Desculpe, fui eu que quebrei

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Você ainda está aqui? Trate logo de se vestir e sumir da minha frente.

Foi a frase que saiu da minha boca. Os olhos trêmulos apontados na minha direção denunciavam a tristeza de quem acabou de ter o seu coração partido. Eu era o seu primeiro, logicamente não o último, mas aquele que ele nunca iria esquecer: a primeira rejeição.

Percebi que seus movimentos ficaram bem mais lentos e tristes depois que eu falei aquela frase, a que ele não deixaria de pensar durante dias. Eu lembro de como aconteceu comigo na minha adolescência... Foi na primeira vez que eu falei eu te amo para alguém, logo depois de chupar um pau debaixo de uma mangueira. Saiu tão natural! Eu lembro como eu era antes de ter o coração quebrado. Lia romances e acreditava em amor a primeira vista. Pensava em casamento e passar os dias juntos daquele que seria meu primeiro e verdadeiro, a pessoa que me completaria, minha cara metade. "Você está louco, garoto? Cala essa boca", ele me respondeu, guardando o cacete de volta na cueca.

Eu tinha imaginado nossos dias, pensado em como seria o nosso casamento e a nossa vida. Sairia de casa e viveria apenas com ele, depois de alguns anos teríamos o nosso primeiro filho adotivo. Ele seria pretinho e teria os cabelos cacheados iguais aos meus. Não me importava a idade, contando que tivesse os cabelos cacheados.

"Eu pensei que dormiria aqui com você", ele falou pra mim. Ainda não tinha dito uma palavra desde que levantou da cama e começou a abotoar a camisa. Muito feia, por sinal.

"Amanhã eu acordo cedo e tenho de trabalhar. Quer que eu peça o Uber?".

"Não, pode deixar. A gente se vê por aí".

Essa frase significa, na verdade, a gente não irá se encontrar nunca mais. O que era um alívio para mim porque essa era a minha intenção desde o início.

Eu nunca havia quebrado um coração antes, decidi experimentar desta vez para saber qual era a sensação . Percebi que não se sente nada. O meu já foi dilacerado tantas vezes que não tem mais espaço para remendos. Talvez a culpa fosse minha por criar muitas expectativas em cada encontro casual, pensava que aquele meu sonho de Cinderelo poderia se tornar realidade e cada par de olhos só olhavam de cima para baixo... é tudo o que procuram. Sabe, não é culpa nossa, e sim de quem nos ensina o amor na infância. A gente cresce acreditando em tanta coisa: papai noel, príncipe encantado, diabo, paraíso... Por que inventam tanta coisa quando a gente é pequeno e não tem senso crítico de decidir no que acredita?

Eu sonhava com esse homem perfeito quase todas as noites e passava a mão no meu corpo, meu pau e meu cu. Imaginava o nosso sexo, na nossa casa, na nossa cama, sob nossas cobertas. Colocava o dedo e pensava que era ele me fodendo, daquele jeito diferente que só ele sabia. Depois do sexo, tomaríamos um pouco de chá e falaríamos sobre como a vida é breve e na sorte de termos encontrado o amor. Ele me contaria histórias da sua vida e eu riria de tudo, porque sempre tive riso frouxo. Antes de você eu só tomava com açúcar, obrigado por me apresentar a estévia, diria para mim.

Será que algum dia ele vem? Não sei. Enquanto isso vou voltar a abrir aquele app e marcar outro encontro.

Conflitos Internos da Cabeça de um HomossexualOnde histórias criam vida. Descubra agora