A decisão

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Raphael - {Autor Freyr}

Eu não sabia que eu conseguia agir daquela forma com minha prima ou com qualquer outra mulher que estivesse no lugar dela, mas certamente eu precisaria de uma bebida pra acalmar os ânimos que eu tinha dentro de mim. Levantei da cama, tentando evitar acordar a mesma e fui para a cozinha, onde peguei um copo para whisky e pus daquele líquido laranja avermelhado. Eu estava acostumado a beber, mas sabia que, se isso virasse vício, eu acabaria tendo problemas de saúde. Fiquei movendo o copo, como se desenhasse um círculo, vendo a minha bebida seguir o movimento, fazendo um pequeno redemoinho com o whisky. Breves segundos foi o tempo entre a "brincadeira" e a primeira golada, que desceu até mais suave que muitos outros que provei. Em meus devaneios noturnos, comecei a falar sozinho, sentada junto a mesa, com a garrafa de whisky numa mão e na outra o copo.

- Ela é alguém que simplesmente mexe comigo de uma forma muito diferente, quase incontrolável... Mas é como um dia eu li numa história em quadrinhos: "Memórias são a base da nossa razão. Se as ignoramos, negamos nossa própria razão. Mas por que não poderíamos? Não estamos ligados, na forma de um contrato, à racionalidade. Não existe uma cláusula de sanidade."

No momento que falei aquilo, percebendo que eu modifiquei a voz para equiparar com vozes conhecidas que dublaram, veio todo o monólogo em minha mente e, degustando logo em seguida a segunda e última golada do copo, soltei um sorriso fraco e fiquei num breve silêncio. "Tenho que cuidar das feridas de Mariel... Vou continuar bebendo assim que o fizer." Pensei comigo, me levantando devagar, evitando barulho estridente para não acordar a mesma, já que meu quarto, onde ela dormira, era praticamente colado a cozinha. Levei comigo a garrafa de whisky e o copo, pondo ambos na cabeceira da cama, onde pude pegar, numa das gavetas, pomadas aliviadoras, para que ela ficasse apenas com incômodos, não dor forte.

Passado o remédio, tomei um segundo copo, completamente em silêncio, antes de me deitar e adormecer.
Sinto um beijo em meus lábios e a voz um pouco rouca de Mariel invade meus ouvidos, me acordando, juntamente com o movimentar dela na cama.

- Hey.

- Hey, morena. Como dormiu?

Ela se reajeita novamente em meu peitoral, sorridente, diz como se voltasse a ser uma menininha envergonhada.

- Incrivelmente bem, meu loiro. E você?

"Meu loiro? Essa é nova até pra ela...." Pensei, observando, ainda um pouco grogue de sono pelo recente despertar. Dei um sorriso, que saiu até bem espontâneo, e a abracei mais forte, dizendo.

- Depois de uns copos de whisky, dormi até bem... Precisava acalmar os ânimos de ontem à noite.

- Te deixei muito agitado?

Ela soltou uma risada suave, fazendo a expressão clássica de alguém envergonhado, pondo as mãos no rosto. Por eu ter acordado sem muito bom humor, acabei respondendo um pouco seco sem perceber.

- Não... Apenas trouxe de volta o que eu não fazia há tempos...

- Tudo bem. Acho que precisa de um tempo.

Ela perdeu o sorriso de segundos atrás e, puxando ela de volta pra mim, deitando a mesma sobre mim, dou um beijo lento e digo em seu ouvido, em seguida.

- Mas eu adorei que você voltou para mim, minha morena.... Agora me explica porque a senhorita vendo que a minha namorada, futura ex, me barganhou numa aposta e você ainda aceitou?

- Eu não aceitei. Quem escolhe é você, não estou em momento nenhum tentando te conquistar. Apenas sendo eu mesma.

Ela se encolheu e sua voz foi a fonte mais clara pra ter total certeza que eu havia a deixado triste. Fiz carinho em seu corpo, alisando o mesmo, apertando com calma ele, e beijei sua testa, apertando mais o abraço.

Triângulo Indecisivo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora