Capítulo 19

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ACEITE OU NÃO,

É REAL

Fevereiro, 2016

O sol já não brilhava no alto do céu, mas as escadas do colégio ainda estavam quentes.

― Você vai ter que aceitar isso ― Mabel murmurou quando Julieta parou de rir e a encarou, percebendo que Isabela não estava a acompanhando no riso.

A jovem estava sentada na escada do colégio, observando os últimos alunos saírem. Tinha sido o segundo dia de aula. As duas haviam ido desejar boa sorte aos colegas que cursariam o terceiro ano em 2016.

― Aceitar o quê? ― perguntou, séria. ― Você não está doente, Mabel. Isso é alguma piada de muito mal gosto. Foi seu irmão que arquitetou tudo isso, não foi? Parece bem o tipo de humor que ele curte. ― Julieta revirou os olhos, sentando-se ao lado da amiga e a fitando, à espera de que ela confirmasse logo.

Maria Isabela sorriu para a amiga, mas negou, os olhos marejados.

― Eu já estou fazendo o tratamento, Julie. Faz um mês que descobrimos. Dia 02 de novembro de 2015. Não se pode esquecer a data que sua vida dá uma girada assim, não é? ― Riu, mexendo na pulseira que Julieta havia dado de presente de aniversário no ano anterior. O tom embargado cortou o coração de Julieta. ― Papai estranhou eu estar esquecendo de coisas óbvias e tendo desmaios constantes. No quinto desmaio, eu estava tomando banho. Mamãe me achou caída no banheiro. Ela achou estranho eu demorar tanto tempo lá dentro e foi ver o que havia acontecido. Só me lembro de estar com o shampoo no cabelo e depois, bum, estava em uma maca, indo fazer milhões de exames.

― Você estava tendo desmaios constantes? Por que não me contou isso? ― Julie levantou da escada e desceu alguns degraus, inconformada que a amiga estivesse dizendo que estava com câncer.

Não podia ser verdade. Existiam outros motivos para desmaios, não existiram? Motivos que não fosse câncer. Justamente a doença que havia levado sua bisavó. O universo estava testando-as?

― Você estava tão atarefada com o início da sua faculdade de História, Julie. Eu não quis te incomodar com isso. E não achei mesmo que fosse algo sério. Eu andei comendo tão pouco nos últimos meses de 2015. Ano passado foi tão agitado, tão confuso, decisões para tomar, faculdade para escolher, era coisa demais.

Julieta enfiou as mãos nos cabelos, os puxando para trás.

― Mabel, por favor ― balbuciou, suplicante. ― Diz que está brincando. Eu juro que não fico brava com você, eu juro por tudo que a gente ama.

― Eu queria estar, amiga. Queria mesmo. Se serve de algo, um médico muito bom, amigo do papai, disse que eu tenho chance de sair bem se fizer o tratamento até o fim. Mas...

Julieta a olhou. Era verdade, podia ver nos olhos da amiga. Tinha que aceitar a realidade e ajudar Mabel, precisava ser forte.

― As chances de não ficar também são grandes ― concluiu, fitando o chão.

Um silêncio sepulcral se instalou, mas não durou muito.

― Vinicius e a Marina já sabem?

― Eu contei há alguns dias, pedi que eles não contassem nada para você, não antes de você estar pronta para iniciar a faculdade. Eu não vou me perdoar se você parar a sua vida por minha causa, Julie. ― Olhou-a, o pedido nas entrelinhas. Ela deveria seguir em frente, independentemente de qualquer coisa.

― Como o Vini e a Mari reagiram? ― Julieta mudou de assunto. Não iria entrar naquela questão ali.

― A Mari tentou ser forte por mim. O Vini chorou muito, minha roupa ficou encharcada, literalmente.

As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora