Nós nos levantamos e voltamos para o corredor. Havia outros murais de avisos repletos de mais anúncios sobre aulas que nem tinham começado ainda: lembretes para comprar cartões do metrô, livros, e para pegar materiais na biblioteca.
- O salão comunitário - disse Claudia, abrindo portas duplas. - Você vai passar bastante tempo aqui.
Era um salão gigantesco, com uma lareira enorme. Havia uma televisão, um monte de sofás, algumas mesas de estudo e várias de almofadas espalhadas pelo chão. Ao lado do salão havia uma sala de estudo cheia de mesas, e depois outra sala, com uma mesa grande para estudos em grupo, e então uma série de salas de estudo cada vez menores, algumas com apenas uma cadeira acolchoada ou um quadro branco na parede.
Depois dali, subimos três andares de largos degraus grandes que rangiam. Meu quarto, o de número vinte e sete, era bem maior do que eu esperava. O teto era alto. Havia janelas amplas, cada uma com o retângulo de sempre mais um semicírculo de vidro em cima. Um fino tapete bege fora colocado no chão. A luz refletida do teto era ótima, vinha de grandes esferas que pendiam de uma estrutura prateada com sete braços. E o melhor de tudo: havia uma pequena lareira. Parecia que nem funcionava, mas era incrivelmente linda, com uma pequena grade de ferro e ladrilhos azul- escuros. A parte de cima da lareira era grande e profunda, com um espelho logo acima.
Mas o que realmente chamou a minha atenção foi o fato de que havia três de cada coisa. Três camas, três escrivaninhas, três armários, três estantes de livros.
- É um quarto triplo - falei. - Só recebi o nome de uma colega de quarto.
- Isso, você vai ficar com a Camila Cabello. Ela faz natação.
A última informação foi dada com um toque de irritação. Estava ficando bem claro quais eram as prioridades de Claudia. Em seguida ela me mostrou uma pequena cozinha ao fim do corredor. No canto havia um bebedouro que oferecia ou água gelada ou fervendo ("assim você não precisa de chaleira"). Havia também uma pequena lava-louças e uma geladeira bem, bem diminuta.
- O frigobar é abastecido diariamente com leite e chá gelado - informou Claudia. - A geladeira é apenas para bebidas. Não se esqueça de etiquetar as suas com seu nome. É para isso que serve o pacote com duzentas etiquetas em branco na lista de material escolar. Sempre haverá algumas frutas e cereal aqui, para o caso de você sentir fome.
Então fizemos o tour pelo banheiro, que se revelou o ambiente mais marcante de todos. Era gigantesco, com um chão azulejado branco e preto, paredes de mármore e grandes espelhos. Havia armários de madeira para nossas toalhas e itens de higiene. Pela primeira vez consegui imaginar todas as minhas futuras colegas de classe ali, todas nós tomando banho, conversando e escovando os dentes. Eu ia ver minhas colegas de quarto só de toalha. Elas iam me ver sem maquiagem, todos os dias. Aquilo não tinha me ocorrido antes.
Tentei afastar o medo enquanto voltávamos para o quarto. Claudia continuou recitando regras por mais uns dez minutos. Tentei memorizar sobre tudo de que precisaria lembrar. Tínhamos que apagar as luzes às onze, mas podíamos usar computadores ou outras luzes menores depois desse horário, desde que não incomodássemos as colegas de quarto. Só podíamos colar coisas nas paredes usando algo chamado Post-its (também na lista de material).
Era preciso usar os blazers do uniforme para as aulas, os encontros gerais e o jantar. Não precisávamos usá-los no café da manhã nem no almoço.
- A programação do jantar é um pouco diferente esta noite, já que são só os monitores e você. Será às três. Vou mandar a Spencer vir buscá-la. É a monitora-chefe.
Monitores. Essa eu sabia. Era tipo o conselho estudantil, só que com superpoderes. Aqueles que devem ser obedecidos. A monitora-chefe era a chefe de todas as monitoras. Claudia foi embora, batendo a porta ao sair. E então era só eu. Num quarto grande. Em Londres.
Oito caixas aguardavam no chão. Eram minhas coisas novas, minhas roupas para o ano: dez vestidos brancos, três saias cinza-escuras, um blazer de listras cinza e brancas, uma gravata bordô, um suéter cinza com o brasão da escola no peito, doze pares de meias cinza que iam até o joelho. Havia também outra caixa, com uniformes para o treino diário da educação física: duas calças de corrida cinza-escuras com listras laterais brancas, três shorts, cinco camisetas cinza-claras com WEXFORD escrito na frente, um casaco de corrida com o brasão da escola. E sapatos: enormes e deselegantes; pareciam pertencer ao Frankenstein.
Evidentemente, eu tinha que colocar o uniforme. As roupas estavam duras e amassadas por estarem dobradas. Tirei os alfinetes dos colarinhos das camisetas e as etiquetas da saia e do blazer. Vesti tudo, exceto as meias e os sapatos. Então coloquei meus fones de ouvido, porque acho que um pouco de música sempre ajuda a gente a se adaptar. Não encontrei nenhum espelho de corpo inteiro para avaliar o resultado final. O espelho acima da lareira me permitiu uma visão razoável. Mas eu ainda precisava ver o todo. A situação pediu um pouco de engenhosidade. Tentei ficar em pé na ponta da cama do meio, mas era muito longe, então a empurrei para o centro do quarto e tentei mais uma vez.Agora eu tinha a visão completa. O resultado era bem menos cinzento do que eu imaginara. Mas a melhor parte, sem dúvida, era a gravata. Sempre gostei de gravatas, mas me parecia algo muito exagerado para usar. Eu a afrouxei, virei ela de lado, enrolei-a em volta da cabeça - queria conferir todas as variações do meu visual.
Foi quando, de repente, a porta se abriu. Dei um grito e arranquei os fones do ouvido. A música se espalhou pela sala. Quando me virei, vi uma menina alta parada à porta. Ela tinha cabelo castanhos preso no alto de um jeito extremamente complicado, mas ainda assim casual, a pele clara e, uma pele perfeitamente sem nenhum defeito. O mais notável era a postura dela. Seu rosto era comprido, terminando num queixo um pouco fino, que ela apontava para o alto. Era uma dessas pessoas que realmente anda com os ombros para trás, como se isso fosse normal. Ela não estava de uniforme. Usava uma saia azul com uma camiseta cinza.
- Você é a Michelle? - perguntou ela.
Mas a garota não esperou que eu confirmasse se era a tal "Michelle" que ela estava procurando.
- Meu nome é Spencer - apresentou-se. - Vim buscá-la para o jantar.
- Será que eu devo - apertei uma parte do uniforme, na esperança de que isso desse a entender o verbo pretendido - me trocar?
- Ah, não - disse ela, animadamente. - Assim está bom. É pouca gente. Vamos lá!
Ela esperou até eu descer desajeitadamente da cama, pegar meu cartão e minha chave e calçar meu chinelo.
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A Sombra da Estrela
Mystery / ThrillerNo mesmo dia em que o primeiro de uma série de assassinatos brutais acontece em Londres, a norte-americana Lauren Jauregui chega à cidade para começar uma nova vida em um colégio interno. Os crimes ocorridos parecem imitar as barbaridades de Jack, o...