Liam
Quando acordei na manhã seguinte, desci para tomar café. A mesa estava perfeita como da última vez.
Mas quando espiei fora da janela, não encontrei Natalie lá fora.
Apenas Haven.
Será que ela realmente havia saído do quarto?
Ou estava apenas me evitando?
Ontem nós dois havíamos passado do ponto.
Fizemos confissões que não deveriam ter sido ditas.
E quase fizemos algo que poderíamos nos arrepender mais tarde.
Por mais que eu quisesse verdadeiramente beija-la tão mal, agora que o beijo não aconteceu, eu conseguia perceber que talvez fosse melhor que ele não acontecesse.
Não deveríamos atravessar essa linha.
O que eu poderia oferecer à ela, afinal?
Eu morava longe.
E toda vida dela era aqui em Utah.
Merda.
Eu precisava recuar, ou talvez antecipar minha volta para Nova York.Abri a porta dos fundos, e sai para fora na mesma hora que minha Vó entrou na cozinha.
— Bom dia, Liam. - saudou ela vindo atrás. Senti suas mãos se apoiarem em minhas costas quando ela desceu o degrau para sacada.
— Bom dia, Vó.
Será ela se lembrava do que quase flagrou ontem?— Como você se sente? Não jantou com a gente ontem.
Soltei uma risadinha para disfarçar meu constrangimento. Mantive meus olhos em Haven, ela estava novamente fazendo seu chá da manhã com suas bonecas.
Mas dessa vez sua mãe não estava participando.
Nem eu.— Estou melhor agora, e dormi bem esta noite. - contei, em parte isso era verdade, mas não havia como ficar cem por cento bem depois de ontem.
Eu precisava falar com Natalie.
Eu precisava saber como ela estava.
Como se sentia.— Ei, você aí. - chamou a garotinha, passando seu antebraço pela testa, afastando assim, sua franja dos olhos.
Estava fazendo muito calor, talvez mais do que ontem. Eu só não sabia como Haven estava suportando brincar nesse forno.
— É seguro ela estar brincando abaixo do sol? - perguntei para minha Vó, mesmo sendo dez horas da manhã. Eu podia sentir que a temperatura estava alta.
Além de não ter qualquer vento balançando as árvores. Estava abafado, e as nuvens não estavam conseguindo esconder o sol.
Ele aparecia cada vez mais forte.— Seguro não é, mas faça-a sair para você ver.
Franzi o cenho, e olhei para a menina. Ela estava usando uma saia lilás encima de uma calça preta. E sua blusa também fazia conjunto com a saia. Ambas lilás.
E em suas costas tinha um par de asas de borboletas.— Haven, vem aqui. - chamei, acenando para ela.
Onde estava sua mãe para verificá-la?
Eu queria perguntar para minha vó, mas ao mesmo tempo eu não queria trazer esse assunto para a roda. Minha vó poderia perguntar de ontem, e eu ainda não estava preparado para assumir qualquer coisa.A menina soltou os pratinhos e talheres que estavam em suas mãos em cima da mesa de concreto.
E correu para me alcançar.
— Sim? - indagou ela, olhando-me com curiosidade.Olhando para seu rosto brilhando por causa do sol, eu conseguia ver o quão bonita ela era.
Como uma boneca.
Os mais profundos e celestiais olhos verdes, lábios desenhados quase no formato de um coração, e pele levemente bronzeada.
Isso só me fazia imaginar ela deixando um monte de caras quebrados.— Você sente que o sol está muito quente? - perguntei, e ela assentiu novamente afastando algumas mechas da sua franja amarelada para o canto da cabeça. — Não acha melhor brincar lá dentro? - apontei para atrás dos meus ombros, para o corredor que levava para dentro de casa. — Você pode ficar doente aqui fora.
— Mas a vovó passou protetor solar em mim.
— Ainda assim não é seguro, o sol está bem forte aqui.
— Eu não me importo.
— A questão não é essa, bonequinha. - não consegui esconder um sorriso quando olhei de relance para minha vó, e ela tinha uma expressão que dizia: eu te avisei que seria difícil. Continuei contornando a garota.
— Olha só, tenho um plano. Se você entrar para brincar na sala de estar. Mais tarde quando o sol estiver baixo, eu brinco com você aqui no pátio. Aceita?
Ela arregalou os olhos.
— É sério?Minha vó pousou sua mão em meu braço, talvez me alertando para não prometer nada.
Mas quer saber?
Por essa garotinha eu faria qualquer coisa.— Completamente sério.
Surpreendentemente, a menina jogou seus braços envolta do meu pescoço, e me puxou para um abraço. Passei meus braços envolta do seu pequeno corpo. Ela cheirava a talco e flores.
— Trato feito, tio Liam.~*~*~*~*~
— Jesus, Liam. - murmurou minha vó, em descrença. — Ver você assim é de fato impagável.
Comecei a rir.
Bem, eu também não poderia imaginar que acabaria meu dia assim, vestindo uma saia de tutu rosa, e um par de asas de borboletas da mesma cor.
Mas tudo isso foi para não deixar uma pequena mocinha arruinada.
Porque eu fui fazer a maldita promessa?
Eu, e Haven estávamos na área externa da casa.
Depois que o sol foi para Costa, a menina correu em meu quarto para me chamar justo quando eu estava dormindo tentando não pensar onde sua mãe estaria.
Pulei da cama, e corremos para cá.
Eu pensava que só iria assistir ela manipular suas bonecas e fingir ser mãe delas.
Que nada.
A menina me obrigou à vestir-me como ela para poder entrar em sua brincadeira. Era o aniversário de uma das suas bonecas, e o tema era sobre fadas e borboletas.— Ele não está muito fofo vovó? - perguntou Haven, olhando entre mim e minha Vó.
Ela sorriu mesmo cobrindo seus lábios para mim não ver.
Revirei meus olhos.
— Uma gracinha assim como você. - disse Judith, folheando uma revista sobre artesanatos, enquanto se balançava em sua cadeira na sacada.Os olhos de Haven brilharam com orgulho.
Agitei minha cabeça.
Porque mesmo eu fui me meter nisso?— Ah você planejou isso só para zoar com minha cara? - brinquei fingindo uma voz mais grave e ameaçadora para assusta-la.
Haven continuou rindo, agora com as duas mãos na boca para tentar esconder de mim.
Franzi meu cenho, e deslizei fora do banco.
Seus olhos se arregalaram quando ela havia percebido que eu estava indo para pegá-la.
Mas antes que eu conseguisse, ela foi esperta o suficiente para correr de mim, e seguir em direção à Judith, mas não era minha Vó que estava lá.
Era Natalie.
Meu coração deu uma leve tombada.— Mamãe! Me ajude! - gritou Haven correndo para ela.
Ela estava apertando os lábios quando pegou sua filha no colo. Só quando eu cheguei mais perto, foi que eu me dei conta que ela também estava tentando segurar o sorriso.
Bastou um olhar para mim mesmo.
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Uma Nova Chance
RomanceDepois de perder sua esposa em um terrível acidente de carro, e descobrir que ela estava grávida do seu primeiro filho, Liam Mayer só encontrou uma saída para acabar com a dor em seu coração: morrer também. Mas antes que ele pudesse atentar contra...