É claro que o suposto assassinato de Rogério Davis foi o assunto da semana em Santa Ariana, e tinha tudo pra ser o assunto do ano. Possivelmente, do século.
O ataque ao garoto era uma ruptura na reputação perfeita da cidade. Fora que o medo se instalou, depois que se passaram cinco dias e a polícia ainda não fazia ideia de quem ou quê pudesse ter feito aquilo a Rogério. Os adolescentes que já tinham pouca ou quase nenhuma vida social, estavam cada vez mais reclusos. Os pais estavam em alerta máximo. Os celulares tocavam o tempo todo, ninguém mais andava sozinho. Só faltava ter um toque de recolher e grades nas janelas dos quartos, porque de resto... Sta. Ariana havia se transformado em uma prisão a céu aberto.
Os únicos que ainda conseguiam dar uma escapada disso tudo, eram os lobisomens da Reserva, ou assim eles acreditavam. Mesmo assim, com bastante dificuldade. A Sra. Blake não parava de visitar os quartos dos filhos durante a noite, o Sr. e a Sra. Stone, pais do Will, haviam colocado alarmes na casa e ele sempre precisava dar um jeito de desligar pra poder fugir e precisava se lembrar de ligar sempre que voltava, pros pais não desconfiarem que talvez o alarme não estivesse funcionando como deveria. Os Pereiras, pais do Luke, agora o obrigavam a dormir com a irmã dele, assim poderiam um cuidar do outro. O problema disso, é que Lídia tinha um sono muito leve, e sair sem ser visto era quase impossível. Luke chegava sempre atrasado aos encontros agora. Já o Sr. Lockwood, acreditava numa segurança mais viva, e Mark havia ganhado um cachorro barulhento e brincalhão. Os únicos pais que pareciam entender de fato o que estavam acontecendo ali, eram os pais de Julio, mas eles não poderiam se aplicar a regra. Eram os únicos que sabiam o que filho e os amigos eram, e o seus deveres com a cidade.
Mesmo com a segurança reforçada, e os olhos atentos dos pais e de toda a cidade, desde o incidente que os encontros semanais dos garotos haviam se tornado diários. Eles buscavam, procuravam, encontrar algo que pudesse ajudá-los a entender o que tinha acontecido ali. Mas aquela altura eles sabiam tanto quanto a polícia.
— Ainda acho que ele foi atacado por um animal. — Will disse enquanto amarrava os sapatos. Os cinco estavam reunidos no vestiário masculino. As equipes se preparavam pra competir. Era segunda-feira, era o início dos jogos. Aquele dia pareceu vir em ótimo momento, com tudo que tinha acontecido. Os adolescentes precisavam mesmo de algo pra se distrair.
Will reforçava a ideia de que Rogério havia sido atacado por um animal desde o primeiro dia. Pra ele, a coisa que trombou com Mark, também havia cruzado o caminho de Davis. Seria até uma opção válida, senão fosse por outras milhares de perguntas que não eram respondidas quando se seguia essa linha. Como por exemplo, o que Rogério Davis estaria fazendo no Bosque da Bruxa? Exposto e sozinho?
— A mãe dele diz que viu ele ser arrancado da cama por uma criatura. — Luke estava sentado ao lado de Will, com o corpo inclinado um pouco pra frente e os cotovelos apoiados nos joelhos. Empurrou o óculos mais pra cima, pois ele insistia em escorregar pra ponta do nariz. — Que tipo de animal entraria por uma janela aberta e arrastaria alguém pra fora?
— Um urso? — Ele arriscou, olhando pros amigos em busca de algum apoio. Por algum motivo, ele era o único que acreditava naquela teoria do animal, mas isso não queria dizer que ele tinha desistido de convencer os amigos a acreditarem também.
— Não existe ursos em Santa Ariana — Julio respondeu. Ele era paciente, apesar daquela mesma conversa já ter acontecido uma dezena de vezes. — E nem na Reserva. Eu disse isso a vocês.
— Então você sugere que a coisa que atacou o Mark era humano? — Will abriu um sorrisinho, olhando pra Julio agora. Ele sentou muito reto e levou uma das mãos até a cintura. Sua postura indicava desafio.
— Não. — Julio retribuiu o olhar compenetrado dele.
— Mas sequer sabemos se a coisa que me atacou foi a mesma que atacou Davis. — Mark falou, olhando pra Will também. Seu braço esquerdo agora estava agora com uma atadura que ia da mão até metade do antebraço. Os curandeiros da reserva afirmaram que havia sido uma mordida, mas do que eles também não souberam dizer. Pros seus pais e pro resto da pessoas, ele havia se machucado quando caiu por cima do abajur no quarto, no dia da morte de Davis.
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Lobisomem - Eu não sou um herói
LobisomemMatthew era um garoto normal, com problemas normais e amigos leais. Até que ele completou 16 anos e sua vida mudou completamente... Um novo Matt nasceu, com novas responsabilidades, novos desafios e obstáculos no caminho que fez o garoto se pergunta...