Capítulo 4

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HOSPITAIS, POR QUE 

TÃO DESCONFORTÁVEIS?

Agosto, 2006

Julieta soube que estava em um hospital quando os cheiros de álcool gel e desinfetantes diferentes invadiram seu olfato. Era impossível não reconhecer aquele odor incômodo.

Julie não gostava de hospitais. Brancos e grandes demais, aqueles lugares nunca devolviam para ela as pessoas que amava. Sua bisavó paterna tinha morrido em um.

Julie quis resmungar ao sentir o balançar do corpo e a dor na barriga e na cabeça, mas não conseguia.

Tudo que podia fazer era ficar ouvindo os passos apressados e as vozes gritando coisas que sua mente ainda sonolenta não compreendia com certeza.

Tentou abrir a boca pela segunda vez, mas não foi possível, os olhos, tão pouco.

— Corte no abdômen, possível hemorragia interna e traumatismo craniano... Chame o chefe da neurologia agora... ― E o resto se perdeu na escuridão que a tomou.

Não soube quanto tempo ficou desacordada, mas o movimento contínuo de pessoas do lado de fora do quarto acabou despertando Julieta, que gemeu de dor ao tentar levantar da cama.

Os olhos caíram nos fios cravados em seu corpo, logo fitando o aparelho ao lado e ouvindo o bip contínuo preencher o cômodo.

Por alguns segundos, pensou que o barulho estivesse dentro da sua cabeça, girando entre suas terminações nervosas e a impedindo até de fechar os olhos. Parecia que quanto mais atenção dava ao som, mais alto ele se tornava.

O quarto extremamente branco e o cheiro tão presente de álcool gel embrulharam seu estômago.

Fechou os olhos, mas se arrependeu ao notar que com eles assim, a única coisa que podia ver eram os pequenos e irritantes pontos esbranquiçados que se perdiam entre meio ao breu.

Engoliu em seco para tentar conter a sensação ruim na garganta. Arregalou os olhos e os piscou, enfim sentindo sua voz. Havia ficado quanto tempo sem usá-la?

― Mãe?! ― chamou, impossibilitada de se mexer muito naquele estado. ― Pai?! Mabel?! ― gritou, encarando a porta do quarto, na espera de que alguém a abrisse e a tirasse daquele silêncio aterrorizante e branco.

― Julie! — exclamou Mabel. Ela saltou da poltrona onde estava dormindo antes da voz de Julieta chegar até os seus ouvidos e correu até o seu leito. ― Eu fiquei com tanto medo, Julie. ― Sentou na cadeira ao lado da cama e segurou sua mão.

― Eu também, Mabel. A mamãe vai me matar quando eu ficar melhor.

Julieta riu e recebeu um tapa fraco na mão.

― Nem fale de morte, pelo amor de Deus. Sua mãe quase desmaiou, ela ficou tão preocupada ― balbuciou, o tom baixo.

Julie franziu os lábios, culpada por ter assustado os pais. Se tivesse escutado sua melhor amiga, nada daquilo teria acontecido.

― Eu não deveria ter insistido para que você me empurrasse. Me desculpe por isso ― pediu baixinho, apertando a mão de Maria Isabela e fechando os olhos por alguns segundos.

Antes que Mabel dissesse algo, um médico entrou na sala, atraindo a atenção das garotas.

― Oi, doutor Joaquim. ― Julieta sorriu para ele.

― Oi, senhorita Julieta. ― O amigo da família entrou na brincadeira. O jaleco branco que usava lhe caía bem. ― Senhorita Isabela. ― Acenou para a filha, que riu.

As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora