Capítulo 12

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AMAR TAMBÉM É DEIXAR IR

Janeiro, 2015

O namoro durou um ano e alguns meses, os melhores dias da sua vida tinham sido vividos ao lado de Mário Simões de Alencar. Diferente das outras vezes que havia se apaixonado, Julieta não saiu de coração partido, ao menos, não totalmente. 

Pouco tempo depois do início de 2015, Mário recebeu a carta que decidiria sua vida. Ele levou o envelope para a namorada abrir, já sabendo que o conteúdo ia abalá-los de um jeito ou de outro.

― A gente pode tentar um namoro à distância ― Mário sugeriu, sentado no banquinho da área de Julieta.

― Você acha que daria certo? ― a jovem perguntou, os olhos fitando a quadra. Os braços estavam cruzados e o coração doendo.

― Meu tio passou cinco anos longe da mulher dele. Eles estão casados há vinte e sete anos. ― Deu de ombros. Era possível, podia dar certo com eles dois também.

― Nós não somos seus tios, Mário. ― Foi rude, o choro entalava sua voz. O namorado sorriu, conhecia bem Julieta. O rapaz levantou e a abraçou por trás. ― Se tu quiser, eu não vou.

― Você vai ― ela afirmou, dobrando a carta. Se virou e a colocou na mão dele. Aquele simples pedaço de papel anunciava que o rapaz tinha ganhado uma bolsa de estudos 100% gratuita em uma faculdade renomada de Portugal. Aquele simples papel anunciava o fim dos dois. ― Estudar lá é teu sonho, Mário. Que tipo de pessoa eu seria esse se eu te prendesse aqui?

― Uma pessoa apaixonada?

― Amor não prende, a gente sabe disso. E eu quero que você vá e seja feliz.

― Eu vou ser feliz se eu ficar com você.

― Você vai ser feliz até quando, Mário? Até a gente brigar e você perceber que deixou uma faculdade em Portugal para trás para ficar aqui, com uma guria que conhece a menos de dois anos? Eu sei que tu me ama, mas me colocar à frente de você e seus sonhos não me faz sentir como a princesa resgatada da torre. A idade de acreditar que eu precisava de príncipe encantado passou, Mário. Se eu te prendo aqui, significa que eu não te amo, que amo só o que você me faz sentir, essa sensação boa no peito, essa vontade de não te largar nunca, esse amor que eu sinto aqui e sei que você sente também. ― Sorriu, triste, encarando o rapaz que queria do seu lado para sempre, e que não teria. Mário não esperava aquela reação.

A verdade era que ele queria ir, queria muito, mas um pedaço dele desejou com todas as forças durante o percurso até a casa da namorada que ela simplesmente disse que ele não deveria ir. A amava e o simples pensamento de deixá-la doía.

― Julie, a gente...

― Mário, por favor, não ― interrompeu, o tom da voz pedindo clemência, implorando que não piorasse o que já doía. ― Com você morando a duas horas daqui a gente já tem tanta dificuldade para se ver ― balbuciou a jovem, fitando o chão. ― Acho que seria melhor a gente... ― As palavras não saiam.

― Terminar? ― o rapaz perguntou, sentindo uma lágrima deslizar pelo rosto.

― É o melhor. Você não pode ficar preso a mim e nem eu presa a você. Temos que seguir nossas vidas onde a gente tiver. ― Fitou o céu, tentando prender as lágrimas, mesmo sabendo que isso não seria possível.

― Eu te amo, Julie ― declarou.

Já tinha feito aquilo muitas vezes, mas parecia diferente. Era diferente. Era um eu te amo misturado a todos os outros, como a última gota de água que fez o copo derramar, molhou o chão e causou a queda de alguém.

Os dois sentiam que não havia mais piso sob seus pés, apenas o vazio ao qual estavam sendo lançados, apenas uma queda livre sem direito a um pouso sequer. Só a queda. Só o nada e a dor.

