Saudade

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   Acordo no dia seguinte e me deparo com a maré alta. Olho para a Sophie e ela está dormindo tão plenamente. Vejo que o mar está se aproximando de nós duas e começo a nos empurrar para trás, tentando deixar ela dormindo. Encosto em uma árvore enquanto seguro ela no colo. Ainda é difícil pensar em mim sem o Andy. Talvez eu me jogasse no mar, e esperaria ele me levar, se não fosse essa menininha no meu colo. Olho para ela enquanto acorda e logo me abre um sorriso. Por mais que esteja machucada, ela consegue sorrir para mim e corre para ver se meu pé melhorou. Ela percebe que não, mas me dá um beijo na bochecha alegando que tudo vai dar certo. Ela sorri e vai montar um pequeno castelo depois de comer algumas frutas. E todos os dias parecem a mesma coisa. Ele nunca volta, meu pé nunca melhora e ela sempre está sorrindo para mim. Passam-se mais 5 dias. Eu estou dormindo e uma luz começa a passar em nossos rostos. Um som ensurdecedor está se aproximando da água. É um helicóptero. Sorrio feliz, e tento acordar a Sophie, mas ela não abre os olhos. Me aproximo do seu corpinho, a abraço e consigo sentir ela gelada. Meu corpo todo estremece de medo. Sinto o terror invadir cada músculo do meu corpo. Preciso fugir dessa realidade. Eles se aproximam de nós duas, e nos levam para o helicóptero de resgate.

   -É somente vocês duas? –Uma mulher um pouco alta se aproxima de mim e sorri.

   -Não. Meu noivo está desaparecido. –Eu estou em choque ainda e não consigo parar de chorar.

   -Calma, iremos achar ele. -Ela se abaixa e me abraça. – Tente dormir um pouco.

   -Ela está morta, né? –Eu olho para a Sophie que ainda está deitada com uma coberta em cima de todo seu corpo.

   -Apenas tente dormir. –Ela disse me deitando enquanto voltávamos a voar.

   Em poucos minutos estava dormindo. Sono turbulento, cheio de pesadelos, mas ainda assim eu luto para não abrir meus olhos. Sinto quando pousamos, mas mesmo assim prefiro não abrir meus olhos. Me pegam no colo, e eu me escoro no colo de quem estou. Saímos do avião e eu posso ouvir a minha mãe gritar meu nome. Continuo e olhos fechados. Sou colocada em uma maca, e ligam o sinalizador da ambulância. Estamos correndo, e eu não vou abrir meus olhos. Por mais que eu não queira, me são um anestésico e agora eu não sei quantas horas já se passaram.

   Quando acordo, estou sentada na cama do hospital, e o Marcelo está na minha frente. Ele sorri, e por mais que tudo tenha acontecido, ele se aproxima e me aconchega em um abraço. Não consigo sentir nada além de tristeza. Meus pais falam e falam, mas é como se eu tivesse tapado meus ouvidos para tudo que eles possam falar. Suas bocas se movem, mas eu desejo não ouvir nada. Meu corpo se rebela, e eu me deito e desabo a chorar. Breve eu sinto suas mãos me tocarem, e me abraçam. Não sinto conforto.

   -Isabelly? –Consigo ouvir uma voz diferente adentrar o quarto.

   -Oi- Eu tentei me recompor.

   -A Sophie infelizmente não conseguiu sobreviver. Já o Anderson, ainda não foi encontrado. –Ele me olhou com uma cara de "sinto muito"

   -Ok. –Eu olho para ele.

   -Seu pé, já esta engessado. Conseguimos fazer o melhor e acho que você já consegue ir para casa. –Ele sorriu forçadamente para mim.

   -Poderia pedir um Uber ? –Eu me ajeitei na cama

   -Filha, mas a gente vai te levar pra nossa casa. –Meu pai se aproximou.

   -Eu não quero. –Eu virei meu rosto com raiva e fixei meu olhos nos deles.

   -Isa, quer ficar comigo? –O Marcelo me olhou com piedade.

   -Da última vez que você me fez um convite, foi para casar. Não sei se eu quero. –Eu olhei para minha perna.

   -Ok. –Ele sorriu.

   Fiz algumas ligações, recebi várias também. Meu melhor amigo sugeriu que eu morasse com ele por esse tempo, e eu, de prontidão aceitei. Em alguns minutos ele estava lá para me levar. Me despedi dos meus pais e saí com ele. Chegamos em casa, e ele logo arrumou as coisas para que eu ficasse confortável. Eu olhei para o caminho do banheiro e me lembrei da noite em que transamos ali. Sinto saudade. Eu não sei se verei ele de novo. Não tenho certeza se ele vai ser achado. Não quero perde-lo novamente. Nem posso.

   -Isa, o que foi meu anjo? –O Hercules se sentou do meu lado e passou a mão acariciando meu rosto.

   -Eu perdi a menininha que estava comigo na ilha. E eu acho que o Andy morreu. Eu não quero que tudo aconteça de novo. –Eu encostei no ombro dele.

   -Isa, por mais que tudo aconteça, eu estarei aqui, ok? –Ele sorriu para mim

   -Ok.

                 1 Ano Depois...

   Estou em casa preparando as coisas para o aniversário surpresa de casamento dos meus pais. Olho para a decoração da casa deles e me sinto bem. Não é todo dia que se faz 35 anos de casado. Tudo preparado, a casa inteira arrumada e eu só consigo sentir felicidade. O Marcelo tem tentado se aproximar de mim, mas eu realmente não consigo dar bola para ele. O Hercules chega com as bebidas e eu termino de preparar tudo. Meus pais estão prestes a chegar de viagem, e eu sorrio ao vê-los abrir a porta. Eles estão encantados com a comemoração e logo me abraçam. A festa continua, todos bebendo a rodo, e eu tentando ficar bem, pelo menos naquele dia. Converso com todos e tiro o dia para tentar me divertir, longe das bebidas. O Hercules me chamada para dançar, sorri para mim e me abraça. Naquele momento posso ouvir algo dentro de mim que diz "está tudo bem". Volto a sorrir e a pular na sala de casa. Não muito depois começa uma dança mais colada.

   -Me daria a honra? –O Hercules estendeu a mão para mim.

   -Mas é claro. –Eu sorri e o abracei ao som de Perfect do Ed Sheeran.

   Nossos passos são sincronizados e eu me sinto bem ao estar com ele. Encosto minha cabeça em seu ombro e continuo a dança.

   -Será que eu poderia dançar com essa moça. –Uma voz vinda atrás de mim fala sutilmente.

   -Isa? –O Hercules indagou para saber se eu queria..

   -Pode se...-Eu olho para trás e lá está ele. Alto, cabelo meio grande, um sorriso encantador. A saudade não cabe no peito.

   É, o Anderson. Está vivo.

Se meu amor é um merda, eu também sou.Onde histórias criam vida. Descubra agora