"Matt abriu os olhos. Mas ainda assim continuou escuro. Ele suspirou pesadamente. Alguma coisa o acordou. Mas o que poderia ter sido? Ele não se lembrava de ter ouvido o despertador e tão pouco já parecia de manhã... 'Ainda está tão escuro.'"
"Devagar, os olhos do garoto foram se acostumando ao ambiente, e mesmo a maior parte estando embaçada por conta da ausência dos óculos, ele pôde perceber que não estava no seu quarto. Uma nesga de luz, vinha de algum lugar no alto e a sua frente, entrava por pequenas frestas formadas ao seu redor. Pois havia grandes árvores por todos os lados, elas eram tão altas que seus galhos se misturavam, formando uma coisa só. A respiração dele ficou mais pesada e ele sentiu a pressão da ansiedade esmagar o seu peito. Sabia onde estava. Já havia visto aquelas árvores várias vezes nos livros de história sobre a cidade. Estava no Bosque da Bruxa. A parte mais densa e escura da floresta que rodeava a cidade. Nem os próprios moradores tinha permissão pra andar por ali. Perde-se era inevitável. Não havia trilhas. Simplesmente não havia saída. O que ele poderia está fazendo ali? E como chegou?"
"Uma dor intensa atravessou sua cabeça e o obrigou a fechar os olhos mais uma vez. Ao voltar a abrir, já estava mais acostumado com a pouca iluminação. Virou a cabeça pros lados, procurando algumas respostas para suas perguntas. Mas tudo que viu foi pedras, embaçadas, mas pedras. Haviam folhas úmidas e gravetos por todos os cantos. Sem contar os insetos que rastejavam por ali. As árvores balançam e estalavam com a força do vento. Uma nova onda de gravetos e folhas caiu. E Matthew ainda se perguntava porque estava deitado ali? Sentia as pedrinhas e os pequenos gravetos lhe incomodarem. Como chegou aquela situação?"
"Fez um esforço pra se levantar, seu corpo parecia mais pesado do que de costume, mas ele conseguiu ficar de pé. Demorou um tempo, porque na metade do caminho pra ficar de pé, ele se apoiou nos joelhos pra poder respirar. Sentia-se exausto. Será que foi até ali correndo? Será que era sonâmbulo? Teria que dá explicações à sua mãe quando voltasse pra casa e pedisse que ela abrisse a porta. Talvez ela até quisesse que ele fosse ver um médico, e provavelmente, esse era o melhor a se fazer."
"Ele se esticou e estava limpando o excesso de sujeira da roupa quando a dor intensa que cruzou sua cabeça antes, chegou ao corpo como se alguém o tivesse acertado com uma lança invisível. Por alguns segundos, ele apenas parou. Ouviu as árvores estalando ao seu redor com mais fervor, o vento parecia arranhar o seu rosto... Ele respirou pela boca, vendo uma fina fumaça sair dela."
"A dor que parecia ter ido embora quando ele parou de respirar, voltou com mais rapidez e intensidade quando ele ousou puxar o ar pros pulmões mais uma vez. Matt se dobrou. Sentia uma dor nos ossos. Mas não era só, ouviu algo estalar, e dessa vez não parecia ser coisa das árvores. Então ele gritou de dor. Alto e agoniante. O barulho... Era ele."
"Seus ossos cresciam de tamanho dentro do seu corpo, buscando espaço pra se recolocar... Por quê? Desesperado, e no auge de sua dor e incompreensão, o garoto agarrou o pijama e o puxou do corpo, rasgando totalmente o tecido. Se livrando totalmente das roupas. Como se assim pudesse também se livrar da dor. Então, voltou a se dobrar, agarrando o corpo. Mas aquilo não melhorou sua situação e nem fez parar. Seu corpo continuava estalando e seus ossos ainda se mexiam sem permissão. Gritou mais uma vez, ainda mais alto que antes."
"Soltou as costelas e caiu de joelhos no chão. Sua visão entrava e saia de foco, e se viu de quatro, tentando se agarrar a algo que não fosse folhas e terra úmida. Sua respiração chegava pesada ao seus ouvidos e ele só conseguiam pensar: fique vivo. Seja o que for. Fique vivo."
"Logo não era mais somente o seus ossos que doíam e mexiam. Seu corpo todo era apenas feito de dor, sua pele parecia em chamas. Matt esticou as mãos pra frente e viu os dedos ficarem longos, sua mão ficou duas, três, vezes maior, garras começaram a sair nos lugares onde eram as suas unhas. Ele arqueou às costas quando uma nova onda de dor lhe atingiu. Matt precisava de ajuda. Alguma coisa estava acontecendo. Estava acontecendo rápido."
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Lobisomem - Eu não sou um herói
Manusia SerigalaMatthew era um garoto normal, com problemas normais e amigos leais. Até que ele completou 16 anos e sua vida mudou completamente... Um novo Matt nasceu, com novas responsabilidades, novos desafios e obstáculos no caminho que fez o garoto se pergunta...