção do repertório dessa noite, olho para o relógio e vejo que são oito e vinte. Ou seja, mais quarenta minutos e será pra valer.
– Mais um! Mais um!
Viro o pescoço na direção da pessoa que grita, e dou risada ao notar que é Andrew. Literalmente ocupando a primeira mesa na frente do palco, ele está ao lado de Jimmy, Matt, Austin e Lowell. Rostos conhecidos, afinal. Bem, nem todos. Onde está Clara?
– Pode descansar um pouco, John. Quando o horário estiver perto, nós chamamos. – Christian avisa e eu concordo – Nos fundo, tem um camarim. É pequeno, mas aconchegante. Pode ficar por lá, se quiser.
– Ah, obrigado.
Precisando de um tempo sozinho, aceno para os meus amigos e aponto para os fundos, mencionando que ficarei por lá até o horário da apresentação.
Eu me refugio no pequeno camarim improvisado que o dono do pub fez e que deduzo já ter sido um depósito, e deixo que o meu nervosismo enfim venha à tona novamente. Estou com os nervos à flor da pele. Ainda que eu esteja feliz com a oportunidade, não posso mentir e dizer que estou completamente preparado para tocar na frente de um bar, que, se bem consigo ouvir daqui, parece ficar cada vez mais lotado.
– Respira fundo, John. – digo a mim mesmo, numa tentativa de encorajamento – Relaxa! Relaxa, que vai dar tudo certo.
Repito essa frase como um mantra dentro da minha cabeça. Repito e repito.
De repente, a porta se abre e Clara põe a cabeça timidamente pela fresta, procurando por mim. Finalmente, quem eu precisava ver! 
Ela me dá um lindo sorriso, aquele que eu tanto gosto, e eu não posso deixar de sorrir também. Ainda que não seja a sua intenção, ela está tão adorável com metade do rosto escondido do lado de fora, que simplesmente não posso pensar o contrário. 
– Posso entrar ou o artista está muito ocupado com a preparação?
Solto uma risada e me aproximo para abrir completamente a porta.
– Para você, nunca. – pego em sua mão e a puxo para dentro – Estou tão feliz que esteja aqui, meu bem. A propósito, você está linda!
Usando um short jeans e uma blusa lilás de mangas compridas, Clara está divinamente maravilhosa. Seu pescoço está pecaminosamente tentador por causa do cabelo preso.
– Eu não perderia a sua primeira apresentação por nada. Quem seria eu se faltasse a estreia do meu futuro astro da música?
Meu sorriso aumenta e eu a beijo com todo o meu coração. Francamente, nada faria sentindo se ela não estivesse aqui para compartilhar esse momento comigo.
Assim que nos afastamos, ofegantes como só os nossos beijos nos deixam, ela esfrega as mãos em meus ombros por debaixo da jaqueta e diz:
– Você está muito tenso, coelhinho.
– Não vou mentir. Estou nervoso pra caralho!
– Tenho certeza de que vai se sair bem. – acaricia os meus cabelos, a lateral do meu rosto, até parar no sinal que tenho abaixo do lábio inferior. Onde beija suavemente – Você fará uma apresentação incrível. Não se preocupe.
Suas palavras doces me acalmam. Bom, ou perto disso. Apesar de estar mais "tranquilo", continua sendo a minha primeira apresentação na frente de dezenas de pessoas. Uma coisa é cantar para uma câmera ou os meus amigos, outra é fazer isso diante vários desconhecidos.
Tudo bem que eu quero um dia estar em um grande palco, na frente de milhares de fãs, mas nem isso me impede de estar tremendo de ansiedade. Me pergunto como será o meu primeiro show quando eu finalmente estrear como um profissional. 
Sentada no sofá, Clara me observa enquanto ando de um lado para o outro, sem pretensão de parar. Falta menos de meia hora para entrarmos no palco e já perdi as contas de quantas vezes aqueci a voz desde que entrei aqui. 
Como o violão está com os outros instrumentos, não pude ensaiar mais um pouco com ele, o que piora as incertezas que pairam sobre a minha cabeça. E se eu errar as notas? E se eu não conseguir seguir o ritmo com a minha voz? E se? E se?
– Johnie.
Olho para o lado e tomo um leve susto ao vê-la tão perto - mesmo que o camarim minúsculo contribua para tanta proximidade.
Sem permitir que eu faça qualquer pergunta, ela me beija e em segundos estou desnorteado no vício que são os seus lábios. Do jeito que me deixa doido, segura firme os fios do meu cabelo e me devora. Chupa a minha língua, o meu lábio, e o morde dando aquele sorrisinho sacana que faz o meu pau endurecer num instante.
– O que...
– Ssshhh!
Retoma o nosso beijo, tão quente quanto como começou. Submerso em um mar de sensações, não demonstro qualquer resistência ao sentir o seu corpo levar o meu para trás. Em poucos passos, esbarro e caio sentado no sofá. Meio zonzo, observo-a de pé na minha frente e o seu olhar ardente penetra a minha alma. Endureço mais.
Como uma verdadeira predadora, Clara se debruça sobre mim e agarra outra vez os meus cabelos. Puxando com certa força, me obriga a erguer a cabeça e lambe o meu pescoço até chegar ao lóbulo da minha orelha e prende a argola que costumo usar nos dentes. Posso sentir como brinca com ela dentro da boca, enquanto suspira bem rente ao meu ouvido, me fazendo vibrar de tesão.
Ah, porra! Como gosto quando geme.
Fecho os olhos no momento em que seus dedos escorregam na minha garganta, sobre o meu pomo de Adão, que sobe e desce em expectativa, e seguem através do meu peito sob a camiseta branca. Seu toque me arrepia por completo.
Uma fisgada forte no baixo ventre me faz respirar profundamente. Estou com o pau tão duro, que poderia facilmente estourar o zíper da minha calça jeans. E isso nem é o pior. Como raios eu vou entrar no palco com uma ereção dessas?
– Calma, coelhinho. – como se lesse os meus pensamentos, Clara sussurra com um tom de voz malditamente sensual – A professora vai te ajudar a relaxar.
Meu coração bombeia rápido, enviando sangue para o único ponto do meu corpo que parece funcionar. 
Assim que volto a abrir os olhos, encontro Clara agachada diante mim e, num movimento rápido, afasta as minhas pernas e se põe entre elas. Suas mãos sobem desde os meus joelhos, fazem pressão em minhas coxas, e param na braguilha da calça. Meu pênis pulsa forte e eu simplesmente acho que desaprendi a respirar como uma pessoa normal.
– Coelhinho mimado. – ainda usando seu timbre libidinoso, solta o botão e então desce o zíper. Quando liberta o meu pau, deixo que um gemido vá junto – Ora, ora... Você está todo molhado, Johnie.
Eu rosno, feito um animal. Se ela soubesse o quão enlouquecedor é ouvi-la dizer o meu apelido com esse tom safado e como tenho vontade de pegá-la com força até que não consiga andar por vários dias, sem dúvida, ela pensaria duas vezes antes de falar.
Se bem que, tratando-se dela, tenho certeza de que é exatamente o que quer.
Seu polegar desliza na minha glande úmida, espalhando o líquido seminal vem cada vez mais, acariciando a fenda por onde ele sai e a apertando devagar. Me levando dolorosamente ao prazer que só ela sabe me dar.
No instante em que fecha sua pequena mão em torno do meu mastro, perco todo o bom senso. Mas nada se compara com a sua boca cobrindo a cabeça do meu pau e sugando para dentro, tomando tudo de mim. Eu arquejo e instintivamente seguro o seu cabelo preso num rabo de cabelo. Os movimentos de sobe e desce, me engolindo, me saboreando, fazem como que eu me contorça inteiro. 
Abro mais as pernas e Clara pega as minhas bolas num carinho gostoso pra caralho. Enquanto me mama, diverte-se com os meus testículos e bate uma punheta com a outra mão, e sinto que o mundo poderia estar desabando lá fora e eu não daria a mínima.
Ofegando mais do que uma locomotiva, mexo os quadris para cima, querendo me abrigar ainda mais dentro da sua deliciosa boca, e ela me engole até o fundo uma e outra vez, me conduzindo a um orgasmo fodidamente maravilhoso.
– Onde você quer gozar? – pergunta, metendo uma das minhas bolas na boca e sugando, ao passo que me masturba com mais rapidez. Sabe que estou prestes a vir.
– Ah, porra! Na sua boca... Na boca...
Clara volta a me chupar e acariciar com a mão. Sua cabeça vai para cima e para baixo mais depressa do que os meus olhos entorpecidos podem acompanhar. E então eu gozo. Esporro com força e estremeço dos pés até o último fio de cabelo, sendo obrigado a morder o lábio para não anunciar ao bar inteiro que acabei de receber o boquete mais incrível da minha vida.
Minha devassa engole cada gota do meu prazer e é uma das cenas mais eróticas que eu poderia assistir. Instantaneamente, meu corpo amolece e deixo a cabeça cair no encosto do sofá, tentando recobrar a respiração. 
Embora meus olhos estejam pesados pelo orgasmo recente e fantástico, noto os joelhos de Clara avermelhados quando se levanta. Pego em sua mão e, fazendo um esforço tremendo, trago-a para perto e acaricio sua pele marcada. 
– Você está bem? – pergunto.
– Estou sim. – sorri e beija o topo da minha cabeça – E você, está mais relaxado?
– Eu? – solto uma risada satisfeita – Eu estava nervoso por algum motivo?
Ela dá uma gargalhada gostosa de se ouvir e leva as mãos até o meu instrumento agora flácido. Eu tremo de leve.
– Clara, definitivamente, eu não vou aguentar uma segunda rodada.
– E quem disse que eu vou fazer de novo, coelhinho tarado? – sorri e me ajeita dentro da boxer. Fecha o zíper e o botão do jeans – Só quero garantir que mais ninguém, além de mim, vai olhar para o Johniezinho aí embaixo.
– Sério que você acabou de chamar o meu pau de 'Johniezinho'?
– É um nome bonitinho.
– Sim, e que acaba com todo o meu orgulho masculino.
Clara dá de ombros e sou incapaz de não rir. Ok, acho que posso conviver com isso.
Ponho minha mulher no colo e a beijo. Ficamos trocando carinhos durante alguns minutos, até uma batida na porta soar. Lucas surge detrás dela.
– Oh! Desculpa, eu...
– Tudo bem. Só estamos conversando.
"Se você não se atentar aos nossos cabelos bagunçados e rostos provavelmente corados, além da minha cara de quem acabou de gozar, vai parecer isso mesmo".
– Entramos em cinco minutos. Você está pronto?
– Sim, sim. 
– Ok então. Estamos te esperando aqui fora.
Faço um sinal de positivo e ele se vai. Clara levanta e me dá um último beijo.
– Como dizem no teatro: quebre a perna! – brinca e então sai.
Dou um jeito no cabelo, na roupa amarrotada e respiro fundo. É agora! 
Abro a porta e vou em direção ao palco. O lugar está realmente lotado e aquele friozinho na barriga me acerta. Avisto minha linda mulher sentada na mesa da frente e, de imediato, o nervosismo desaparece.
Ela é o meu amuleto da sorte. O meu tudo.
– É a sua namorada? – Lucas pergunta, olhando-a de canto.
– É sim.
– Garoto de sorte! – me empurra com o ombro num gesto divertido e eu sorrio.
Tento ignorar que a maioria dos olhares estão sobre nós e passo a correia do violão atrás do pescoço. Me sento e ajeito o microfone para que fique na altura ideal. Verifico os últimos detalhes e é isso. Não posso mais ignorar ninguém.
– Boa noite! – eu digo, chamando a atenção de todos para o palco. Os olhos estão em mim – Olá, o meu nome é Johnie. Hoje é a primeira vez que me apresento aqui, então, antes de jogarem os ovos e os tomates, me deem uma chance. Ok?!
A galera dá risada e me sinto mais confiante. Opa, já começamos bem.
– Brincadeiras à parte, nós preparamos um setlist especial para essa noite. Espero que gostem. – posiciono os dedos nas cordas e faço uma vibração rápida para aquecer a voz, já que minha garganta fico seca por conta do gemido que eu tive que afogar enquanto gozava – A primeira canção de hoje é Chandelier, da SIA. 
Canto os primeiros versos perfeitamente e os meus dedos acompanham com os acordes. Me entrego a canção, as sensações que me provoca, e a melodia flui tão naturalmente como se fizesse parte de mim. Deixo-me levar. 
Não olho para ninguém, apenas para o violão. Eu e a música. É o que existe nesse momento; quando a última palavra sai da minha boca e ressoa através das caixas de som, palmas explodem por todo o bar. Finalmente ergo a cabeça e vejo todos aplaudindo, até mesmo os meus companheiros de palco.
O sentimento de satisfação que me atinge não poderia ser melhor.
Seguindo a sequência que ensaiamos, canto 'Lost Stars' do Adam Levine, seguida por 'Paper Hearts' da Tori Kelly e 'Fools' do Troye Sivan.
Algumas meninas acenam para mim e tentam chamar a atenção, mas eu só tenho olhos para a mulher sentada ao lado dos meus amigos, graciosa em seu short jeans e blusa lilás. E que me pagou um boquete delicioso só para que eu pudesse ficar mais relaxado e o meu nervosismo não estragasse tudo, ainda que apenas uns minutos ao seu lado fosse o suficiente - mas é claro que eu não negaria sentir aquela boca perfeita no meu pau.
Me preparo para tocar a próxima música: Whistle For The Choir, da banda The Fratellis, que ensaiei essas últimas duas semanas. Lucas que está me acompanhando no teclado, vai para a bateria e eu puxo o ar para soltar o primeiro verso.
Conforme vou cantando, meus olhos vagam pelo pessoal no bar e então recaem nela outra vez. Ali está, Clara, me assistindo tão admirada e tentando acompanhar a letra enquanto sorri ao notar que estou olhando diretamente para ela.

"Então se você está sozinha, por que você diz que não está sozinha?
Oh você é uma menina tola, eu ouço dizer
que é típico o seu vir e ir
E conhecer... você sequer me conhece
É doce você tentar, oh meu (Deus), você chamou minha atenção
Uma garota como você é simplesmente irresistível".

Ela continua acompanhando, me encarando com aqueles olhos redondos e brilhantes. cheios de orgulho. Meu peito se aquece. Como eu posso não amar essa mulher tão desesperadamente quanto já amo? 
Por um instante, me sinto mal por tudo o que lhe disse na noite passada, sobre ela se preocupar tanto com esse meu sonho de ser cantor. Sei que me desculpei, mas nunca será o bastante. Então eu vou me esforçar e chegar aonde for por ela.
Seja apenas em um pub com uma dúzia de pessoas ou num estádio lotado, eu farei com que ela sempre sinta orgulho de mim.
Assim que a canção termina, o bar inteiro aplaude de novo e uma voz vinda do fundo grita: "Você é perfeito!". Reviro os olhos disfarçadamente.
Tocamos mais três músicas e o dono do bar sinaliza que devemos fazer uma pausa. Largo o violão no apoio do palco e desço para a mesa onde a minha namorada e os rapazes estão. Embora eu queira muito beijá-la até perdermos o fôlego, apenas aperto gentilmente o seu ombro e lhe dou um sorriso largo, que é retribuído e me dá mais vontade de tomar a sua boca.
– Você foi fantástico! – ela diz, empolgada – Simplesmente incrível!
Eu enrubesço. Ficar vermelho na frente dos meus amigos não estava nos planos, mas não posso conter quando Clara é a causadora disso; reprimindo os meus impulsos de enchê-la de beijos mais uma vez, volto a sorrir e digo:
– Não é para tanto. Mas, de qualquer forma, muito obrigado!
– Vou concordar com a pro... Com a Clara. Você foi demais, cara! – Matt exclama e batemos os punhos fechados.
– Valeu...!
– Se eu não soubesse, diria que você já se apresenta a muito tempo. – Jimmy, dando um gole em sua cerveja, comenta.
– Tiraram a noite para me encher de elogios?! Hum... Acho que posso me acostumar com isso.
Rimos e continuamos a conversar animadamente. Isso até duas garotas surgirem ao meu lado, uma delas com o celular na mão. 
– Ah, olá. – a de cabelos curtos e avermelhados se pronuncia, meio envergonhada.
Um pouco desconcertado pela aproximação repentina, mantenho as mãos nos ombros da minha namorada e respondo:
– Olá.
– Nós queríamos saber se... Se podemos tirar uma foto com você?!
Abaixo a cabeça para Clara, agora realmente desconcertado, e ela pisca um olho.
– Ah, tudo bem.
– Você pode tirar? – a segunda garota empurra o celular para o Lowell, que sequer tem tempo de entender o que está acontecendo, menos ainda de responder.
Entre as duas, tento abrir o melhor sorriso enquanto o meu amigo dá alguns click's. Me despeço de ambas e, de repente, mais quatro aparecem próximo da nossa mesa. Antes que eu me dê conta, estou tirando fotos com mais gente do que o esperado.
– Iiiiiihhhh... Parece que alguém está saboreando os seus minutos de fama. – ouço Andy zombar e as vozes dos outros se erguendo para caçoar também.
No entanto, a única voz que eu não escuto é a de Clara. Será que está brava com todo esse assédio inesperado? Me desvencilho das pessoas e observo-a tomar um gole da cerveja que pediu. No instante em que seu rosto se ergue em direção ao meu, percebo o seu olhar brincalhão e fico mais calmo. Certo, não está incomodada - eu acho.
Consigo me livrar da pequena aglomeração formada ao meu redor, mas logo tenho que estar no palco de novo. Fico um tanto desanimado por não ser capaz de dar mais atenção a minha namorada e aos meus amigos, mas me convenço de que posso comemorar com eles depois de sairmos daqui. Clara me joga um beijo e eu retomo o meu lugar atrás do microfone. 
O restante da apresentação corre bem. A galera acompanha a maioria das músicas e até vejo algumas pessoas dançando pelos cantos. Terminamos perto das onze, depois de tocar a setlist completa. Digo algumas palavras de agradecimento e aviso que amanhã também estarei tocando, e noto certa animação feminina graças a isso. 
Daniel, o dono do bar, me parabeniza pela ótima performance e disponibiliza uma mesa mais reservada para que eu e os meus convidados possamos curtir sem que ninguém atrapalhe, como aconteceu no intervalo. 
Bebemos e tagarelamos até a uma da manhã, quando Clara e eu resolvemos ir para casa. Óbvio que os idiotas que eu chamo de amigos não perderiam a oportunidade de me encher o saco, falando o que não devem, mas eu apenas ignoro, enquanto ela sorri das besteiras que saem das bocas deles. 
Fico feliz que ela não se importe com o que dizem, porque é exatamente tudo o que eu vou fazer assim que colocarmos os pés no meu quarto (ou em qualquer outro lugar que o meu tesão me permitir chegar).
Depois de transarmos contra a porta da sala, no balcão da cozinha e eu retribuir o oral que ganhei no camarim, finalmente nos deitamos. Exaustos e saciados.
– Meu bem, posso perguntar uma coisa? 
– Sim. O que foi?
– Por acaso, você... Bem... Ficou chateada com aquelas garotas me rondando e pedindo por fotos? 
Clara apoia o queixo no meu peito e me encara por um instante. Preparo-me para a possível comida de rabo que estou prestes levar, mas ela sorri e beija bem em cima do meu coração. 
– Você é lindo e talentoso, Johnie. Impossível as garotas não quererem tirar uma casquinha. Além disso, se eu pretendo ser a namorada de um cantor famoso, acho que tenho que me acostumar com isso, não é?!
– Mas, não te incomoda?
– Contanto que você sempre volte para mim, claro, sem fazer nem um desvio no caminho. – sorri mais uma vez e me beija – Eu realmente não me importo. Afinal, quanto mais fãs você tiver, mais famoso será. Não é essa a lógica? 
Sou eu quem dá risada e, num impulso, prendo seu corpo debaixo do meu e a encho de beijos. Nossos olhares se encontram.
– Eu sempre vou voltar para você, meu bem. 
[...]
A apresentação de domingo também é um sucesso. Clara não pôde vir por causa da Manu, mas os meus amigos estão aqui, incluindo o Sebastian. 
Os assédios de ontem também acontece. Tiro fotos com uma dúzia de garotas enquanto Andy e Austin me infernizam com suas piadinhas. Como de costume, eu ignoro.
– Com licença, você é o rapaz que estava se apresentando com a banda, certo?!
Olho para cima e deparo com um cara, aparentemente bem mais velho do que eu.
– Ah, sim. Sou eu.
– Podemos conversar um instante?
Intrigado, me levanto e o acompanho até o balcão do bar. Ele pede uma bebida.
– O que gostaria de falar comigo? – pergunto. 
– Assisti sua apresentação desde que chegou e fiquei sabendo que ontem também foi um sucesso. O pessoal realmente gostou de você. 
– Obrigado.
– Por acaso, você já fez alguma audição? 
Lembro da audição que fiz a uns meses atrás e suspiro. Eu não passei, a resposta saiu na sexta. Fiquei tão chateado, que acabei descontando na Clara enquanto discutíamos. Uma coisa levou a outra. Agora estou tão envergonhado por ter misturado as coisas, que talvez o melhor seja continuar calado.
– Bem, respondendo a sua pergunta. Sim, eu já participei de uma audição. Mas não passei. 
– Então, você tem planos de seguir uma carreira profissional? 
Balanço a cabeça, sem entender onde ele quer chegar. De repente, o cara tira um cartão do bolso e empurra para mim sobre o balcão. Eu o pego.
– Você é realmente talentoso, John, e faria muito sucesso como profissional. 
Continuo olhando o cartão. Mas a curiosidade é maior.
– O que é isso? – indago.
– Uma audição que acontecerá no próximo mês, da agência na qual eu trabalho. O que acha de participar?
O que? Ele está me chamando para participar de uma audição? Tipo, pessoalmente?
– Eu...
– De verdade, você tem potencial. Acredito que essa é uma chance de começar a sua carreira. 
Meio atordoado, balanço a cabeça que nem um imbecil. Isso é realmente muito surreal. Trocamos mais algumas palavras e eu volto para a mesa.
Quando Jimmy pergunta o porquê do tal cara vir falar comigo, conto da proposta para participar da audição, e todos começam a algazarra. Nós brindamos com as cervejas a minha mais nova chance. 

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