Prólogo

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Minha doce hermanita,

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Minha doce hermanita,

você se lembra da primeira vez que entendeu que alguém que amava não te abraçaria nunca mais porque estava morto?

Eu me lembro. Fazia frio dentro e fora de mim, e, claro, a ficha não caiu de imediato.

Primeiro veio a negação.

Me lembro de ter chorado sobre o caixão da nossa avó enquanto pedia para que ela levantasse dali.

Eu daria tudo pra que me contasse mais uma vez sobre o seu encontro com um brasileiro atrapalhado que estava de passagem pelo México e o como acabou vindo para o Brasil apaixonada.

Lembro do nosso pai me puxar para perto dele e dizer que tudo ficaria bem, como ele sempre dizia, mesmo que soubesse que não iria. Nossa mãe estava no canto da sala, abraçada ao vovô.

Nosso abuelito não chorava, não queria fazer a filha sofrer ainda mais, suponho, mas lembro de ter visto a tristeza no olhar dele quanto suas íris castanhas como as minhas percorreram a sala repleta de parentes e pousaram sobre mim.

Ele tentou sorrir, não conseguiu, porém, seus lábios fizeram outra coisa. Balbuciaram que abuelita vivia em nossos corações.

Não foi difícil papai me levar para o quarto, afinal, meu corpo não me obedecia muito.

Antes que ele fechasse a porta, pedindo que eu descanse um pouco, perguntei se podia trazer você para ficar comigo.

Minha hermanita linda, você ainda não entendia nada do que estava acontecendo, e era por isso que seus olhos só tinham alegria. E eu precisava disso.

Mabel adentrou o quarto com você dormindo em seus braços pouco depois do meu pai voltar para o velório da sogra.

Minha melhor amiga te deitou em sua cama e se sentou na ponta da minha, aos meus pés. Mabel sempre esteve comigo. Para tudo.

Naquele instante, seus olhos tinham tristeza, mas também guardavam a certeza de que ela ficaria ao meu lado para que eu superasse a dor que batia no meu peito.

E ela esteve. Na fase de raiva, na da barganha, na depressão e na aceitação - ou como eu prefiro chamar: na fase onde a dor não sangra todos os dias -, em todos os momentos.

Tive outros lutos para enfrentar e ela também. Encontramos e demos adeus a outras pessoas, fizemos amigos, perdemos, outros chegaram, e a vida seguia seu fluxo.

Eu continuava não sendo a melhor pessoa para lidar com a morte, mas meus amigos e nossa família me mantinham na linha, me lembrando que as pessoas que amamos vivem em nossos corações para sempre.

O problema é que depois de tantas perdas acumuladas, passamos a nos perguntar: será que só isso basta?

No meu caso, eu respondo:

Acho que não bastou, e é por essa razão que estamos aqui, meu botão de rosa.

De sua hermanita,

Julieta.

As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora