IV

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Bocejei pela segunda vez quando passei pela porta de casa, nem acreditava que estava voltando para minhas meninas. Amava minha profissão, amava dar vida a uma pessoa que pede por um espaço na arte, mas era cansativo na parte física e mental. Deixei minha mochila em cima do sofá, bem ao lado de um mordedor infantil. Sorri balançando a cabeça e subi as escadas pelo apartamento silencioso.

A porta do quarto de Catarina estava aberta, sinal que ela não estava dormindo lá. Abri com cuidado a porta do meu encontrando um ambiente vazio porém acolhedor, a cama estava remexida no lado da minha esposa e uma pequena chupeta pousava no meio da mesma. A porta da varanda estava semi aberta, nem mesmo olhei no relógio, mas sabia que era muito tarde para as duas mocinhas estarem ali.

- Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado... – a voz calma e materna da Ju preenchia a varanda e junto dela, apenas o som de uma rápida sucção. Cat provavelmente estava mamando. Eu amava presenciar aqueles momentos, o poder que Juliana tinha de alimentar nossa filha era a coisa mais bonita de se olhar, eu a apoiava e estava com ela sempre que possível nesse momento.

- Muito tarde para estarem acordadas, não? – falei em tom baixo mas não o suficiente, Catarina largou o seio da mãe e murmurou algo em seu próprio idioma. Juliana ajeitou sua blusa a colocando sentada, ela usava uma blusa de manga, fralda e a meia em seu pé gordo a deixava adorável. – Vem no papai, Cat. – estiquei meus braços para ela que sacudiu as mãozinhas.

- Esse dengo de vocês dá mel demais – Ju revirou os olhos dobrando o pequeno cobertor. Depositei um selinho em seus lábios antes de pegar nossa menina.

- Papai morreu de saudades – beijei o pescocinho, eu havia despertado nossa pequena fera. Os olhinhos claros e curiosos me olhavam enquanto os dedinhos tentavam pegar meu queixo.


- Só da Catarina? – indagou. Deixe-me dizer o quão linda está minha mulher, posso afirmar que a maternidade trouxe luz para seus olhos, um sorriso ainda maior – mesmo que cansado – para seu rosto e curvas ainda mais bonitas ao seu corpo. Juliana era o próprio amor em pessoa. Todos os dias eu a lembrava do quão especial e foda ela era por trazer nossa menininha ao mundo.

- Vamos encher a mamãe de beijos, Cat? Ela tá com ciúmes! – a bebê olhou em meus olhos enquanto comia um dedinho.

- Não seja idiota – ensaiou em levantar mas a puxei novamente enquanto beijava seu pescoço – Eu amo você.

- Eu também amo você. – ela aprofundou em um beijo cheio de saudades mas um gritinho cortou qualquer tentativa de prolongar.

- Você é uma pequena empata – mexi em seu narizinho – Sim, você é.

- Ela é sua agora – Juliana levantou segurando o cobertor e seu celular. Seis meses após o parto e minha mulher estava a cada dia melhor, ainda mais com aquela micro camisola – Atiçou, agora aguenta. – Passou por mim ajeitando o cabelo mas não sem antes eu deixar um tapa em sua bunda.

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