☙ • Uma Visita Inesperada

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Matthew concordava com Julio, ele tinha razão, já havia passado da hora de chamar Marie pra sair. Não só porque queria tentar descobrir algo sobre a morte de Rogério Davis, mas também porque ele queria conhecer ela melhor. De um jeito que as mensagens trocadas não permitia. A oportunidade de tal encontro veio numa manhã de sábado, raramente, ensolarada.

Tobias e Matt estavam na garagem, Tobias mexia e limpava sua moto, enquanto Matt limpava a garagem. Não havia muito lixo e tralha, porque a mesma era limpada ao menos de três em três meses ou sempre que o sol decidia aparecer por Sta. Ariana. Sem toda aquela água e umidade, é claro que um trabalho simples assim ficava muito mais fácil de se fazer. Também era uma boa chance de assistir ao que seus vizinhos faziam nesses dias. O que acabava rendendo boas risadas.

Alguns tomavam banho de mangueira, outros regavam às plantas, mesmo que não houvesse necessidade, a vizinha da frente, sempre colocava um biquíni e passava o dia deitada numa cadeira de praia, se bronzeando. Bem, cada um curtia a sua maneira.

Enquanto organizava algumas caixas com lixo ao lado do lixeiro na calçada e assistia as bizarrices e curiosidades dos seus vizinhos, os olhos de Matt captaram uma figura familiar caminhando pela calçada do outro lado da rua. Com um vestido amarelo com flores azuis, uma cesta de piquenique numa mão, uma vara de pescar na outra, um boné muito surrado e inconfundíveis sapatos de boneca:

— Marie — ele sussurrou ainda a acompanhando com os olhos. Parecia que assistia a cena em câmera lenta. Ela caminhava olhando pro chão, totalmente alheia aos acontecimentos ao seu redor. O coração do garoto deu um mortal pra trás. Matt se levantou, rápido, limpando as mãos no shorts. Então chamou mais alto. — Marie!

A garota do outro lado da calçada, e mais algumas pessoas, inclusive Tobias, olharam pra Matt. Marie ainda parecia tão doente quanto da última vez que ele a viu, mas ela ainda sorriu ao ver o garoto. Aquilo fez o coração de Matt dar outro salto. Ela acenou com a mão que segurava a vara de pescar, olhou pros dois lados da rua e atravessou sem pressa. Enquanto ela se aproximava, o garoto pensava em como ridículo ele devia estar, demorou pra perceber que a olhava com cara de bobo e quando percebeu já era tarde demais. Ela havia chegado ao outro lado.

— Olá, Matt! — A voz dela era como uma música boa e viciante.

— Olá... — Ele respondeu, o sorriso bobo o entregando uma vez mais. Olhou pros acessórios nas mãos dela, sem disfarçar. — ... An... Onde você vai?

Marie deu uma risadinha. — Onde você acha que eu vou com uma vara e uma cesta?

Matthew deu de ombros. Pensou em várias respostas, mas todas pareciam tão estúpidas mesmo que lógicas. Nenhum dos dois percebeu, mas Tobias havia parado de mexer na sua moto e agora assistia a cena como um telespectador interessado.

— Estou indo conquistar o mundo. Essas são minhas armas de combate. — A garota tentou assumir uma postura mais decidida, pra passar seriedade sobre o que falava, mas logo começou a rir novamente.

— Essa era mesmo minha segunda sugestão. — Matt disse correspondendo o sorriso.

— E posso saber qual era a primeira? — Ela abaixou os braços. Matt não sabia o que tinha na cesta, mas sabia que deveria estar um pouco pesado para a garota, pois o braço dela tremia com o esforço e seu ombro direito parecia um pouco mais baixo que o esquerdo. Olhando bem, Marie não possuía uma postura reta. Parte do seu corpo parecia pender mais pra um lado do que pro outro, ela tinha claramente um desvio na coluna. Será que por puro descuido ou será que andava carregando coisas acima do seu peso a vida toda?

— Bem, a de que você ia pescar — ele apontou pra vara e em seguida pra cesta — e como pescar é uma arte que exige paciência e tempo, provavelmente isso é seu almoço. — Ele bateu o dedo no queixo fazendo uma expressão séria e pensativa.

Lobisomem - Eu não sou um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora