ANIVERÁRIOS NEM
SEMPRE ACABAM BEM
Agosto, 2006
Era manhã de vinte e oito de agosto, e a rua inteira sabia que não se tratava de mais uma segunda-feira monótona.
Todos tinham recebido a visita de uma animada Julieta um mês antes. A menina Martinelli sempre se encarregava de lembrar a todos do dia do seu aniversário.
Seus pais sempre faziam uma festa para comemorar, e por isso tinha se tornado um hábito seu se adiantar e convidar as pessoas bem antes.
Luciana e Patrick não sabiam se teriam dinheiro para cumprir a tradição e fazer a festa aquele ano, mas Julie não havia prestado atenção a esse detalhe.
E foi assim que no dia vinte e oito de julho, com a sua costumeira roupa amarela, ela saiu distribuindo os convites não-oficiais.
— O senhor não pode deixar de ir, seu Alberto, vai ter bolo e suco — disse ao senhorzinho que vivia na quinta casa depois da dela e o viu sorrir.
Alberto era um senhor de oitenta anos, viúvo, que morava sozinho e adorava ouvir Julieta contar suas aventuras.
Ela era como uma neta que não havia tido e que sempre arrancava sorrisos dele, mesmo nos momentos tristes, porque Julieta tinha a alegria da meninice e era impossível negar algo a ela, quem diria um sorriso.
— Eu vou, menina, pode deixar que eu vou. Já faltei alguma festa sua? — O senhor enrugou as sobrancelhas em uma expressão que Julie achava engraçada.
Desde que Alberto havia se mudado para o bairro em 2001, a menina o convidava para suas festas de aniversários e ele nunca faltara em nenhuma.
— Não. E eu espero que não comece agora! — Julieta apontou o dedo indicador na direção do homem de oitenta anos como se estivesse o repreendendo adiantadamente, o que arrancou uma risada longa dele. — Eu já vou, seu Alberto. Ainda tenho muitos convites para entregar e logo, logo minha mãe me chama para entrar. Até depois.
E lá se ia ela, batendo palmas e apertando campainhas. Os vizinhos já conheciam a menina espevitada do cinquenta e oito e, como sempre, receberam os convites sorrindo.
Alguns guardaram o pequeno papel, mesmo que logo fossem esquecer, ou acabar perdendo em alguma gaveta; outros o rasgaram assim que a garotinha deu as costas.
Quase ninguém dava valor a um convite feito em uma folha de caderno pintada de giz de cera amarelo, onde só havia os dizeres da hora e dia, junto com um "Eu amo amarelo, se for me dar algo, me dê algo amarelo!" rabiscado no canto do papel. Alfredo era a única pessoa da vizinhança que tinha todos os convites de Julie guardados.
Os pais dela só confirmaram que poderiam fazer a dita festa uma semana antes do seu aniversário. Correria e desespero foram sinônimos do que ocorreu naqueles sete dias insanos.
Apesar de tudo ser simples, a família tinha muitos amigos e nenhum poderia ficar de fora, e o que isso significava? Precisavam de comidas e bebidas para um batalhão.
Foi lá por volta das duas e meias da tarde que os convidados foram chegando e Julieta, vestida em seu macacão amarelo preferido, não se sentiu nada infeliz de receber eles e seus presentes.
Embora a festa tivesse sido organizada meio às pressas, todos que entravam na casa enxergavam o carinho que havia nos detalhes.
Os balões amarelos estavam presos à parede azul da cozinha e adornavam o nome Julieta, que se mantinha ainda inteiro no centro dela — todos sabiam que não demoraria muito para que um dos primos de Julie arrancasse alguma letra ou balão.
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As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)
RomanceREPOSTEI O QUE VIRÁ A SER UMA VERSÃO EXCLUSIVA PARA O WATTPAD Julieta era uma jovem sorocabana que sempre teve duas paixões: ler e escrever cartas. Se pudesse, teria se chamado Capitu e viveria do gênero epistolar. Mesmo tendo uma vida cheia de alto...