*~ Capítulo 33 ~*

5.6K 515 8
                                    

Natalie

Nunca mais vou dormir tão tarde. Já era noite novamente, e eu mal estava conseguindo manter meus olhos abertos.
Haven havia pedido para assistir um desenho comigo. E desde que eu havia ficado quase a tarde toda longe dela, ela merecia obter um pouco mais da minha atenção.
Estávamos assistindo "Kim Possible" era uma garotinha que todo mundo chamava quando precisava que ela salvasse o mundo. Um tipo de garota power.
Mas mesmo que meus olhos estavam fixos na TV, meus pensamentos estavam na tarde quente que tive com Liam. Depois que ele teve a ideia de me acordar fingindo que era Haven, nós ficamos nos provocando. O que resultou em carícias e mais carícias.
O fogo entre nós se ascendeu.
E nós tivemos que nos segurar para não arrancarmos nossas roupas e transarmos em plena luz do dia. Na cama em que eu dormia com minha filha.
Liam se deu conta, e se afastou.
Eu não vi mais ele pelo resto da tarde. Agora já era quase oito da noite.

— Mamãe eu queria perguntar uma coisa para você.

— Pode perguntar. - agitei minha cabeça, tentando afastar a preguiça e o sono.

Ela se remexeu no sofá. E começou a torcer os dedos. Como eu fazia sempre que ficava nervosa.
Puxei minhas pernas para cima do sofá, e virei para ela.
— O que você quer saber? Pode me perguntar. Mamãe não vai ficar chateada.

Ela pareceu pensar no que eu disse, olhou para suas mãos e depois para mim.
Com uma expressão um tanto triste.
Meu coração deu um leve aperto. Mas ele só afundou quando sua pergunta me atingiu feito uma bomba: — Onde está meu papai?

Recuei.
Respirei.
Fechei meus olhos.
E contei até cem.
Porque ela estava perguntando isso?
Porque ela queria saber dele agora?

— Haven... – comecei, mas ela não deixou que eu terminasse.

Sua voz saiu apressada: — Eu vejo nos desenhos que todo mundo tem pai. Nos filmes também. Só eu que não tenho. Onde é que ele está?

Pousei minhas mãos em cima das suas, acalmando-a.
— Filha, escute... - ela me encarou com os olhos marejados.
Oh céus.
Era isso que eu estava querendo evitar. Porque eu deixei aquele canallha botar ela dentro de mim para me abandonar depois na lua de mel?

— Seu pai e eu não demos certo juntos. Nós queríamos coisas diferentes. Você nem tinha nascido quando a gente resolveu dar um tempo. Eu só não consegui encontrá-lo depois que você nasceu.

— Então ele sumiu?

Levei a mão até seu rosto, e acariciei sua pele.
— Ele conheceu outras pessoas e resolveu ir morar com elas.

— Como uma outra família.

Fechei meus olhos, e expirei fundo.
Eu não queria que ela tivesse que passar por isso.
Esse sentimento de abandono nenhuma criança deveria ter que sentir na vida.

— Eu queria que você pudesse conhecê-lo. Mas não é só a mamãe que tem que querer isso, entende? Ele também precisa querer. Como eu já tinha dito para você...

— Não devemos forçar as pessoas a fazerem o que elas não querem. - Haven completou por mim.
Ela era uma menina esperta.

Inclinei meu rosto para frente, e deixei um demorado beijo em sua cabeça.
— Olha só que coisa legal, você tem a mamãe e tem a Judith que amam você, e cuidam de você agora.

Ela sorriu sem muita alegria. Mas então seus olhos arregalaram quando alguma coisa surgiu em sua inteligente cabecinha.
— Eu tenho o tio Liam também.

Oh.
Meu coração se aqueceu.
— Sim, meu amor. Você tem ele também.

— Somos como uma família não somos?

— É claro que somos. - concordei puxando-a para mais perto. — Agora vem aqui que quero morder você todinha.

Ela soltou uma risada, agora mais contagiosa. Haven se jogou em meu colo, e eu aproveitei para lhe dar o amor que ela precisava.

Mas intimamente comecei a rezar para que ela não se preocupasse mais com a ausência do seu pai.
E aproveitei também para rezar para que Liam não ferisse a gente como meu ex-marido fizera.

~*~*~*~*~

Quando eu já estava me arrumando para subir, Liam entrou distraidamente na cozinha. Mas bastou seu olhar encontrar meu rosto para ele notar que alguma coisa havia acontecido.
Eu já tinha parado chora, mas eu vi pelo reflexo do vidro do armário que meus olhos estavam vermelhos e levemente inchados.
Já tinha passado alguns minutos desde a minha conversa com Haven. Depois que o desenho favorito dela havia terminado, ela subiu para escovar os dentes e se deitar.
Eu tinha prometido que estaria chegando logo atrás.
Mas fiquei presa em meus pensamentos quando vim para cozinha pegar um copo de água. Eu já tinha bebido toda água dele, mas ainda o segurava em minha mão.

— O que aconteceu Natalie? - perguntou ele, parando na minha frente. Sua expressão amena se transformou em preocupação.
Suas mãos seguraram meus braços enquanto seus olhos estudavam meu rosto.

Olhei para baixo apenas para respirar fundo, quando meu coração começou a bater tranquilamente.
Eu olhei para ele.
— Haven perguntou sobre o pai.

— Merda. - xingou ele, fechando os olhos. Quando voltou a abri-los, me encheu de perguntas: — E o que você disse? O que ela perguntou exatamente?

— Vamos lá para fora?

Ele tirou as mãos dos meus braços, e deu um passo para trás.
— Claro. Claro.

Liam apoiou sua mão nas minhas costas enquanto seguíamos para fora. O clima estava bem melhor na rua. Nem muito frio, nem muito quente. 

Sentei na cadeira de balanço, e Liam sentou do meu lado dessa vez na mesma cadeira.
Quando ele segurou a minha mão, eu contei tudo que havia conversado com Haven mais cedo.

— É uma situação difícil, mas era inevitável não era?

Assenti com o que ele disse, e olhei para longe. Para o silêncio da noite. Para o azul-escuro do céu.
— Sim, era algo que iria eventualmente acontecer, mas mesmo sabendo disso, eu não estava preparada. Talvez nunca estaria.

— Mas ela reagiu bem com tudo?

Apertei sua mão com a minha.
— Eu vou precisar observá-la nos próximos dias, vê se isso não irá refletir em seu comportamento, sabe? Eu tenho que estar mais atenta, ainda mais depois quando ela for para escola, e as outras crianças a questionarem sobre seu pai.

Liam inclinou sua cabeça para deixar um beijo em minha têmpora.
— Mas ela disse que está bem com uma vó, uma mãe e o tio Liam. - contei sorrindo e lembrando de como minha filha havia dito.

Liam deixou outro beijo na minha têmpora, dessa vez um pouco mais demorado do que antes.
— Ela é adorável.

— Ela é. - sorri.

— A mãe dela também.

Uma Nova Chance Onde histórias criam vida. Descubra agora