― Eu também te amo, Mário. ― O fitou. Seus olhos refletiam todo o amor que a vida não permitiria que vivessem. ― Quando você vai?

― Daqui há um mês.

― Então a gente vai aproveitar bem esse mês. Depois, por favor ― Fechou os olhos, sentindo cada pedacinho de si doer pelo pedido que iria fazer ― apaga o meu número e esquece meu endereço. Vai ser o melhor pra nós dois assim, sem risco de nos prendermos sem querer.

― Você 'me pedindo demais, Julie. ― O rapaz balançava a cabeça de um lado para o outro, não acreditando no que ouvia. ― A gente ainda pode ser amigo, não precisa ser tão radical.

― Você vai mesmo conseguir ser meu amigo? Acha mesmo que eu vou conseguir ser só sua amiga? Eu não vou, Mário, não vou mesmo. ― Riu, triste, se apoiando na parede.

O rapaz não disse mais nada. As lágrimas nos rostos de ambos já falavam tudo. Mário se aproximou dela, que não mexeu sequer um músculo.

Os dedos dele contornaram a face da namorada, sentindo a leveza da pele dela e o amor que corria no seu rosto molhado de saudade e uma despedida que nem havia acontecido ainda.

A beijou, saboreando o gosto da dor de ambos, a dor de dois jovens intensos demais para o mundo que não sabia os conter e os machucava.

Poderiam facilmente ser poesia em uma tela estranha de algum artista qualquer, mas eram só... Eles.

Talvez para os outros a atitude de Julieta fosse precipitada e extrema demais, e poderia ser mesmo, mas só os dois sabiam o quanto tinha sido difícil para manter o relacionamento morando em cidades vizinhas, como seria em países diferentes?

Julieta e Mário eram um casal que precisava de toques e proximidade para funcionar, ambos acreditavam em namoros à distância, tinham casos nas famílias que haviam dado certo, mas a questão era que eles sabiam que eles não dariam.

Um mês depois, a garota ainda o levou no aeroporto e o deu um último beijo, com o pedido de que ele voltasse um dia, ao menos para dizer que estava feliz.

Mário tinha sido o seu primeiro namorado e, talvez, seu único amor de verdade. Mas ela sabia, não seria o último namorado.

Ainda naquele ano, depois da partida de Mário, Julieta decidiu que ficaria com todos os caras que quisesse. Estava solteira e mais madura, merecia se dar esse voto de confiança.

Mas, mesmo que quisesse se fazer de forte, ainda precisou de dois meses para conseguir se sentir livre mesmo, depois disso, ficou com vários rapazes, em festas, baladas, no colégio.

Podia conter a vontade de ligar para Mario — por opção dela, tinham perdido o contato realmente —, só não podia conter seus pensamentos. Não houve um dia daquele ano, e dos outros também, que ela não se perguntasse como estaria seu ex.

Mabel ia sempre com a amiga para os encontros e festas impedir que ela fizesse besteira. Vinicius também ia, embora odiasse lugares com muita gente, fazia um sacrifício pelo bem das amigas. Além disso, ele gostava de Isabela.

Qualquer oportunidade de ficar próxima da garota era um presente para o rapaz. A menina também gostava dele. O que faltava era um empurrão, empurrão esse que não aconteceria enquanto a amiga dos dois não saísse da fossa.

Ainda em 2015, já com 18 anos, Julieta conheceu Marcelo em uma das festas, tinha se dado bem com o rapaz, melhor do que o esperado, e ele beijava bem demais para que ela não levasse isso em conta. Começaram um namoro cinco meses depois.

No início, tinham optado por um relacionamento aberto, mas, com o tempo e a proximidade, decidiram fechá-lo. O namoro durou até Julie perder seu chão e a depressão chegar, depois disso, nada foi como antes.

Nem a vida, nem Julieta.

As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora