Capítulo 09

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Manuela anda muito estranha ultimamente. Eu não sei o que aconteceu realmente, mas, levando em consideração que Sebastian também está com a mesma expressão de "cachorro abandonado" esses dias, não precisei de muito para entender que estão desentendidos. Agora, por qual motivo, eu não faço a mais vaga ideia.

Ainda que a curiosidade coce em mim, principalmente porque a minha amiga sempre teve o costume de desabafar quando algo lhe angustia e até então não o fez - o que só torna tudo mais estranho e me faz deduzir que foi algo bem sério -, prefiro dar-lhe espaço e esperar o momento em que esteja mais confortável para vir falar comigo. Da mesma maneira que age quando os papéis estão invertidos.

Se ela não quer se abrir por enquanto, eu vou respeitá-la, e dar todo o meu apoio.

Ajeito o coque em meus cabelos mais uma vez, tendo certeza de que está bem preso, e, como se fosse atraída, os meus olhos voam diretamente para a pequena presilha em forma de coelho sobre a cômoda. Sorrio. É o meu tesouro mais querido, cheio de boas lembranças.

Pego-a entre os dedos e consigo ver nitidamente o sorriso tímido e as bochechas coradas de John depois de colocá-la em minha mão. Seu olhar era tão apaixonado, que senti como se todas as minhas escolhas tivessem sido feitas apenas para que eu estivesse ali, naquele momento. Sendo preenchida por um amor que eu sequer poderia imaginar receber ou sentir na vida. Pelo menos, não depois de tudo o que passei a três anos atrás.

Mas agora é diferente. Tudo é diferente.

Aquela época já ficou no passado e a minha redoma de gelo foi completamente quebrada pelo calor do meu lindo menino de olhos escuros. Com ele, eu aprendi que esse sentimento pode ser tão lindo e pleno, e bom. Especialmente bom.

Sim, com ele.

Meu aluno, meu amante, meu antigo rival.

Com carinho, prendo a mecha longa da franja com o pequeno coelhinho e me olho no espelho. É a primeira vez que vou usá-la para ir ao trabalho e sei que chamará uma atenção desnecessária, sobretudo durante a reunião com o novo investidor, mas tudo valerá a pena quando eu receber o olhar surpreso de Johnie ao notá-la. Tenho certeza de que sua reação será impagável, visto que eu disse que preferia usar somente na rua.

– Manu, está pronta? – grito, alisando a saia para esticá-la.

Sua resposta não vem. Suspiro. Espero que ela não esteja fazendo a mesma coisa que tem feito nos últimos dias.

Pego a minha bolsa e parto para o quarto ao lado do meu, encontrando Manuela dispersa, encarando a janela fechada e as bochechas levemente úmidas.

Okay, estava chorando. De novo.

– Manu?

Ela se vira e, como se acordasse para a realidade, seca rapidamente as poucas lágrimas que ainda escapam de seus olhos. Sorri sem graça.

– Oh, desculpe! Já está pronta? – pergunta.

– Sim. – largando a bolsa sobre a cama, me aproximo e a tomo em um abraço apertado – Vai ficar tudo bem, huh?! Não chore mais.

– Clara...

– Eu amo você e fico triste por vê-la assim. Sei que não quer conversar, embora eu já suspeite do que se trata, mas sabe que estou aqui para ouvi-la. Sempre vou estar.

– Eu sei.

– Enxugue esses olhinhos lindos e 'bora pra frente, certo?! A apresentação está chegando e não queremos um remake de Titanic no palco, né?! Todo mundo afundando nas suas lágrimas.

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