Meu primeiro hétero

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Um conselho: se você é gay, nunca se apaixone por um hétero. Ele vai foder com a sua vida e não com o seu cu.

O meu primeiro hétero estudava em uma sala bem ao lado da minha. Ensino médio, adolescência, nervos e hormônios à flor da pele. E eu queria pele. Queria contato físico, não com qualquer pessoa, mas com aquele garoto em específico. Eu acho que me apaixonei pela maneira como ele me observava, bem dentro dos olhos, como se pudesse ler minha alma. Tinha cabelos dourados, consideravelmente mais alto do que eu, possuía espinhas no rosto (poucas) e era bem musculoso para um adolescente. E ainda tinha aqueles olhos castanhos, da cor da madeira. Eu queria mesmo... a sua madeira.

Nossa, como eu nem consigo contar quantas vezes me imaginei transando com ele. Bisbilhotava sempre que possível o seu perfil no Orkut. Tudo indicava uma coisa: era hétero. Comecei a segui-lo depois da aula, passava propositalmente em frente à sua casa sempre que possível. As vezes ficava dando voltas na rua só para correr o risco de encontrá-lo por acidente. Escrevi tantos poemas, músicas, contos, textos demais, era muito sentimento e tesão acumulado! Mas nem por um momento pensei em dar uma investida... até aquele domingo.

Eu coloquei o meu número de celular no meu perfil do Orkut e o visitei para deixar registrado que tinha passado por sua página. E para a minha surpresa, as 16 da tarde, ele me ligou. Reconheci a voz na hora. Perguntei quem era e ele deu uma risada e perguntou a mesma coisa. Foi uma conversa muito estranha, até que eu soltei que sabia quem estava do outro lado da linha e falei "você quer se encontrar comigo?"... esse foi o meu fim. Ouvi duas risadas do outro lado, a dele e a de outro garoto, ele não estava sozinho e tiravam onda com a minha cara.

O meu segredo que guardei com tanto apreço por todos esses anos foi revelado subitamente, e por outra pessoa. Nunca pensei em sair do armário tão cedo. De repente, toda a escola já sabia, até meus professores, amigos, colegas de classe. Não conseguir ir à escola por mais de duas semanas. Queria morrer. Eu nunca quis tanto passar parar o outro lado quando naquela semana. O flerte de mais de um ano tinha se tornado o meu pior tormento.

Passado algum tempo e não vendo melhora, minha mãe conversou com o meu pai e pediu que ele fosse até o meu colégio falar com a turma. Ele foi e me defendeu. Pediu para pararem com os boatos, senão ele iria cortar isso a força. Foi a única vez na minha vida que ele se colocou a minha frente, me protegeu. Mas ele encarou isso como uma fofoca, não algo real. Na cabeça dele, eu não era gay e nem poderia ser. Ninguém poderia.

Neste tempo, eu fiz psicoterapia. Um anjo disfarçado de psicologa falou para mim em uma bela manhã de agosto que eu só tinha de escolher entre a vida e a morte, em ser quem eu realmente nasci para ser, ou morrer por conta da depressão. Eu escolhi viver e estou aqui até hoje para contar isso para vocês.

Não se enganem com esses garotos heterossexuais ou bissexuais. Quando a bomba cair, eles irão pelo caminho mais fácil, você vai ser ridicularizado, machucado, morto e deixado sangrando em um canto. Não terá ninguém para te proteger nestes momentos. Procure alguém que, como você, já sabe o que quer e o que precisa para continuar vivendo. Queira ser livre e se alguém se incomodar com isso, que morra. Não você... quero que viva. O mais intensamente e apaixonadamente.

Vocês podem estar pensando agora que eu provoquei tudo isso. Em partes sim, mas o garoto realmente dava em cima de mim com olhares e encontrões no corredor da escola. Ele queria brincar com minha cara e isso eu só percebi depois que tudo aconteceu. Fui inocente. Aprenda com meu erro e não cometa o mesmo.

Seja esperto, viado.

Conflitos Internos da Cabeça de um HomossexualOnde histórias criam vida. Descubra agora