☙ • O Melhor Dia de Todos

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     Santa Ariana era uma cidadezinha localizada no Sul e perdida no mapa. O GPS nunca a localizava como deveria e não havia grandes fatos históricos sobre ela nos livros de história. Era um grande vazio para as pessoas de fora, um simples buraco num terreno mal aproveitado. Já para os "são arianos", nome que a própria população escolheu para serem conhecidos, a cidade era o paraíso na terra. Eles estavam muito bem, obrigado, sem intrusos e pessoas de fora. Diferente de dezenas de outros lugares, os são arianos não viam com bons olhos turistas ou curiosos, a chegada de um simples ser humano, perdido ou não, era motivo para desconfiava geral. O melhor que esses pobres coitados podiam fazer eram ir embora o mais depressa possível e esquecer o caminho até ali.

    E era nessa cidade envolta de mistérios, que Matthew dormia a sono solto na sua cama localizada na Rua dos Alfinetes n° 5. O queixo do garoto pendia pra um lado e ele respirava pesadamente pela boca, produzindo roncos altíssimos. Mas o bom sono de Matt não duraria muito mais tempo.

   "TRIMMMMM!!"

   O despertador velho tremia todo ao lado na mesa de cabeceira. Presente da sua avó que o comprou numa loja de antiguidades no local, e achou que seria um presente divertido para um adolescente. Sta. Ariana era muito boa quando se tratava de antiguidades. Fazia questão de manter suas ruas e o máximo de estabelecimentos possíveis com a mesma aparência desde 1882. Viver naquela cidade era como viajar no tempo. Exceto que agora eles tinham calça jeans e wi-fi.

   "TRIMMMMM!"

   Um braço escorregou pra fora da cama e bateu com força no pequeno relógio vermelho que caiu com um baque no chão. Fazendo um barulho ainda maior. Nem um arranhão na tinta. Nenhum um único pedaço fora perdido. O relógio estava intacto. Matt se sentou na cama ainda com os olhos fechados. Se espreguiçou e ficou um tempo sentado, cochilando. Seu corpo relaxava. Como se soubesse que o garoto tentava voltar a dormir, o relógio tremeu e bateu nos seus pés, enquanto girava e fazia barulho.

   — Tudo bem, tudo bem! — Ele apanhou o objeto do chão e o desligou finalmente. Com certa fúria. Então se espreguiçou mais uma vez e dessa vez estalou a maioria das suas juntas. Matthew era bom nisso. Como um doce de amendoim ambulante. Era crocante. — Estou acordado...! — Falou em voz alta, tentando se convencer disso. Levantou-se e abriu as cortinas da janela. Nada de sol. Típico clima de Sta. Ariana. Se arrastou pro banheiro e pra sua surpresa estava vazio. Assim que conseguiu se localiza ali dentro do pequeno cômodo, encarou o rosto sonolento no espelho.

   Era o seu aniversário. Exceto que a quantidade de pêlos no seu rosto havia aumentado miseravelmente, o resto continuava o mesmo. Passou as mãos no rosto, sentindo a espessura dos pêlos. Já tinha quase uma barba fechada. O que foi mesmo que os médicos disseram? Hormônios demais, hereditariedade... Mas ele ainda desconfiava que era pêlos demais pra alguém tão novo. Talvez fosse o clima da cidade, as comidas dali. Já que eles quase não recebiam nada de fora.

   — Tsc! — Ralhou com o seu reflexo no espelho, estava perdendo tempo.

   Uns bons minutos depois, Matt já descia pra cozinha com os cabelos molhados, vestindo o uniforme e a mochila, com 3 cadernos, pendurada de um lado só do corpo.

   Sua família estava reunida na mesa da cozinha, ou o que sobrou dela. Tobias era o irmão mais velho, tinha 18 anos, último ano na escola. Era o típico cara descolado e popular. Jogava no time e tinha uma namorada linda e tão popular quanto. Jean, era a filha do prefeito. Como os dois começaram a sair ninguém sabia, e como começaram a namorar era um mistério maior ainda. Leo era o irmão mais novo, 14 anos, diferente de Tobias, ele preferia ficar no escuro com seus jogos e seu celular, era de muito poucos amigos, mais tinha um que era seu companheiro inseparável, Peter, um garoto que morava no final da rua e sempre se metia nas confusões mais esquisitas. Mas que Leo parecia achar divertido. Ele também só falava quando lhe era solicitado. Rose era a matriarca do pequeno batalhão, era uma mulher ocupada com dois empregos, mas que sempre arrumava um tempo pra tomar café ou jantar com os meninos, fazer os dois era praticamente impossível. Os Blakes não eram muito parecidos um com ou outros, Tobias, talvez por ser o mais velho, era uns dois centímetros mais alto do que os irmãos, não havia sinal de barba ou pêlos no seu rosto, o cabelo sempre muito bem penteado e cortado, estava sempre baixo, ele tinha uma mania de sorrir o tempo todo e fazer piadas em momentos inadequados. Leo era o mais baixo dos três, não tinha o trabalho de se manter ocupado com cabelos ou barbas, na verdade ele parecia muito com a mãe ou uma versão masculina dela. Por fim, Matthew, era ele mesmo, alto, com um cabelo comprido que escorria até a altura do seu ombro, que estava solto no momento, mas que na maioria das vezes estava preso num rabo de cavalo, a pele acobreada era quase vermelha, seus olhos possuíam um tom enigmático e misterioso, porque eram pretos, e ficavam escondidos atrás das lentes dos óculos que ele usava. Não havia muitos músculos salientes pelo corpo, na verdade, ele era um tanto magro comparado ao irmão mais velho que frequentava a academia com musculação e tudo que tinha direito.

Lobisomem - Eu não sou um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora