DEZENOVE - Urbana

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O barulho da estática vinda do rádio me deixou um pouco desconfortável. Felipa movia os botões do aparelho antigo e enferrujado freneticamente, procurando pela frequência que nos permitiria comunicar com seu Avô.

— A frequência vive mudando. — Ela explicou. — Mas sempre tem algo a vez com minha família, ou com a história dos anti.

Felipa continuou a trabalhar no rádio, sobre o olhar interessado de Raphael e Stefano. Meu irmão deixou Felipa por alguns instantes e andou em minha direção.

— Já soube? — Ele perguntou, e eu balancei a cabeça, negando. — Uma das equipes de campo resgataram mais uma sobrevivente da mansão.

Levantei a sobrancelha. Conosco tinham vindo: Lorena, Julliam, e Gabieno, não conseguia pensar em mais ninguém que eu tivesse visto passando pela passagem que não tenha rumado para se esconder em suas casas nos quadrantes.

— Lura.

A monitora dos manipuladores da escuridão, que sempre pareceu ter algo contra mim, ou contra o lugar de onde tinha vindo. Lura era amiga intima de Daniel.

— Não sabemos se ela é confiável. — Sentenciei.

— Seus pais morreram no centro politico aquela tarde. — Stefano falou. — Gava disse que os conhecia, que confia nela.

Bufei.

— Eu confiava em Daniel.

Senti o ambiente ficar mais pesado. E Raphael pareceu parar de prestar atenção no que quer que Felipa fazia no rádio. Suspirei, eu não era boa em confiar, mas ultimamente tudo estava me lembrando porque não deveria.

— Ele controlou minhas emoções. — Contei pela primeira vez. — Ele me fez confusa, me fez relaxar perto dele, me fez sentir protegida e segura, para que eu pudesse confiar, para que ele pudesse me entregar na primeira oportunidade.

Raphael era o único que me olhava.

Eu ainda não tinha tido tempo para pensar na traição de Daniel. Depois de tudo, ficou perfeitamente claro a quantidade de opressão que utilizava em meus sentimentos, mas existiram os momentos em que ele não tinha usado nenhuma gota de sua habilidade secundária.

O manipulador de fogo se aproximou de mim lentamente.

— Me desculpe. — Falei, observando cautelosamente seu rosto incomodado. — Não devia estar falando isso para você.

Raphael parou na minha frente, e sorriu ligeiramente, levantando a mão direito para acariciar minha bochecha.

— Não tem nada que não possa me falar, Theo.

— Estão no nosso pé, mas conseguimos dar um corre nos que vieram... — Ouvi quando finalmente a estática diminuiu.

— Entendido. — Outra voz saiu do rádio. — Continue nos infomando.

Felipa nos encarou. Seu olhar perdido e angustiado. Finalmente ela tinha conseguido.

— Era o aniversário de meu irmão. — Contou. — O aniversário do neto que esse merda se recusou a ajudar, que deixou morrer.

Vi Felipa engolir seco, seu rosto expressando um turbilhão de sentimentos contrapostos tão fortes que mesmo com a barreira constante e forte em sua mente, minha habilidade foi capaz de sentir. Rapidamente Stefano estava ao seu lado, segurando firmemente sua mão, quando finalmente minha amiga resolveu se voltar para o rádio.

Ela pegou a peça esquisita por onde se comunicavam, apertou mais um botão, e lutou para falar.

— Chefe, aqui é Urbana. Repito: Chefe, aqui é Urbana, responda.

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