III

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- Mãe, você deveria ter me deixado vir com meu carro. - Digo, entrando no banco do passageiro e colocando o cinto de segurança, conto 32 segundos para que minha mãe faça exatamente a mesma coisa do lado do motorista. Eu a amo, mas por que tão devagar?

- Eu achei que se você viesse com seu carro você provavelmente sairia com uma mão feita e outra não. E a julgar pela sua pressa no momento, eu estava certa. Não faz nem duas horas que saímos de casa, por Deus, filha. Seu marido é plenamente capaz de cuidar da minha neta por um curto período de tempo. - Minha mãe responde virada para mim, e eu só desejo que ela engate o carro e saia pelo estacionamento, coisa que ela faz um minuto depois, vendo o quão desesperadamente eu olho para o relógio do painel.

- Mãe, eu nunca saí de perto dela desde que ela saiu de dentro de mim. - Tento explicar o que provavelmente ela já sabe, só precisa lembrar. Ela já esteve nesse papel.

- Eu já estive no seu lugar, filha. - Sorrio com essa sintonia. É tudo que eu desejo ter com minha filha. - Mas você não pode ser só mãe, você sabe disso. Esse foi seu discurso a gravidez inteira. Você é uma filha dedicada, uma mulher maravilhosa, uma amiga leal, uma atriz adorada, uma esposa feliz. Ser mãe tem que acrescentar um adjetivo a mais à essa lista, e não apagar todos eles. Você nunca exercerá seu papel de mãe tão plenamente se você esquecer essas outras mulheres em algum canto, filha. - Ela termina de falar no exato momento em que para o carro na entrada de meu condomínio, e eu tento conter minhas lágrimas ao olhar para ela.

- Obrigada, mãe. Eu queria poder agradecer por você sempre ter as respostas, pelo menos para as minhas perguntas. - Ela sorri para mim, enxugando minhas lagrimas e trazendo meu rosto para si, para poder beijar meus olhos, como ela faz desde que eu era criança.

- Um dia você vai ter todas as respostas da sua filha, meu amor, se já não tem. E aí você vai ver que a única gratidão que você quer dela, é que ela seja feliz. Agora vai, que eu sei que seu coração está lá naquela cobertura. - Balanço a cabeça em afirmação, e beijo seu rosto, abraçando minha mãe com toda força que tenho.

- Eu te amo, mãezinha. - Incrível como depois que minha neném nasceu, toda chance que tenho de chamar minha mãe de mãe, eu o faço. É como se eu quisesse gravar seu olhar cada vez que ela escuta essa palavra saindo de minha boca. Saio do carro e ela espera eu entrar no condomínio para poder partir. No elevador, percebo como meus seios doem, cheios do amor que alimenta minha pequena. Entro em meu apartamento segurando a respiração, pronta para ser esfaqueada pelo choro faminto de minha filha, mas tudo que eu ouço é o silêncio. Lavo rapidamente minhas mãos no lavabo e subo devagar as escadas, parando na porta do quarto dela, e o que eu vejo me faz querer congelar o tempo para sempre naquela memória. Meu marido está sem camisa, semi deitado na cadeira de amamentação, e em seu peito, apenas de fralda, nossa filha ressona serenamente, como se eu nunca tivesse saído de seu lado. Ela já sabe que eu a deixei com a única pessoa que é capaz de amá-la tanto quanto eu. Não sei quanto tempo fico parada observando os dois, mas quando a dor em meus seios se torna difícil de suportar, minha neném balbucia, como se o nosso tempo estivesse perfeitamente cronometrado. Ao menor movimento de nossa filha, Nicolas abre os olhos e me vê, sorrindo para mim.

- Acho que alguém está começando a ficar com fome. - Ele sussurra, se ajeitando na cadeira. - Está ouvindo os roncos da minha barriga? - Sorrio, balançando a cabeça e revirando os olhos, indo em direção à eles.

- Você ainda está muito novo para começar a fazer essas gracinhas de tio, Nicolas. - Ele me entrega ela enquanto faz uma careta de descrença pelo que acabei de lhe dizer.

- Ouch, essa doeu. Pelo menos sempre serei quatro anos mais novo que você, baby. - Ele levanta da cadeira, me cedendo o lugar, enquanto eu lhe lanço o olhar mais perigoso que consigo fazer, ele sempre me cutuca com essa diferença de idade entre nós, sabendo o quanto isso me incomodou no início.

- Isso não me atinge mais, meu amor. - Lhe devolvo sem olhar para ele, posicionando nossa filha em meu seio, ela começa a sugar sem nem abrir os olhinhos. Então eu o encaro. - Você fez uma filha em mim, você é meu pra sempre. - É a vez dele revirar os olhos.

- Eu já era seu muito antes disso. - E então ele sela nossos lábios, e estranha quando aprofundo o beijo, sem deixar porém de aproveitar o momento. - Deliciosa. - Ele sussurra para mim assim que nos separamos. - Vou preparar algo para jantarmos.

Observo ele sair pela porta, reparando em sua bunda, como sempre. Espero que essa genética recaia sobre nossos filhos. Minha bebê resmunga, abrindo os olhinhos e esfregando seu narizinho em meu seio e eu troco ela de lado, o que faz com que ela volte a se concentrar em sugar meu leite. Faço carinho em sua cabecinha, agradecendo a Deus por ter me escolhido como sua mãe. Como eu pude viver tanto tempo sem ela? Como se soubesse o que estou pensando, ela para de mamar e, em um reflexo, sua boquinha forma um quase sorriso. Seus olhinhos estão prestes a se fechar de novo, então eu a ergo para poder ajudá-la a arrotar. Pelo cheirinho de seus cabelos, Nicolas a banhou enquanto eu estava fora. Meu peito se enche de orgulho pelo pai e marido que ele se torno, que eu sempre soube que ele se tornaria. A coloco no pequeno trocador e após colocar um fralda limpa, visto um pijama leve em minha menina, colocando ela em seu saco de dormir. Dou mais um beijinho em sua cabecinha e a deito em seu berço, cantando nossa música enquanto diminuo a intensidade de seu abajur.

Desço as escadas seguindo o rastro de um cheiro que faz meu estômago gritar de fome, porém a imagem que tenho ao entrar na cozinha faz a pontada em meu ventre gritar ainda mais alto. Mordo os lábios enquanto pigarro fracamente, somente para que ele note minha presença. Ele se vira em minha direção, e a visão de seu peito nu me faz esquecer como levar oxigênio ao meu pulmão.

- Perdeu algo aqui, esposinha? - Ele provoca, colocando a língua em seu lábio inferior. Eu caminho até ele, puxando sua boca para minha enquanto agarro os cabelos de sua nuca. Ele não esperava por isso, e a surpresa o faz puxar meu corpo para o seu com mais força do que o normal. - Juliana... - Ele me alerta, descendo sua boca para meu pescoço, que eu sei que ficará marcado. - Não me provoca, eu não sei quanto tempo mais eu aguento.

- Você realmente perdeu a noção do tempo, né maridinho? - Provoco também, puxando seus cabelos para que a cabeça dele fique na direção da minha, seus olhos nos meus. - Faz exatamente 4 dias que meu resguardo acabou. - Sorrio de canto de boca, vendo ele soltar meu corpo e se virar para desligar o que quer que ele esteja preparando no fogão. Então ele se volta para mim novamente, e eu engulo em seco vendo o tom escuro que domina seus olhos sempre tão claros. E mal tenho tempo de respirar antes que eu esteja em seus braços, antes que ele tome meus lábios nos seus, antes que ele me deite no sofá e me faça sua novamente.

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