O chamado

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A passos simplórios os dois continuaram trilha a dentro, inicialmente em silencio, fato esse que fazia com que ocasionalmente se olhassem de soslaio um ao outro cada um com sua curiosidade própria.

—Seu cheiro – ele rosnara

—O que tem ele? – pergunta a garota vestindo a capa novamente se perguntando se estava fedendo agora, muito embora ela adorasse se lavar sempre.

—é bom...gosto dele – ele disse fitando o caminho, ela então o olhou discretamente, decididamente ele era um jovem muito estranho.

—O que fazia na mata daquele jeito? – ela pergunta pensativa pela forma que o encontrou.

—Não me lembro – ele diz seco cocando a nuca um tanto sério ao mentir para a garota.

—Qual o seu nome? – ela perguntou e ele para de repente a fitando por uns instantes, quase como se a medisse e a ponderasse. O cheiro dela inspirava uma estranha confiança nele até então nunca sentida antes...

—Kakarotto – por fim responde e volta a caminhar na trilha

—humm eu sou Chichi, Kakarotto...posso te chamar de Kaka? – ela pergunta o olhando.

—não – ele fala firme com uma carranca mal humorada.

—então Kaka – ela começa ignorando o que ele dissera completamente o que o fez revirar os olhos pela maldita teimosia dela - você disse que não é daqui, então de onde é? – ela pergunta

—Brasov – ele fala curto e grosso e Chichi percebera como ele estava realmente longe de casa.

—E... sua família também é de lá? – ela perguntou um tanto curiosa, primeiro por saber de quão longe ele era e depois, porque um cara jovem como ele estava sozinho em um pequeno vilarejo dali?

—Eram – ele respondeu puxando o ar mais forte com as narinas e rastreando cheiros, os olhos tinham o brilho incandescente por poucos segundos então voltou ao preto azulado. Ela o observava com certa curiosidade, já que ele não lhe parecia do tipo muito sociável...

—porque eram? Se mudaram? – ela perguntara inocente

—Morreram – ele fala seco, sem sentimento algum, dado ao fato que já havia se passado tempo demais para lastimas.

—Sinto muito – ela disse e o abraçou forte – deve ser muito ruim estar sozinho.

Ele sentira um baque forte em seu estomago com aquilo. Nunca pensara que estar sozinho o incomodava...na verdade nunca o incomodou. Já havia muitos anos que deixara de incomodar. O fardo daquele maldito sangue que o fazia tardar em envelhecer...viu cada um deles morrerem velhos e felizes, ano após ano. Mas ele permanecia praticamente inalterado. Cada mulher que cruzou o seu caminho ele se lembrava...cada tentativa frustrada de se livrar daquilo...da fera irracional que o acometia. Ainda se lembrava da primeira vez que se transformou. Havia acabado de completar seus 13 anos e na primeira noite de lua cheia e viveu uma tormenta, estava enlouquecendo... a dor era insuportável em seu corpo, seus pais disseram que ele estava atormentado, e quem pagara foi o padre com a vida ao tentar exorciza-lo pois durante o ato, a fera tomou conta. E depois disso ele nunca mais esteve ao lado deles, apenas os via a distância, e evitara causar a eles mais dor e sofrimento, achara melhor uma jornada sozinho, afastado dos que amava a fim de protege-los de si mesmo.

Mas aquele abraço dela...aquele calor era tão sincero e verdadeiro que emanava daquele ato era desconcertante, mas tão forte que fizera seu coração bater de forma mais intensa, quase como se estivesse vivo novamente. Ele estendeu os braços e envolveu o corpo dela compartilhando o abraço.

Luz da lua (terminado)Onde histórias criam vida. Descubra agora