Capítulo 25

23 6 28
                                    

DESCULPA SE TE FIZ CHORAR, MAS OBRIGADA POR COMPARTILHAR COMIGO O TEU OCEANO

Dezembro, 2025

Se a vida era uma montanha russa de emoções, então a morte era aquilo, aquele vazio angustiante no peito, a sensação de um buraco a preencher o seu tudo. Só as lembranças ruins e o nada a completavam ali. E a inexistência de algo não podia completá-la de um jeito agradável.

— Eu não consigo lembrar dos Natais bons que tive com a Mabel, dos momentos de paz com meus pais e meus amigos, com o Mário. Por que só vem os ruins? Eu não tenho nenhuma lembrança doce mais, todas se perderam, é isso? — indagou, triste. A dor no peito não estava ali, mas o vazio, sim. E o vazio podia ser bem pior do que qualquer dor alucinante.

O Sr. Anônimo sorriu, como se ela tivesse achado a chave para todos os problemas da humanidade. Talvez, fosse para os seus. E isso também era muito.

— Claro que tem, menina! Você pensou tanto nas suas lembranças tristes, que acabou se esquecendo das boas. Infelizmente, agora não há como voltar atrás, mas acredite que o amanhã será melhor. Vamos, segure isso! — Ele estendeu a pequena bola vermelha. Julieta relutou, mas acabou esticando a mão e prendendo o pequeno enfeite entre os seus dedos. — Pense nas suas lembranças mais doces e se prepare, pois elas irão ser as últimas aqui. Seu tempo nesse plano acabou, Julieta.

Ela apertou os olhos e a bolinha o máximo que pode e se concentrou no primeiro Natal que passou com Mabel.

"Havia uma árvore de Natal pequena, recheada de presentes embaixo e luzes de diversas cores que contornavam toda a extensão dela.

As duas meninas estavam deitadas sobre um tapete felpudo, cercadas por vários lápis de cores e folhas de papel em branco e outras já cobertas por desenhos natalinos.

— Você não acha que esses adultos deviam parar de brigar e vir ver a árvore de Natal com a gente? — Maria perguntou, sorrindo. Uma versão de dez anos de Julieta deu de ombros e voltou a colorir um desenho de anjinho. — Quando eu crescer, quero ser como essa árvore, alta, mas meiga, forte, mas que sabe se dobrar quando necessário. — Maria nunca parecia ter a idade que tinha, ela sempre pensava além, havia nela uma maturidade que Julieta nunca sequer sonhei em ter. — Ah! Eu também quero ser assim, recheada de presentes para as pessoas que eu gosto... porque o Natal é isso, sabia, Julie? O Natal é dividir o que temos com as pessoas que amamos e até com quem não conhecemos, e não aquilo que nossos pais estão fazendo, brigando por... — Julie levantou os olhos a tempo de ver ela com a mão no queixo, como se buscasse algo na memória — política! Eu sei que política é importante, mamãe me ensinou que é, mas hoje é dia de celebrar. — Maria sorriu, levantou-se do chão e pegou o desenho da amiga. — Você desenha muito bem! Agora, vamos brincar na quadra com o Theo e os outros?

Julieta levantou, puxou-a pela mão e foi até seus pais.

— Maria disse que o Natal é dividir, pai. — Sorrio, olhando dele para ela. Seu pai, que estava argumentando algo sobre inflação com seu tio Patrício, calou-se e a olhou com uma expressão engraçada no rosto. — O senhor acha que ela está certa, papai? — Ele assentiu, as sobrancelhas arqueadas, esperando que a filha fosse embora para concluir um ótimo argumento. — Então, vamos dividir nossa comida com as crianças que estavam sozinhas na porta da igreja ontem? — Ela o viu engolir em seco antes de Maria a puxar de volta à sala.

— Não adianta conversar com os adultos, Julie, eles não vão nos ouvir. Vamos brincar, quando a gente for adulta, vamos mudar o mundo!

As duas sorriram e foram se divertir com as outras crianças. Naquele dia correram, saltaram e foram felizes, como só crianças podiam ser, mas Julieta não tirou da cabeça as crianças que pediam comida na porta da igreja.

As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora