☙ • Use as Mangas do Meu Suéter

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Quando Matt abriu os olhos e não conseguiu enxergar nada levou um pequeno susto. Quando ficou tão escuro? Ele acabou chorando até dormir e não houve sonhos, então ele não percebeu que havia embalado num sono profundo.

Levantou-se usando a parede como apoio. A carta de Anthony ainda estava amassada na mão. Ele ligou o abajur mais próximo, piscou algumas vezes incomodado pela claridade repentina. Ele deu uma olhada na carta. Ela não estava pior do que já era. Ele tentou desamassar o máximo que conseguia e então a dobrou em quatro e guardou na carteira.

O relógio vermelho marcava 4:15. Ele devia ter dormido quase umas doze horas. Estava exausto. Coçou os olhos e bocejou. Foi até a janela, puxando um pouco a cortina deu uma boa olhada lá fora. Ainda não havia movimentação na rua. “Bem, depois da meia-noite nada acontece”. Lembrou-se vagamente disso de uma conversa que teve com os amigos outro dia. Isso lhe remeteu a outra lembrança “Mark”. Ele saiu de perto da janela e começou a procurar o celular nos bolsos da roupa que estava. Não achou. Em seguida, em cima da escrivaninha, mesa do computador, da bagunça da cama e estava indo pro cesto de roupas sujas quando se lembrou com um breve desespero.

— Puta merda! — Levou uma das mãos aos cabelos e coçou a cabeça em agonia. Sua mochila com todas as suas coisas, inclusive seu celular, havia ficado na árvore atrás da casa abandonada. Na hora de voltar a Reserva nenhum deles se lembrou de recuperar suas coisas. Outra onda de desespero o invadiu, essa com mais violência. Se o pior tivesse acontecido, ele havia pedido por Sr. Venon ligar, ele teria ligado, mas Matt não teria ouvido. Matt não teria estado lá. Um aperto no peito e uma queda de pressão fez com ele se sentasse na cadeia próximo a escrivaninha.

Matt levou as mãos a cabeça novamente. Calculando se era mais perto ele ir até a árvore pegar as coisas ou ir até à Reserva. Mesmo na forma de lobo. Talvez por intuição, ou destino mesmo, uma voz sugeriu: árvore. Ele aceitou. Além do mais ele precisava mesmo andar um pouco. Precisava colocar as ideias no lugar. Precisava aceitar que qualquer coisa poderia ter acontecido. Matt sentiu-se com raiva. Por que dormiu tanto? Mas ficar ali parado também não ia resolver.

Levantou da cadeira e pegou a primeira calça de moletom que viu, uma cinza, que estava jogada na pilha de roupas que tinha na cama e vestiu. Nem sequer sabia se estava limpo ou não. Pegou também uma camisa de mangas compridas, preta, que também estava jogada na cama. Então saiu do quarto abrindo a porta devagar. O silêncio era absoluto. Todos dormiam ou pelo menos estavam trancados. Quando Matt desceu às escadas, foi até a cozinha beber um copo d'água. Sua garganta estava muito seca e seus lábios estavam rachados. Seu estômago doeu quando a água fria desceu com violência. Ele nem se lembrava da última vez em que havia feito uma refeição de verdade.

Olhou ao redor a procura de alguma coisa que ele pudesse comer rápido e se deparou com um prato de comida coberto em cima da mesa e um post-it com o nome dele colado. Matt sentiu o coração aquecer com o gesto. Levantou a louça que o cobria e encontrou 3 sanduíches com muito queijo cheddar. Do jeito que ele gostava. Deviam estar tão frios que já passava do ponto de morto, mas ele não se importou, pegou um deles, agradecendo silenciosamente o gesto da mãe e então saiu de casa.

Não tinha ninguém na rua, como era esperado pra aquela hora. Não estava totalmente escuro, mas estava frio. Bastante frio. Senão fosse o sangue quente de lobo de Matt ele estaria se arrependendo profundamente por não ter trazido um casaco.

Enquanto caminhava, Matt procurava apenas respirar, sem ter que pensar muito. Queria ter um tempo a sós com sua mente. Sem ter um turbilhão de coisas pra resolver, ou pra organizar, ou pra fazer. Uma coisa de cada vez.

Naquele momento ele só queria se preocupar em ir recuperar às coisas dele e dos amigos que haviam ficado pra trás. Naquela árvore. Não estava totalmente silêncio, já caía uma chuva fininha e os passarinhos espalhados por aquelas árvores se sacudiam, e praticamente, gritavam em busca de lugares quentes. Matt terminou o sanduíche em quatro mordidas. Ele nem se deu conta do quanto estava faminto.

Lobisomem - Eu não sou um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora