Capítulo 26

4.5K 371 8
                                    

Dulce passou toda a viagem trancada em sua cabine, evitando que os convites feitos pela equipe de atividades sociais a destraíssem. Ela não chorou. Suas lágrimas estavam congeladas em seu coração junto ao resto de suas emoções. Ela só queria esquecer.

Só que Christopher não permitia. A cada noite, ele vinha até ela em seus sonhos, forte, viril, relutante em aceitar sua decisão. Ela se remexia, com o corpo coberto de suor, tentando lutar contra ele, mas no final ele sempre ganhava.

– Você me pertence, Dulce - as mãos dele a acariciavam.

– Não.

– Sim!

Aquela arrogância masculina aparecia até em seus sonhos. Os ombros dele brilhavam ao luar, como faziam nas noites que passaram no deserto.

– Christopher.
Ela sussurrou, estendendo a mão para tocar aquela pele quente e tentadora. Não encontrou nada além do frio vazio.
– Christopher, não!
Invariavelmente, ela acordava com este nome em seus lábios, em um grito para que ele acreditasse nela... Para que a amasse.

O cruzeiro aportou em numerosas cidades do Oriente Médio, mas ela não descia, para não correr o risco de ser reconhecida. Duas semanas de isolamento voluntário se passaram. Foi quando o navio fez uma parada inesperada em uma pequena ilha grega, realizada pela necessidade de desembarcar um passageiro em estado de urgência. Exausta, Dulce desceu do navio e não retornou mais. Era um lugar como qualquer outro, ela pensou sem entusiasmo. E por não ser uma parada programada, mesmo que Christopher procurasse por ela, ele não a encontraria lá.

Ela conseguiu um pequeno apartamento em um sótão. Na noite de sua chegada, ela se enrolou na cama e não conseguiu mais se mover dali. Pensamentos sobre Christopher a assombravam dia e noite. Sua mente repetia sem cessar aquela terrível discussão. Ela tentava encontrar outro caminho, outro rumo. Não havia nenhum.

– Acabou. Eu aceito.
Ela dia para si mesma todos os dias, e a cada dia ela acordava com o coração cheio de desejo e o corpo dolorido.

Uma semana depois, ela se arrastou para fora, lutando contra a depressão. Ela dizia para si mesma que era forte, que sobreviveria. E daí se metade de sua alma estivesse faltando? Ela a havia entregue pro escolha própria. E não se arrependia. Por acaso, ela viu uma placa na vitrine de uma loja que procurava por costureira. Respirando fundo, ela abriu a porta e entrou.

Naquela noite, ao pegar uma tesoura para fazer um conserto, seu entorpecimento de repente se dissipou. Era como se seu corpo percebesse que ao fazer algo que simplesmente sobreviver, ela houvesse decidido viver outra vez. Com a mudança substancial vier também pensamentos, lembranças e dor em seu coração.

A primeira emoção foi medo - mede de que jamais pudesse esquecer Christopher. E então de repente, ela ficou aterrorizada por talvez esquecê-lo. Ele vivia dentro dela, como parte integrante sua. Paradoxalmente, havia paz em saber que ela nunca deixaria de amá-lo. Apesar deste conhecimento, ela evitava ler jornais e revistas, ciente que se ela visse Christopher com sua nova esposa, ela perderia certamente o controle que havia retomado sobre suas emoções.

Christopher pegou o pincel e espalhou tinta de cor creme. Ao adicionar um toque de rosa pálido teria a tonalidade viva da pele de sua Dulce. Com uma pincelada um braço gracioso ganhou vida. Ela estava quase completa, aquela criação de tinta e emoção. Com uma dor aguda, ele começou a preencher os detalhes que faziam com que Dulce fosse tão única. Castanho dourado puro para aqueles grandes olhos, sempre inocentes. Mesmo após tê-la guiado pelos caminhos do prazer, uma parte de Dulce havia permanecido eternamente inocente.

Uma lembrança daqueles olhos feridos pela dor voltou para provocá-lo enquanto pintava. Não importava se ela nunca o perdoasse, ele não poderia deixa-la partir.

Alguém se moveu perto da porta

– O que foi?
Era Alfonso.

– Nos rastreamos alguns passageiros que a viram a bordo depois do navio partir para o Oriente Médio. Eles não se lembram de vê-la após a parada na Grécia.

Alfonso parou de falar e subitamente continuou.

– Eu não acredito que ela tenha feito isto com você novamente. Deixe-a ir.

– Controle suas palavras! — Christopher falou com aspereza. – Por você ser meu amigo, eu perdoarei está indiscrição. Mas você você jamais falará mal de Dulce outra vez. Eu sou o culpado.

O ceticismo de seu conselheiro era óbvio.

– Você? Você a tratou como uma princesa.

– Eu disse a ela que desposaria outra mulher.

Alfonso ficou paralisado. A tristeza tomou conta de suas feições, tão profundamente que transformou em negro seus olhos castanhos.

– Eu acredito que nem mesmo minha Anahí perdoaria tal injúria.

– Não importa, Dulce é minha e eu jamais a deixarei partir. — Christopher tocou a carta que guardava agora constantemente consigo. – Prepare meu avião. Nós voaremos para a Grécia. Você tem uma lista com as paradas que o navio cruzeiro fez?

Alfonso anuiu.

– Foram apenas duas.
Uma pequena sentença de esperança brilhou em seus olhos

Christopher não sentiu esperança, ele sentiu certeza.

Dulce ignorou as 
insistentes batidas à porta pelo tempo que conseguiu. Quando ela terminou o conserto, atravessou seu pequeno apartamento, esperando encontrar o 
proprietário do lugar. Ela já havia pagado o aluguel. Ele não tinha razão 
nenhuma em procurá-la.

– Você!

Seus joelhos tremeram quando ela viu o homem parado na soleira. Os braços dele se estenderam para segurá-la quando ela caiu. Atrás dele, a porta se fechou.

– Largue-me.

Meu Sheik do desertoOnde histórias criam vida. Descubra agora