O ser

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Meu sonho de adolescência sempre foi destruir o capitalismo. Era um rebelde, gostava de punk rock e me deliciava ouvindo The Distillers. Também ouvia outros estilos, mas este definitivamente sempre foi o meu favorito. Tinha muito grito, e eu pensava em gritar a toda hora. Me sentia preso dentro de mim, cansado por não atender as expectativas do sistema, por isso comecei a odiá-lo.

O nosso mundo de oferta e consumo sempre nos prendeu a paixões. Eu sempre fui um sujeito apaixonado. Foi assim que, durante boa parte da minha vida rastreei maneiras diferentes de foder com a minha sanidade mental. A primeira delas foi o apego ao religião cristã, a segunda foi o amor platônico por um garoto hétero da escola... e vieram mais. Quantos casos decepcionantes de relacionamento e paixão você consegue contar na sua vida, até este momento? Isso mesmo, não da pra enumerar porque são muitos. Daí o leitor me pergunta, mas Paulo o que o capitalismo tem a ver com isso? No direcionamento das emoções.

O sistema sempre tenta nos apontar problemas que não são reais e nos deixa em um anestesiamento constante de sentimentos. Eu sempre penso em como seria a minha vida se desde o início eu tivesse procurado viver os meus sonhos. Não sei se os vivo plenamente agora, mas tenho uma noção mais centrada do que quero para mim. Um marido, um emprego, tempo para criar e fazer arte, influenciar na humanidade de forma direta através do meu trabalho (professor) e investir tempo e dinheiro nas coisas que realmente gosto (sendo a principal delas comida).

Ah, a vida... como ela da voltas. Eu já fui tantas coisas neste meu curto tempo divagando por este planeta chamado terra. Já fui um aborrecente revoltado, um crente iludido, um universitário vagabundo, um professor dedicado, poeta, músico, pintor, bordadeiro, dono de casa, marido fiel, puta de esquina, alcoólatra, boêmio... tudo que o sistema quis que eu fosse, fui me tornando, mas não me firmo ou fixo o meu papel. Esta é a minha única opção, a minha escolha frente a um mundo que não nos da muitas. Eu mudo quase que diariamente, pois esta é a minha sina. Agora sou escritor, pelo menos fui durante os momentos em que digitei estas palavras.

Não quero me apaixonar pelo que me impõem. Um corpo, abdômen, carne. Essas coisas apodrecem e ninguém mais a vê depois que morrermos. Quero me encantar pelo que não podemos tocar, as emoções, a inteligência e sabedoria que carregamos a tantas gerações no nosso DNA de Homo sapiens. Quero olhar o céu, a lua e as cores do dia e me encantar por cada segundo, pois eles são todos importantes, dedicar a minha existência à própria pessoa que está aqui do outro lado da tela. Os homens têm um instinto visual muito forte, eu luto contra ele todos os dias. Quero o invisível, a magia de imaginar e me acabar de amores lendo um livro. Desejo ver a minha vida escrita para que outros também se sintam como eu me senti. Gosto de ser o inventor da minha própria irrealidade. Não o sistema.

Quem ou o quê seremos amanhã?

Conflitos Internos da Cabeça de um HomossexualOnde histórias criam vida. Descubra agora