Capítulo 24

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PARA OS MELHORES PAIS DO MUNDO

Papai e mamãe,

eu sinto muito por ter que partir, por causar essa dor em vocês, embora eu saiba que não há culpados.

A morte em si não me apavora, mas a saudade que já sinto martelar meu peito, essa, sim, me amedronta demais.

Eu não sei o que vou encontrar e talvez isso seja um fato que me conforta. Posso imaginar tia Lídia lá no céu, rindo para o vento e contando alguma história engraçada da sua infância, tio Lúcio cantando alegre alguma canção da juventude, e tantos outros entes queridos que se foram.

Eu acho que nunca perguntei a vocês como lidaram com a morte deles, porque temia machucá-los, mas eu deveria ter feito isso, quem sabe assim saberia como relembrá-los a fazer isso na minha ausência.

Por favor, mamãe, não deixe de ir aos lugares que me prometeu! Espalhe os bilhetes que lhe pedi. Quero que neles esteja escrito que ali eu estive. Não estarei em físico, talvez em espírito, mas com certeza terei estado nos cantos em que seus pés tocarem, porque, afinal, sempre estarei em seu coração.

Papai, eu sei o quanto é difícil para o senhor aceitar que perdeu a sua filha para uma doença quando é você que salva as pessoas, que cura as doenças. Se estivesse ao meu lado agora, você diria que não, que é Deus que faz isso, e eu não discordaria, mas me orgulho de que o senhor, papai, ajudou pessoas a curarem-se.

Como provavelmente não poderei ir para a comemoração de seus 25 anos de casados, deixo algo para que leiam no dia. E sim, eu espero que vocês comemorem isso, por mim, esteja eu lá ou não.

Algumas palavras para os melhores pais do mundo, em comemoração aos seus 25 anos juntos:

Vocês sempre foram um exemplo de casal, amorosos, pacientes, sabiam quando calar e quando falar. E eu imaginei, desde pequena, que um dia poderia ter um amor como o de vocês.

Eu sei, estou indo para um caminho triste ao dizer isso, mas a verdade é que eu vivi esse amor, como Vinicius, e apesar do pouco tempo que tivemos, eu pude entender o motivo de mamãe sempre se calar quando ficava longos minutos a fitar seus olhos, papai.

Era o amor a fazendo perder as palavras. Na carta que deixei ao Vinicius, queria escrever linhas e mais linhas, mas não consegui traduzir tudo que sinto e me sobras-te a certeza de que o amor é isso: impossível de ser colocado em palavras, pois é uma infinidade de coisas, e eu não sou capaz de dar nomes a elas.

Por isso é lindo viver o amor, por mais pouco que seja o tempo que há para ele. Eu ainda fui sortuda. Vivi, dancei, cantei, amei e ainda pude me despedir das pessoas que amo. Há almas por aí que nem isso puderam. Me sinto triste por partir, mas nunca direi que fui derrotada por essa doença.

Ela não vai me tirar vocês, não vai me tirar o amor da minha vida. Ela pode ter levado meus cabelos e me deixado cansada, ela pode levar até o meu respirar, mas nunca será capaz de me apagar dos seus corações. Eu viverei em vocês, para sempre.

Da menina que ensinaram a viver,

Mabel.

As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora