Matt achava simplesmente ridículo que eles ainda tivessem que ir à escola e se preocupar com faltas e provas considerando tudo que estava acontecendo, e não era o único a pensar assim. Mas os professores pareciam acreditar que manter a mente dos jovens ocupadas e saturadas ia diminuir a angústia e o medo deles. Não podiam estar mais enganados. Os alunos pareciam carregar correntes muito pesadas pelos corredores, andavam devagar, falavam baixo, a desconfiava pairava sobre tudo e todos. Santa Ariana jamais havia passado por algo parecido, era comum que todo mundo estivesse parecendo tão fantasmas. Todos eram refém do medo.
Toda a cidade já havia concordado que havia mesmo um serial killer a solta e não dava pra ter certeza do que ele, ou ela, estava procurando ou quem estava procurando. Tudo que se sabia é que ele era impiedosamente brutal e que qualquer um, literalmente qualquer um, podia ser o próximo. Só era mais motivo pra isolar as pessoas e fazer prova num momento assim era quase um tratamento de eletrochoque. Ninguém tinha cabeça pra se concentrar em provas enquanto se preocupavam em continuar vivo, apenas. Mas a escola não parecia de acordo com essa ideia.
O final de semana ensolarado havia passado. A segunda chuvosa chegou com lamentações e arrastar de pés. Tudo que se sabia era que agora Vivian Armin era a segunda vítima que tinha sido atacada, e Louise era a amiga desaparecida. O segundo fato pesava cada vez mais nos ombros de Matt. Se ele nunca tivesse tirado aquele cochilo? Teria conseguido impedir que a levassem? Ou estaria morto, ou desaparecido, também? Ele não sabia. Mas gostaria ao menos de ter tentado descobrir. Ninguém além dele mesmo o culpava pelo fato de ter fechado os olhos por algumas horas. Mas talvez quando você mesmo aponta o dedo pra si é bem mais doloroso quando outra pessoa o faz. Talvez ele estivesse esperando que alguém dissesse que ele era culpado pelo sumiço dela. Talvez fosse sua redenção. Mas ninguém disse. Ninguém jamais disse.
Na hora do almoço, Matt, Will e Mark procuraram uma mesa mais afastada de todo mundo. Eles estavam incrivelmente quietos, pensativos e exaustos. Havia sido o final de semana mais longo da vida deles. Nesses dois dias, o máximo que haviam conseguido dormir foi entre 3 e 4 horas. Não dava pra esconder de ninguém como eles estavam esgotados e por isso evitavam a multidão, assim evitavam às perguntas. Eles se olharam, como se buscassem apoio um nos outros pra poder começar a comer.
— É melhor comermos, precisamos ficar fortes mais do que nunca agora. — Will disse e assim ele fez, começou a comer. Mark, que agora tinha uma nota atadura no braço, apenas concordou com a cabeça e começou a comer também.
Mas para a Matt a tarefa mais simples de todas de tornou quase impossível. Ele não tinha fome e a comida nunca parecia saborosa o suficiente ao seu paladar, mesmo que o cheiro e a aparência fosse muito bons. Ele agarrou o garfo e decidiu fingir que havia comido ao menos um pouco. Todos já tinham tanto com o que se preocupar.
— Oi, gente... — Lua se aproximou da mesa com aquele ar formal de representante. Exceto que ela não estava sorrindo dessa vez, ainda assim era a mesma a Lua de sempre. — ... Estão bem?
— Oi, Lua! — Os garotos responderam em uníssono. Will respondeu um sim pra segunda pergunta dela, Mark lhe deu o melhor sorriso que pôde, mas Matt sequer conseguiu disfarçar. Apenas continuou segurando o garfo, com muita força. Como se o talher estivesse esperando uma oportunidade pra fugir ou algo assim. Ele evitava olhar pra Lua ou qualquer outra pessoa. Ultimamente o olhar de pena que as pessoas lhe davam sempre que interagiam com ele o deixava frustrado. Fora as outras dezenas de olhares que ele via nas ruas e nos corredores da escola. O medo das pessoas era sua indignação. Por esse motivo ele agora andava olhando pro chão. Por que não conseguia fazer nada? Não era seu dever proteger a cidade? E a Lua perguntar se eles estavam bem, era quase uma afronta. Por mais inocente que a pergunta tenha sido, Matt sentiu que ficara muito quente, estava fervendo por dentro. Apertou o garfo com mais força.
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Lobisomem - Eu não sou um herói
WerewolfMatthew era um garoto normal, com problemas normais e amigos leais. Até que ele completou 16 anos e sua vida mudou completamente... Um novo Matt nasceu, com novas responsabilidades, novos desafios e obstáculos no caminho que fez o garoto se pergunta...