Um canto silencioso

713 40 3
                                    


O brilho intenso do astro prateado no céu despontava o pior que habitava o seu ser.

Uma sina? Uma maldição? Um fardo?

Era uma fera louca e irracional...

A trilha das garras que despontavam feria as arvores pelo caminho deixando longos e profundos cortes nos troncos. Os gritos estridentes pela dor do corpo sendo rasgado e expandido pelos ossos em transmutação ecoavam pela fria e densa floresta de Hoia-Baciu. Os olhos estavam saltantes e alucinados comtemplando os raios daquela luz que banhava a terra mais uma vez naquela noite através das frestas das arvores. O corpo ganhava uma nova camada de pelo negro, os olhos rubros pulsavam até assumirem o azul noturno mergulhando no negro do seu ser...

Um condenado a vagar pela terra dos mortais

...uma besta...

Um lobisomem.

O sétimo filho de um sétimo filho será amaldiçoado pela lua ao nascer. Ao despontar da sua puberdade ele se transformara a primeira vez, e dali em todas as noites de lua cheia até o ultimo dia de sua vida sobre a terra.

Era a sua sina viver sozinho, afinal era uma maldição...e como tal perdida no tempo através dos mundos e dos séculos, ninguém sabia como quebra-la, como para-la...apenas aceitavam aquele fardo, muito embora ninguém realmente o quisesse, para alguns mal presságio, para outros pura superstição...

Como um lobo monstruoso ele parara acima da colina onde contemplava tão perto de si a sua deusa que o amaldiçoou, a deusa que cantava uma música sem som, uma deusa que dominava sua razão e o tornava bestial...sua lua...

O uivo alto e imponente ecoava como um chamado aos seus iguais...

Era hora de caçar e saciar seu ímpeto destrutivo e sanguinário. Os caninos pontiagudos e afiados eram capazes de rasgar facilmente qualquer coisa que cruzasse o seu caminho, bem como suas garras retalhavam sem hesitações. Sua pele grossa por baixo do pelo era capaz de resistir a quase tudo. Não era um ser imortal, mas sua existência transcendia os séculos, mas do que gostaria...

...

A capa vermelha cobria o seu corpo mais uma vez naquela noite. Todos na casa dormiam, a fogueira da lareira queimava e trepidava soltando algumas fagulhas. Os longos cabelos negros foram presos por baixo do capuz da capa longa. O laço foi reforçado frente a ela. Ao abrir a porta por um instante o vendo frio cortou a casa, mas logo passou quando ela fechou a porta atrás de si.

A sétima filha de uma casa... não havia lenda...não havia assombro...não havia anotações em diários antigos...

A garota de quatorze anos saía mais uma vez para atender a paixão que evocava o seu ser, pulsava cada vez mais forte dentro de si...como um chamado ainda não entendido, mas ela os amava incondicionalmente...

Os passos eram rápidos e urgentes como uma corrida para aquele vale, as mãos empurravam os galhos e arranhava a sua pele pela mata fechada, mas ela não se importava, havia magia ali e ela trazia consigo o cheiro da mata...selvagem como o seu ser...mas trazia também um coração maleável e gentil que amava a vida. As maçãs do rosto vermelhas pelo frio cortante, mas ela não se importava, logo estaria aquecida...

Varios olhos brilharam num prata intenso ao serem refletidos pela luz da lua. E quando ela se aproximou os rosnados ficaram fortes e os caninos evidenciados juntos a eles. Ela podia ver o sangue que escorria da boca de alguns que estavam se alimentando ali. O capuz desceu de sua cabeça e libertou a cascata de cabelos negros se revelando aos olhos expectadores. Os olhos da cor do penumbro céu brilhavam e logo os rosnados se sessaram e ela se aproximou deles. As mãos macias e pálidas os acariciavam e os aninhava. As conversas eram compreendidas a mãos sempre procuravam curar as feridas abertas deles, ela não sabia quando e nem como, apenas tinha aquele dom desde sempre, era dela e para eles

Luz da lua (terminado)Onde histórias criam vida. Descubra agora