*~ Capítulo 58 ~*

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Liam

Eu já estava impaciente.
Relaxei minhas pernas no sofá, e cruzei meus braços embaixo da minha cabeça.
Agora eu estava deitado.
Aproveitei para pegar o controle remoto, e desliguei a TV.
Mas quando o silêncio caiu pela sala, eu consegui ouvir alguns passos. Alguém estava vindo para cá.

Fechei meus olhos.
— Liam? - meus olhos estralaram. Mas eu estava olhando para o teto.
Era ela.
Era a doce e melódica voz de Natalie.

Esperei até que ela se aproximasse mais.
Baixei meus olhos para o sofá quando ela parou atrás dele, e suas mãos afundaram no couro.
Seus olhos estavam piscando rápido demais.
— Você não vem almoçar com a gente?

— Está tão entediante lá que precisa da minha presença para dar uma animadinha? - provoquei, conseguindo arrancar um sorriso sincero dos seus lábios.

Os lábios que eu tanto senti saudades.

Ela soprou uma pequena respiração artificial, e seguiu me encarando com seus olhos aquecidos.
— Acabamos de nos sentar, e Haven percebeu que você não estava. Então eu vim chamá-lo.

Era a primeira vez que a gente estava nos comunicando.
Ergui meu corpo, e senti no sofá.
— Ok, eu já vou indo lá.

Ela assentiu maneando a cabeça, e nós ficamos nos encarando sem dizer mais nada por um longo tempo. Até ela se dar conta, e voltar para cozinha.

Soltei a respiração que estava presa no meu peito.
Porra.
Parecia que a gente tinha voltado para o início do nosso relacionamento. Minhas mãos já estavam suando, e eu podia sentir a inquietação em meu estômago.
Pulei fora do sofá, e ajeitei minha roupa amassada, a contrário do resto da casa, eu não havia me arrumado. Estava usando apenas uma bermuda de surfe azul-marinho e uma camiseta cinza.

Quando cheguei na cozinha, todos olharam para mim. Mas eu não me importava com os olhares da Haven, Natalie e Judith, eu não queria era o babaca olhando para mim.
Fechei meu rosto em uma carranca.
— Liam sente aqui comigo. - pediu Haven apontando para cadeira ao seu lado.

Fiquei surpreso de Rick não estar ao lado dela, porque era apenas ali que estava sobrando um lugar. Mas eu só entendi o seu jogo quando vi que ele estava sentado ao lado de Natalie.

Engoli minha saliva com dificuldade.
— Eu guardei esse lugar para você. - disse Haven, quando eu puxei a cadeira e desabei ao seu lado.

— É mesmo?

Ela sorriu com seus olhos.
— Mamãe queria sentar aí mas eu não deixei.

Oh.
Haven.
Você devia ter deixado.
Assim sua mãe não teria que sentar ao lado daquele seu pai chato.

Começamos a comer, inicialmente em silêncio, mas conforme a comida foi acabando do nosso prato, Judith e Rick começaram a conversar.
Era sobre um assunto tão banal quanto ele, então eu não me preocupei em escutá-los. Continuei encarando meu prato cheio de arroz e carne, e terminei de comer minha salada.

Em meia a uma colherada, senti um par de olhos me observarem. Levantei meus olhos lentamente apenas para não fazer quem fosse que tivesse me olhando perceber.
Assim que meus olhos voaram por cima da mesa, Natalie desviou os seus para seu prato. Mas eu descobri que foi ela porque suas bochechas estavam bem rosadas.
Agitei minha cabeça, e sorri sozinho.

~*~*~*~*~*~

Haven ao invés de convidar seu pai para jogar frisbee, ela me convidou. E foi na frente dele.
Eu me senti meio que especial.
Quando olhei para cara de Rick, ele não parecia feliz com isso.
Mas agora era eu que não estava tão feliz, enquanto arremessava o frisbee para Haven ir pegar, Natalie e Rick que estavam na sacada nos observando, não estavam mais.

Para onde eles foram?
O que estavam fazendo?

— Liam preste atenção! - xingou Haven, com as mãos na cintura. Revirei meus olhos para ela, me divertindo com sua pose.

Voltei a me concentrar no jogo, mas só um pouco.
Minha mente estava pirando com imaginações sujas.

— Haven, vem cá. - chamei, depois de algumas jogadas. — Que tal se a gente dar um tempinho?

Eu não estava cansado, mas eu precisava fazer alguma coisa. Eu tinha que ver o que estava acontecendo lá dentro.

— Tudo bem, tio Liam. - ela pegou seu frisbee, e correu na minha frente.

Quando entramos na cozinha, encontramos Judith lavando a louça do almoço.
— Oh são vocês, Liam querido, pode me ajudar aqui um pouco?

Merda.
Eu estava quase entrando no corredor. Olhei para minha vó.
— É claro. - falei, derrotado.

Haven seguiu para sala.
E eu desejei ser ela nesse momento.

~*~*~*~*~*~

— Finalmente. - murmurou Natalie, duas horas depois, assim que Rick atravessou a porta.

Eu estava no sofá novamente, mas dessa vez com Haven, e nós estávamos assistindo seu desenho animado favorito.

— Quando papai vai vir de novo? - perguntou Haven, assim que ela se aproximou, me deixando surpreso e esperançoso por ela vir se sentar com a gente.

Natalie sentou ao lado de Haven, e eu estava do outro.
— Não sei minha filha, mas eu espero que demore um pouco.

Não consegui deixar de respirar aliviado quando ouvi o que ela disse.

— Eu gosto dele.

Natalie sorriu para mim, antes de olhar para sua filha.
— Eu sei que você gosta, ele é seu pai.

Haven agitou os braços, e tirou os olhos da TV para olhar Natalie.
— Você gosta dele também?

Senti um súbito nó crescer em minha garganta. E de repente a sala parecia menor para caber nós três nela.
Comecei a me sentir mal pela demora que ela estava levando para responder, e quando percebi pelo canto dos meus olhos que ela estava torcendo os dedos, eu cerrei minhas mãos em punhos.

— Eu gosto de outra pessoa. - confessou ela.

Parando o tempo.
Me fazendo olhar para ela.
Fazendo nossos olhares crepitarem enquanto suas palavras pairavam entre nós.

— Do tio Liam, você quer dizer?

Porra.
Essa garotinha era muito esperta.

— Oh meu Deus, Haven. - murmurou Natalie com seus olhos brilhando de vergonha. — Sim é dele que eu gosto.

Eu podia sentir alguma coisa se mover entre a gente. Uma pressão. Algo quente.
Haven se virou no sofá, e me encarou seriamente.
— E você tio Liam, gosta da minha mãe?

Olhei para TV, balançando minha cabeça enquanto tentava esconder meu rosto enrubescido.

— Gosto sim, Haven. - assumi, sentindo os olhos de sua mãe me queimarem como fogo.

— Então você tem que fazer as pazes com ela. - pediu ela, girando sua cabeça entre mim, e sua mãe.

Nenhum de nós disse nada, mas nós três sorrimos em silêncio. 

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