Entregando a alma

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Nunca tive controle quando o assunto é bebida. Um trem desgovernado e sem freio, sou eu depois de descer três dedos de vodca... A breve história que contarei abaixo provavelmente aconteceu, ou não, porque jamais lembrarei todos os detalhes e acontecimentos.

Baseado em fatos alcoólicos.

Foi durante uma dessas festas numa cidade do interior, onde a população LGBT ainda é muito reduzida ao anonimato. Estava em pé ao lado de uma mesa branca de plástico vagabundo, a música que tocava provavelmente de um pen drive da bixa mais poc das redondezas. A trilha sonora de quem quer dar o cu: Britney, Madonna, Lady Gaga, Rihanna... Eu só bebia, mesmo sem saber o porquê. Em toda festa que fui, sempre tinha aquele instante em que o lapso da consciência vinha e eu apenas observava todas aquelas pessoas dançando ao meu redor. Me perguntava se alguma delas fazia ideia do motivo de estar ali. As vezes eu falava algumas frases do fundo da minha alma, sabendo que ninguém iria ouvir. A batida sempre era muito alta nesses lugares. Um dos meus amigos nesse momento já tinha subido em um palco improvisado (mesa) e começava a tirar a camiseta para mostrar o corpo. E eu dizia "você só tem isso pra mostrar?"... lógico que ele não ouviu.

Comecei a observar o reflexo na garrafa a minha frente: parecia que todas as pessoas dali estavam enfiadas daquela garrafa de Sky. As luzes piscavam lá dentro e via pequenos seres humanos pulando e rindo sem motivo algum. Apenas o efeito do álcool no sangue. Lembro que naquela noite vomitei embaixo da mesa. Foi algo bem rápido. Levantei a cabeça e olhei ao redor... ninguém tinha percebido. Nem o garoto que eu beijei durante o restante da festa inteira reclamou do cheiro da minha boca. Coitado.

Olhava para a dança das luzes. Como elas brilham, eu queria um jogo de luz no meu quarto só pra ficar olhando ele girando e girando...

Pronto. Só lembro até aqui.

Conflitos Internos da Cabeça de um HomossexualOnde histórias criam vida. Descubra agora