☙ • Eu, Lobo

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Quando Matt abriu os olhos, não demorou muito pra que ele notasse que já não estava mais no seu saco de dormir no sótão dos Venons. Ele não se lembrava de ter começado a sonhar. Olhou ao redor ainda deitado no chão, mas dessa vez a perspectiva do lugar estava diferente.

Normalmente, quando ele acordava no pesadelo, ele sempre estava deitado de barriga pra cima, olhando a escuridão formada pelas árvores, até conseguir fixar o olhar nos pequenos raios da lua que passavam pelas frestas deixadas pelos galhos e folhas. Em seguida vinha toda aquela dor e agonia... Ele bufou.

Seu lamento saiu parecendo, mais uma vez, com um lamento canino. Ele notou que dessa vez estava deitado com a barriga pra baixo. Usando o chão como um confortável tapete de folhas e gravetos. Mesmo que soubesse que já estava sem roupa, não sentia frio algum. Não haveria dor naquela noite.

Talvez ele tivesse comido tanto que isso proporcionou que ele pulasse os estágios mais difíceis do pesadelo. Ficou de pé nas quatro patas, uma semana tendo o mesmo pesadelo todas às noites, já estava começando a ficar melhor naquilo e quase não tropeçava mais durante suas corridas até a beira do abismo, onde o mesmo sempre acabava.

Então algo preocupante lhe ocorreu: como iria explicar aos amigos todo o suor? E se acabasse destruindo algo? E se machucasse alguém? Deu alguns passos pra trás, sacudindo a cabeça. Jamais se perdoaria se um de seus amigos sofresse algo por sua causa...

Crack!

Matt levantou a cabeça e suas orelhas mexeram na direção do barulho que veio de algum ponto do bosque. Farejou o ar. Estava acostumado com esquilos por ali. Sempre acabava cruzando com um ou dois. Tão rápido quanto veio o barulho sumiu. Ele suspeitou que tivesse imaginado o tal barulho ou simplesmente era mais um esquilo mesmo andando por ali. Não tinha importância. Sacudiu a cabeça, novamente, e começou a se questionar mais uma vez sobre como acordar sem fazer muito estrago. E se ele andasse até o abismo, dessa vez, ao invés de correr...?

Crack, Crack...

O barulho voltou, e dessa vez não vinha só de um ponto do bosque, mas de três pontos diferentes. Um na esquerda, outro na direita e um bem atrás de Matt. O barulho não voltou a sumir alguns segundos depois, pelo contrário, começou a se tornar mais alto. Matt se mexeu ansioso em todas às direções. Sentiu cheiros familiares, mas não conseguiu lembrar de onde. Havia mais de um e desse jeito era difícil identificar "o que era o que." Ele se mexia um tanto aterrorizado. Aquele pesadelo era diferente dos outros.

Começou a sentir o coração bater muito, mas muito rápido mesmo. Quando duas bolinhas cinzas e cintilantes surgiram no emaranhado de árvores à sua direita.

Matt às encarou quase hipnotizado. Paralisou no lugar onde estava, quase não ousava respirar. Então, uns segundos depois, surgiram duas outras bolinhas, essas muito amarelas, à sua esquerda. O que quer que estivesse indo até ele, havia chegado.

A escuridão ao redor das bolinhas cinzas começou a ganhar forma (e ele notou com apreensão que a coisa continuava se aproximando).

A princípio Matt achou que era uma raposa. Mas logo se lembrou que não existiam raposas daquele tamanho e se existissem, elas eram de fato um grande problema. A criatura saiu por completo da escuridão, ao mesmo tempo que a outra de olhos amarelos também saía. Matt deu mais alguns passos pra trás e esbarrou em algo, então se virou depressa e se deparou com uma terceira criatura. Essa de olhos vermelhos.

Os animais lembravam muito mais lobos do que raposas. Foi o que ele concluiu ao vê-las sob à luz do luar. Com certeza, era muito mais provável dizer que eram lobos. Só que, pro horror de Matt, as criaturas também eram muito grandes pra serem lobos. Ainda assim, os três rondavam o garoto, como se esperassem uma oportunidade dele de pisar em falso ou tentar fugir. Qualquer movimento brusco... Um deles abriu a boca num rosnado e Matt viu presas realmente pontiagudas.

Lobisomem - Eu não sou um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora