Capítulo 23

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Eles aterrissaram em Zulheil no meio da manhã. Dulce não pôde evitar lembrar-se de sua primeira viagem pelos corredores brilhando de tão brancos. Naquela ocasião, ela acreditava que se o amasse o bastante, aquele homem ao seu lado aprenderia a amá-la também.

Agora, ela sabia que, se ele era capaz de condená-la com uma prova tão frágil, ele nunca confiaria na lealdade dela. Ela havia falhado em fazê-lo enxergar que ela era merecedora de seu amor, e se Christopher não podia ver isto, então as falhas dela eram fatais. Dulce teve suas defesas emocionais destruídas pela tempestade que enfrentará, e já não conseguia mais lutar contra seus antigos demônios.

Quando chegaram ao palácio, ela deixou que Christopher a arrastasse pelos corredores - por mais humilhante que aquilo fosse.

Ciente de que, se lutasse, ele poderia agir de uma forma que ela nunca esqueceria. Ela o impediu quando ele foi se virar para sair, após tê-la emburrado para dentro do quarto. Ela não era alguém que ele pudesse trancar em um canto e esquecer.

– Onde é que você vai?

Christopher nem mesmo a olhou ao responder.

– Abraz.

Fale comigo, ela quis gritar. Dê-me algo em que possa me segurar. Mesmo depois das acusações e descrença da parte dele, o coração dela se recusava a desistir. Ela o amava e precisava dele. E desta vez lutaria por ele até esgotarem suas esperanças.

– Por quê?
Ela perguntou.

Ele olhou para ela, com seus olhos castanhos escurecidos de Tábata fúria.

– Eu vou me casar com minha segunda esposa. Você não me diverte mais. Talvez ela ofereça mais lealdade do que você tem oferecido.

O coração de Dulce congelou.

– Você vai se casar com outra mulher?

– Nos iremos nos casar em Abraz. Seria bom que você se acostumasse em um papel submisso.

– Como é que você é capaz de fazer isto comigo?

Ela rezava por ele estar apenas se vingando, por estar furioso com sua suposta traição. Então ela se lembrou da bela Futz.
Futz, que queria casar com Christopher... E que vivia em Abraz. Futz, a princesinha glamourosa que Belinda havia previsto em seu caminho, há muito tempo atrás. O pior pesadelo de Dulce se tornava realidade.

A bela face de Christopher era cruel em seu desgosto, enquanto seus olhos impiedoso percorria seu corpo trêmulo.

– Da mesma maneira que você planejou me trair.

– Não! Eu não planejei nada. Por que você não acredita em mim?

Ela estendeu o braço para agarrar a barra de sua jaqueta, mas ele afastou as mãos dela de si.

– Eu não quero me atrasar.

Ele disse ao sair.

Dulce não foi até a varanda dessa vez. Naquele momento, algo dentro dela se quebrara. Mas ela não se permitiria sentir dor, porque, se o fizesse, morreria. Em vez disso ela começou a planejar sua fuga. Ela estava preparada a lidar com a raiva de Christopher, com sua desconfiança e até mesmo sua rejeição, mas aquilo...

– Eu jamais o dividirei com outra. Jamais.

A voz destorcida de Belinda parecia assombrá-la, lhe dizendo que ela não tinha sido melhor o bastante para segurar seu marido.

– Não.

Belinda provavelmente só tinha tido o intuito de comprar uma briga com ela, mas a desconfiança arraigada de Christopher em relação a sua esposa deu a ela a maior das vinganças. Dulce se recusou a dar mais poder a sua vingativa irmã.

Ela se virou, caminhou em direção a seu quarto e trancou a porta ao entrar. Precisava raciocinar. Não havia como pegar um avião para fora de Zulheil. Christopher já devia ter alertado seus homens a vigiarem qualquer tentativa dela. Ele queria que ela sofresse, queria puni-la. Antes, ela o permitiria, com a certeza de que seu amor prevaleceria.

– Mas agora acabou.

Ele havia ido longe demais.
Ela não podia seguir pelas estradas, os guardas das fronteiras eram bem treinados e escrupulosos. Além disto, o seu cabelo vermelho era um sinal muito forte entre as pessoas do deserto.

– Água.

Ela parou, com o coração batendo. Zelheil tinha uma costa estreita e um porto de movimento intenso. Seria relativamente fácil escapar a bordo de um navio estrangeiro quando ele parasse para abastecer. Marinheiros eram uma tripulação independente e as alteridades portuárias estariam mais preocupados em impedir a entrada de pessoas em Zulheil do que em policiar os que estivessem deixando o país.

Ela sabia que deveria deixar tudo para trás, para que ninguém pudesse adivinhar seu plano. Aquilo parecia definir o seu destino. Ela estava deixando tudo, seu coração, seus sonhos, suas esperanças.

Respirando fundo e com calma, ela foi até o pequeno cofre no quarto deles. Depois do casamento, Christopher havia mostrado o cofre e disse-lhe que sempre teria dinheiro para que ela pudesse usar. Apesar de ela não querer pegar o dinheiro dele, acessar  sua conta bancária da Nova Zelândia estragaria imediatamente seus planos. Livrando-se de seu orgulho, ela fez a combinação necessária para abrir o cofre. Havia dinheiro o bastante para ela comprar a passagem e ainda se manter pelas próximas semanas.

Quando ela virou seus olhos do cofre, um brilho prateado sobre uma cadeira no canto lhe chamou a atenção. Ela havia terminado a bela blusa de contas logo antes de partirem para a Austrália. Agora ela quase não podia olhar para ela. Dobrou-a então e a colocou sobre a cama, junto com uma nota para Anahí. Sua amiga poderia odiá-la por haver fugido, mas era para ela que Dulce daria a blusa.

Assim que ficou pronta, ela foi até a mesa pegou uma caneta. Seus dedos ameaçaram tremer sob o calor das emoções, mas ela os controlou com uma disciplina que veio de algum lugar dentro de si que ela nem sabia que existia e começou a escrever.

Meu Sheik do desertoOnde histórias criam vida. Descubra agora