Oitenta quilômetros por hora, era o que aquela placa que ele havia ultrapassado estava registrando. Em questão de segundos, ela desapareceu pelo retrovisor. O velocímetro marcava noventa e cinco por hora, e ele não se importava. Só tinha olhos para a bela vegetação que enfeitava os arredores daquela pista pacífica em que se encontrava.
O sol ao longe, se projetava para trazer a noite. Uma breve olhada no relógio de pulso. Já se passavam das 6:15 da tarde. Ele deu um longo bocejo. Estava ficando sonolento, seu estômago já dava o terceiro ruído em menos de cinco minutos. Resultados de cinco horas seguidas dirigindo sem parar.
A placa seguinte, lhe mostrava um posto de combustível em quatro quilómetros.
"Ótimo", ele pensou, uma parada para comer, usar o banheiro, e dormir um pouco, quem sabe.
Reduziu aos poucos a velocidade, conforme se aproximava da parada. Acionou a seta para direita, e com um leve movimento no volante, entrou pelo acesso. Parou o carro ao lado de uma das bombas de combustível. Desligou o motor, e em seguida retirou a chave do contato enquanto aguardava pelo frentista.
- Senhor Carlos! Será um enorme privilégio trabalhar na sua empresa - disse ele, enquanto olhava para si mesmo pelo reflexo do retrovisor.
- Trabalhar, não parece uma boa palavra. Melhor seria, engrenar. Engrenar na sua empresa.
Ele esfregava o rosto, e com desaprovação, reclamava consigo mesmo o fato de ainda não ter elaborado um bom discurso. Continuava reclamando, enquanto colocava a culpa na fome e no cansaço.
- Porra! Cade esse cara.
Ele procurava pelo frentista, olhava por todos os lado. Deu dois bons apertos na buzina.
- Senhor Carlos! Será um enorme privilégio engrenar na sua empresa.
Ainda não estava satisfeito.
- Droga! - resmungou, enquanto golpeava com força o volante - Por que ainda não é o suficiente? É só uma frase. A porra de uma frase, simples assim.
Ele continuava o seu ensaio, e nada do frentista dar as caras.
- PUTA QUE O PARIU!
Ele saiu do carro. Apoiou os braços sobre o teto do veículo enquanto analisava o local.
Não tinha nenhum carro por perto, a loja de conveniência estava com as portas abertas, mas nenhum sinal de vida alheia.
Um jato militar passou a milhão por cima do posto. Ele fechou a porta do carro, e caminhou em direção à loja. Uma breve olhada sem precisar entrar, já foi o suficiente para ele notar que não havia ninguém.
"Cadê todo mundo?"
Ele caminhou para os fundos do posto, na esperança de encontrar algum funcionário. Ou talvez alguns funcionários dormindo, quem sabe usando drogas, ou até transando no horário de expediente. Mas não tinha ninguém. Ele não resistiu ao aperto, abaixou as calças ali mesmo, e urinou.
Durante o ato, ouviu um carro se aproximar, em seguida, uma freada brusca.
Ele ergueu as calças as pressas, e retornou até a frente do posto.
Caminhando lentamente, viu um jipe vermelho parado em uma das bombas de combustível, próximo ao seu carro. Uma mulher branca e ruiva desceu do jipe. Aparentava ter seus trinta e poucos anos, toda agasalhada e com uma máscara de plástico que protegia sua boca e nariz. Em cima do veículo, haviam várias malas amarradas, como se ela estivesse fazendo uma viagem. E a julgar pela bagunça em que as malas se encontravam, pode deduzir que era uma viagem de emergência.
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Os mortos e os perdidos
Science FictionAjudar o próximo, ainda esta em cogitação? Como seria viver em um mundo de mortos-vivos, onde os mortos-vivos não são a maior ameaça? Nesse mundo de caos, um grupo de sobreviventes terão de testar seus limites para sobreviver. Vivenciando seus maio...