A luxúria é do diabo

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Meu primeiro contato com o que os cristãos falam demônio foi na minha adolescência. O mau apareceu para mim em forma de homem e me fez um convite ao sexo. Até então eu não o conhecia, não imaginava quais seriam as suas intenções, não consegui ler a entrelinhas. Era muito inocente para perceber suas sutilezas. É como diz o ditado: o diabo está nos detalhes.

Ele me convidou para a sua casa e me ofereceu a sua cama para deitar. Rimos juntos depois de um bom vinho e então a proposta: sexo casual. Antes dele jamais havia estado com ninguém, jamais havia sido penetrado por trás. Eu deixei no calor do momento sem pensar, fui na sua onda. Como fiquei arrependido depois, assim que cheguei em casa ainda estava com o gozo dentro de mim. Lembro dele escorrendo pela minha perna assim que entrei no banheiro.

Ninguém jamais soube que os dias que se seguiram só me trouxeram medo e pavor. O diabo queria me possuir, me pedia para ser só dele. Eu estava muito carente e cansado, não consegui resistir. Ele me manipulava e entrei no seu jogo fácil. Como resistir ao seu veneno, alguém que jamais experienciou a vida estava tendo uma chance de se libertar das correntes da timidez? Tudo era novo e excitante. Os encontros a noite, as conversas bombas, os beijos e toques furtivos. Fui possuído aos poucos.

"Que vontade de morrer", era tudo o que sentia depois de vê-lo, ao chegar em casa, no meu quarto e me deparar com o escuro, as luzes apagadas e a vontade imensa que não existir. "O diabo me usou mais uma vez"- essa frase ecoava na minha cabeça como o som das gotas de água em uma noite de chuva.

Nossos encontros aconteciam sempre a noite, geralmente ele colocava uma música qualquer pra tocar e começava a me fazer perguntas sobre a minha vida, fingindo interesse. Que nada, a única coisa que ele queria estava dentro da minha cueca. Não demorava muito até o convite a ir ao quarto e deitar na cama. Ele beijava o meu corpo e me fazia sentir desejado... e eu cedia porque gostava.

Os meus sonhos eram recorrentes, um deles se repetiu várias vezes e eu lembro dele ainda hoje: o diabo me pedia para transar. Sentia o cheiro do seu corpo: bebida e cigarro. Ele puxava a minha cabeça para baixo, como que pedisse para fazer sexo oral, eu estava amarrado a cama, nada podia fazer a não ser deixar ser usado. As lágrimas escorriam dos meus olhos e o meu corpo se debatia, minha única vontade era de sumir. Por que eu me permitia em estar ali? Ao redor de mim havia um castiçal no teto, manchas escuras no espelho, o vermelho da cortina e o macio do lençol. 

Conflitos Internos da Cabeça de um HomossexualOnde histórias criam vida. Descubra agora