DEZ - A queda

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Assim que ia me preparar para pular algo me fez parar, e imediatamente me senti culpada por não pensar naquilo antes. Se por algum motivo estavam tão desesperados para me ter, iriam para um lugar depois que destruíssem o centro político, para onde quer que tenham levado minha mãe. Como se soubesse o que eu estava pensado, Jase falou baixo.

— Ela está a salvo. Vamos.

Todos começaram a correr, mas eu hesitei. Jase olhou do trem para mim novamente, esperando que eu confiasse em suas palavras. O barulho o trem ficou ainda mais forte, quando forçaram sua desaceleração.

— Theodora... — Meu pai chamou, mais urgente dessa vez.

Meu coração estava acelerado. Eu não era boa em confiar. Meses atrás eu não sairia dali sem ver com meus próprios olhos, sem me assegurar de que tudo estava bem, e sob controle. Mas as coisas eram diferentes agora. Eu não estava mais sozinha nos moquifos, comecei a correr assim que percebi os olhares seguros de Jase, Stefano e Felipa em minha direção, e a mão firme de Raphael tocando tão ligeiramente minhas costas que mal podia notar sua presença ali.

E quando o trem estava devagar o bastante, nós pulamos.

Uma lufada de ar deixou o impulso mais fácil, e antes que percebesse estava do lado de dentro.

O lado de dentro do vagão enferrujado, estava lotado de caixas de papelão de todo tipo de tamanho e cor, provavelmente lotadas de encomendas e documentos. Ficamos em silêncio por um momento, apenas escutando o barulho do trem correndo pelos trilhos antigos, enquanto ele passa quadrante por quadrante.

— Não vai demorar até que comessem a revistar os trens. — Lorena foi a primeira a falar.

— Por sorte vão estar ocupados demais com o centro político para isso agora. — O treinador respondeu,  e então analisou o horizonte que passava pela abertura no vagão. — Está anoitecendo.

Todos estavam quietos demais. Provavelmente pensando nas famílias que tinham deixado para trás.

— Vou tentar dormir para ver o que consigo descobrir. —Jase falou, e por mais estranha que a frase pareceu Stefano assentiu. — Façam guarda. Não podemos nos dar ao luxo de sermos pegos de surpresa.

Assisti meu pai ir até um lugar quieto e protegido pelas caixas de papelão. Ele ajeitou o melhor que pode um lugar para dormir, e deitou-se o tão confortavelmente quanto o chão duro de metal permitiu, foi então que entendi o motivo daquilo tudo. Jase era um viajante. Ele podia ir a qualquer lugar que já tivesse visitado enquanto dormia.

Por mais interessante que aquela habilidade parecesse, eu tinha certeza que piraria se visse meu corpo de cima. Provavelmente pensaria que tinha enlouquecido ou morrido.

Não sei quanto tempo se passou até que finalmente escutamos o ronco baixo de Jase. Me sentei em um canto do vagão enquanto ouvia o treinador discutir a ordem da guarda. Como sabia que não seria capaz de dormir tão cedo, me ofereci para o primeiro turno.

— Está tudo bem? — Ouvi a voz de Raphael perguntar. Olhei para cima e lá estava ele. Com seus cabelos cor de fogo, e traços fortes, o manipulador me olhava intensamente. Dessa vez, a força em seu olhar não me deixava desconfortável, mas me dava algo em que me segurar.

— Sim. — Respondi rápido demais. E ele levantou uma sobrancelha, se sentando ao meu lado.

Dei um meio sorriso, e então estava contando a ele tudo. Desde detalhes da batalha contra Jessè, até a aparente ligação entre minha mãe, o curandeiro, os anti e a ordem. Contei como ela tinha enganado Jase, e exatamente o que eu tinha ouvido naquela noite. Vi o maxilar de Raphael se apertar quando falei o que tinha descoberto de Daniel, e que por algum motivo, a ordem tinha ido na mansão atrás de mim. E então contei sobre o caos, sobre minha habilidade em controlar dois elementos, e fundi-los em um só.

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