I

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Entro correndo em meu apartamento e subo a escada de dois em dois degraus. Apresso meu passo para chegar o mais rápido possível no quarto, mas já perto da porta, o que vejo me faz parar de repente. Minha esposa dorme apoiada em dois travesseiros, quase totalmente sentada, suas mãos segurando protetoramente a barriga de quase seis meses. Sinto meus olhos encherem de lágrimas. Quando penso que não posso amá-la mais do que já amo, cenas simples como essa acontecem para me mostrar que não há limite pro amor que sinto por Juliana. Contrariando a pressa que me consome, tiro os sapatos e entro no quarto na ponta dos pés. Sei o quanto tem sido difícil para ela dormir com esse barrigão. Idas e vindas infinitas ao banheiro, dificuldade para respirar, um neném agitado dentro de si nas horas mais inesperadas. Não tem sido fácil, mas tem valido cada segundo. Ela respira fundo e se mexe, virando levemente a cabeça para onde estou. Ela abre os olhos lentamente e sorri quando me vê, aquele sorriso que sei que é meu, e que só aceito dividir com a pessoinha que até então, ainda mora dentro dela.

- Oi, meu amor. - Ela diz um pouco rouca, e se ajeita melhor na nossa cama.

Finalizo minha distância até ela e me sento ao seu lado. Tomo sua boca em um selinho demorado e encosto nossas testas.

- Me perdoe por hoje. - Olho em seus olhos.

- Se essa criança herdar seus olhos, Deus terá que ter piedade de mim, porque nunca mais serei capaz de dizer um não dentro dessa casa. - Ela ri e me beija, dessa vez fazendo questão de juntar nossas línguas.

- Quero que ela seja igual você. - Falo, acariciando seu rosto. - Você não ficou mesmo chateada?

- Claro que não, amor. Eu sei como as gravações estão corridas. - Ela fala e se vira para sentar entre meus braços e pernas, suas costas apoiada em meu peito. Ela encaixa sua cabeça em meu pescoço e eu coloco minhas mãos em sua barriga, acariciando o pequeno milagre que fizemos.

- E aí? Conseguiu ver? - Pergunto, sem conseguir me conter. Ela mexe a cabeça negativamente e coloca suas mãos sobre as minhas, entrelaçando nossos dedos.

- Nadinha de nada, como das outras vezes. Super preguiçoso, praticamente a mesma posição, perninhas fechadas e orelhinha presa na mãozinha. - Ela se vira e olha para mim. - Será possível que eu vou ser somente a pessoa a carregá-lo?

Dou risada e a beijo, aproveitando cada segundo daquele momento que eu sempre quis viver. Juliana me mudou desde nosso primeiro encontro. Eu costumava dizer que Samuel se tornou uma pessoa melhor quando conheceu Marocas, mas isso era apenas um espelho da vida real. Desde o nosso encontro em SP, eu sabia que seria ela a mulher que guiaria o resto dos meus dias.

- Tenho certeza que é uma menina. - Digo, já imaginando os traços de Juliana desenhados no rosto de um bebê, do nosso bebê.

-  Engraçado, eu também tenho essa sensação. - Ela se aconchega mais ainda em mim.

- Eu proponho que não tentemos descobrir de novo. - Ela me olha com uma cara de interrogação, então continuo. - Faz três meses que estamos tentando descobrir o sexo. Vamos deixar ela chegar, ou ele, claro, e aí saberemos. Não vai fazer diferença.

Ela franze as sobrancelhas, e sei que está pensando no que acabei de dizer. Então ela sorri, e seus olhos se fecham levemente.

- É, não vai. Você tem razão. E sabe porque? - Ela agora vira o corpo todo para mim, abraçando meu pescoço da melhor forma possível.

- Porque? - Eu ergo as sobrancelhas. Ela ri e eu cheiro seu pescoço, sentindo um arrepio percorrer seu corpo.

- Porque essa criança é nossa, fruto do nosso amor, só isso que importa. - Ela segura meu rosto entre as mãos e toma meus lábios. Ambos rimos entre o beijo quando tento puxá-la para mais perto e sou impedido por sua barriga. Não vejo a hora de ter nossa filha em nossos braços.

- Ei! - Me afasto rapidamente com os olhos arregalados. - Esse chute foi forte.

- Parece que troca o dia pela noite, espero que não seja assim quando nascer. - Ela suspira.

- A barriga já está incomodando?

- Não muito, mas começou a pesar. E minhas costas doem um pouco também.

- Você quer uma massagem? - Pergunto baixo, sei muito bem onde nossas formas de relaxar chegam. Com a gravidez o processo ficou um pouco complicado mas ainda prazeroso e Juliana parece ter dobrado seu apetite sexual.

- Bom, eu ia tomar um banho agora mesmo. - Ela ri travessa.

- Eu posso te ajudar? - Faço uma cara de menino pidão e ela assente.

****

Nicolas checa a temperatura da água antes de me puxar para o box, desde que descobriu que seria pai, ele se tornou ainda mais protetor. Liga para saber se eu comi ou me hidratei, se dormi bem e até mesmo quantas vezes fui ao banheiro. Eu sempre reviro os olhos para todas as recomendações exageradas.

A água quente cai em minhas costas e alivia meu cansaço, eu sinto os músculos relaxarem, a água escorre pela pequena grande protuberância em meu ventre enquanto Nicolas passa o sabonete líquido de lavanda em minha pele com cuidado. Seus olhos ternos me enchem de amor quando ele me olha como se eu fosse a coisa mais importante da sua vida.

Quando termina de me banhar, ele ergue uma grande toalha e faz questão de secar cada partezinha de meu corpo.

****

- Deita na cama e me espera. - Sussurro em seu ouvido a empurrando gentilmente para o quarto. Troco minha roupa colocando apenas uma cueca e um shorts, procuro entre os armários de nosso banheiro até achar um pequeno vidro de líquido roxo. Minha mãe havia sabiamente nos presenteado com esse óleo de massagem após uma de suas viagens para a Tailândia. Deixo o banheiro e encontro um quarto de luz baixa e silencioso, o único barulho vem do ar condicionado ligado. Juliana está deitada de lado meio inclinada, tudo que cobre seu corpo é uma pequena calcinha preta.

Me aproximo devagar sentando na beirada e me ajeitando melhor, minha mulher está de olhos fechados e respirando calmamente, mas eu sei que ela não está dormindo. Despejo um pouco da essência na mão e passo uma na outra antes de tomar suas costas, e a sinto estremecer levemente. Começo uma massagem lenta, tentando pegar os pontos certos, ela se retrai quando eu acerto alguma área mais dolorida e, minutos depois, está totalmente relaxada. Puxo o edredom e dou um beijo em sua testa.

- Boa noite, meus amores. - Sussurro para ela.

- Boa noite, amor - Ouço sua  voz fraca e sonolenta antes de apagar a última luz que resta acesa.

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