QUATRO - Felipa

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— Meus pais e meu irmão morreram. — Felipa contou assim que estávamos sozinhas em nosso quarto. — Foram mortos, na verdade. Pelo governo da nova república.

Eu assenti, sempre soube que ela escondia algo, nunca tínhamos falado de antes da mansão. Nem eu nem Felipa.

— Eles eram dos anti. Meu avô, como acabou de descobrir, é o líder dos sete.

Me lembrei de como tinha chegado naquele lugar, mesmo que nunca tivesse visto nenhum deles, já tinha os conhecido. Os sete tinham me mandado para mansão dos soldados da luz.

— Deve ser difícil para você. — Falei.—Ser obrigada a vir para esse lugar depois de tudo isso.

Felipa encarou as mãos por um momento, e não me olhou quando respondeu:

— No começo foi. Fui criada para odiar manipuladores, odiar a nova república, para ter membros dos anti como heróis, para me tornar uma deles. — Felipa continuou, brincando preguiçosamente com os lençóis de sua cama. — Minha habilidade secundária apareceu quando eu tinha em torno de treze anos. Então eu soube o que era. Aquilo que tinha que odiar. Existem sempre dois lados de uma moeda. Aqui na mansão dos soldados da luz conheci pessoas incríveis, você, seu pai, Stefano, Raphael, Daniel... Lá conhecia pessoas maravilhosas. Assim como conheci pessoas terríveis em ambos os lados, manipuladores e sem elemento.

Eu me surpreendi com a maturidade das palavras de Felipa, que naquele momento não se escondia atrás de sua personalidade forte. Ela tinha razão.

— Sei que tudo está uma bagunça para todos nós agora.— Ela falou, levantando seu olhar para mim.— Mas está se recusando a ter algo que sinto falta todos os dias da minha vida.

Arregalei os olhos ao ver lágrimas nos olhos da pessoa que nunca tinha demonstrado nem uma gota de tristeza desde que a tinha conhecido.

— Não quero te dar lições de moral. Não tenho ideia de como deve estar se sentindo, mas tudo fica mais fácil quando se tem pessoas para confiar. Jase me ajudou quando meus pais morreram, se não fosse por ele eu teria o mesmo destino que eles.

Então era assim que Stefano sabia. Eles não tinham segredos.

— É que... — Tentei. Nunca tinha sido boa com palavras. — Estou tentando...

Felipa deu um meio sorriso, e me puxou para um abraço apertado.

— Agora vamos parar com toda essa frescura, porque se não vão começar a nos confundir com manipuladores de água por ai.

Me soltei de Felipa e a encarei, confusa.

— Ah! Qual é! Sabem o que dizem sobre manipuladores de água, e toda sua confusão sentimental...

Neguei.

— Quem fala? — Perguntei, levantando uma sobrancelha.

— Eu. — Ela respondeu. Se enfiando debaixo de suas cobertas, a deixa para que eu saísse de sua cama. — Mas é a pura verdade.

— Não devia dizer essas coisas por ai, sabe o que dizem sobre manipuladores da luz... — Falei, levantando de sua cama, e andando até a minha própria.

— Não funciona. Agora também é uma manipuladora da luz... — Ela me lembrou com um sorriso sarcástico.

Merd... Fezes.

Com um movimento de dedos de Felipa, o interruptor da luz foi acionado, e caímos em uma bem vinda escuridão.

— É com grande pesar que informamos que uma base de soldados da luz foi atacada nas fronteiras

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— É com grande pesar que informamos que uma base de soldados da luz foi atacada nas fronteiras.  Pelos anti. — O diretor falou assim que fomos acordados pelo menos duas horas mais cedo, naquela manhã. Ele estava em pé na parte mais ao fundo do refeitório, ao lado dos seis monitores de elemento, Flora, pelo que podia perceber, tinha sido substituída por Yara, a manipuladora da Terra do círculo. — O governo da nova república anunciou que as fronteiras estão fechadas, assim como o acesso entre os quadrantes está restrito. Fomos chamados para auxiliar, controlando esse acesso.

Olhei para o lado. Felipa parecia tão concentrada nas palavras do diretor que nem ao menos notou a chegada sorrateira de meu irmão.

— A partir de hoje, até que tudo isso termine. — O diretor continuou. — Não teremos aulas teóricas, e usaremos a parte da manhã nos quadrantes, e a tarde para treinamento na mansão. As escalas estão aqui, e cada aluno deve vir buscar a sua, antes de partir para os treinamentos.

— Oi gata. — Stefano disse baixinho, fazendo Felipa pular e atrair alguns olhares irritados.

Ela bufou e revirou os olhos, me forçando a levar a mão até a boca para abafar o som de uma risada.

— As coisas estão ficando quentes. — Stefano falou.

— Não entendo porque não admitem que quem está fazendo isso não são os sem elemento. — Resmunguei. — A nova republica tinha feito de tudo para esconder o que tinha acontecido naquele dia na casa de curandeiros.

— A notícia de manipuladores se rebelando contra outros manipuladores, é desesperadora para alguns, e para outros um sinal de fraqueza do governo. — Stefano explicou. — Nunca iram admitir. E não estão usando manipulação nos ataques, não temos comover certeza de quem são os responsáveis.

Foi minha vez de bufar. Pessoas sendo mortas em nome de um jogo de poder. Voltei meu olhar para o diretor que terminava de dar instruções para os próximos dias, mas algo me impediu de prestar atenção em suas palavras. Um ao lado do outro Raphael e Daniel agora me olhavam. O primeiro se restringindo a dar um sorriso tímido em minha direção antes de se voltar novamente para a tarefa de entregar as escalas. Já o manipulador de luz continuava a me olhar, com uma feição que não podia decifrar.

— Theodora e seus dois gatinhos. — Felipa comentou, percebendo o mesmo que eu.

Stefano passou o braço pela cintura de minha melhor amiga, que, para minha surpresa, não recuou.

— Quero que me ensine a manipular. — Falei baixo.

— O quê?

— Você ouviu.

— Espera. — Stefano interveio. — Theodora, não temos certeza de como isso aconteceu. Deve esperar, não sabemos o que pode acontecer, se insistir manipular.

— Não devíamos estar falando disso aqui. — A cada frase que dizíamos o nosso tom de voz ficava mais baixo, e agora a voz forte de Felipa não passava de um murmúrio.

— Não tem como saberem do que estamos falando. — Respondi.

Olhei de Felipa para Stefano, que resmungou algo que não consegui entender.

— Nunca vamos saber se não tentarmos. —Terminei.

— Tudo bem. — Ela concordou. — Mas como vamos fazer isso? Eles sabem quando usamos manipulação fora do período das aulas.

— Tenho uma autorização de Jase. — Falei. Meu pai tinha me concedido quando aceitei treinar com ele e Stefano.

— Isso não vai acabar bem. — Meu irmão tornou a falar.

— Hoje a noite então.

— Hoje a noite então

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Obrigada por lerem!

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