Aviso de gatilho: Esse capítulo contém cenas de assédio.
Eram 21h15 quando Harry parou seu carro no estacionamento do tal pub. Havíamos passado para deixar Elissa na casa de Louise e Richard mais cedo e agora já estávamos caminhando em direção a entrada do pub. Harry e eu caminhávamos de mãos dadas. Assim que entramos, vimos a mesa de nossos amigos e eles acenaram para nós, nos chamando. Fomos até lá. Estavam todos bebendo, menos Callie.
- Boa noite, gente. - Cumprimentei-os enquanto me sentava em uma cadeira e Harry se sentava ao meu lado.- Achei que não iriam chegar nunca! - Mark falou, bebendo um gole de sua cerveja.
- Um dia eu aprendo a me despedir de Elissa mais rápido. - Falei, rindo.
- Você quer tomar o que, amor? - Harry perguntou.
- O que você for beber - Respondi a ele, que sorriu e me deu um selinho em seguida.
- Duas cervejas, cara, por favor. - Ele pediu ao atendente e ele assentiu, se afastando.
Eu e Callie não havíamos trocado nenhuma palavra desde que me sentei a mesa. E aquilo estava me incomodando. Eu não estava brava, só havia ficado um pouco surpresa e chateda pelo jeito que ela falou comigo. Anne havia me dito que era normal e que ela logo me pediria desculpas, mas, eu também precisava me desculpar. Ficamos bebendo cerveja e conversando durante um bom tempo. Nenhum de nós arriscava levantar e dançar. Uma banda agradável tocava aquela noite. Tudo estava bem, estávamos nos divertindo.
- Vou ao banheiro! - Anunciei, enquanto dava um ótimo gole em minha cerveja. Deixei a garrafa vazia na mesa, dei um selinho em Harry e me levantei - Alguém quer ir comigo? - Perguntei, olhando para Callie e Anne. As duas negaram. Dei de ombros e me afastei da mesa, andando em direção ao banheiro.
Assim que entrei, fui direto fazer xixi. Ao sair, retoquei meu batom e me dirigi à porta, saindo logo em seguida. Senti uma mão me puxar e quando vi, já estava grudada contra a parede.
- Ei, gatinha - o cara falou e eu pude sentir seu hálito de cachaça bater contra meu rosto.
Estremeci.
Ele grudou seu corpo no meu e eu senti meus olhos arderem, apavorada.
- Não vai falar nada? - Perguntou, levando seus lábios até meu pescoço, dando chupões por ali, sem delicadeza alguma. - Melhor, prefiro quando ficam quietas.
Eu estava em choque. Isso não podia estar acontecendo comigo. Não de novo. Fechei os olhos e mentalizei que era só mais um pesadelo, e quando eu os abrisse, ele não estaria mais ali.
Mas não foi o que aconteceu.
As mãos dele percorriam todo meu corpo e eu não ousava me mexer. Pensei em meu namorado e meus amigos na mesa e torci para que sentissem minha falta logo.
O homem apertava minha coxa com força e sua mão começou a entrar por baixo de minha saia. Não. Por favor, não.
Lágrimas já rolavam soltas pelos meus olhos.
Quando a mão dele tocou minha calcinha, eu deixei um soluço escapar pela garganta. Já previa o que vinha a seguir, mas, surpreendentemente, no segundo seguinte, o homem se afastou bruscamente de mim e eu senti dois braços me envolverem, me tirando dali.
Não vi o que aconteceu. Não vi quem afastou o cara de mim. Não vi quem estava me abraçando e me levando para fora do pub. Eu apenas chorava, enquanto a pessoa que me guiava me abraçava com força, me mantendo próxima ao seu corpo. Eu sabia que não era Harry, pois não sentia seu perfume.
- Natalie? Nat? - Ouvi uma voz me chamar mas eu só conseguia chorar.
- Amiga... - Era Anne e senti seus dedos passarem pela minha cabeça.
- O que ele fez? Ele te machucou? Natalie, ele tocou em você? - Agora era Harry. Ele estava muito exaltado.
- Vamos levar ela pra casa, por favor, vamos levar ela pra casa! - Ouvi Callie falando, desesperada.
- Eu não vou sair daqui enquanto não acabar com ele! - Harry falou, seu tom continha raiva, muita raiva.
Ian e Mark falavam algumas coisas para tentar acalmá-lo, mas, sem sucesso. Eu estava assustada e a última coisa que precisava era meu namorado batendo em alguém.
- Harry... - Eu gemi, baixinho.
Os dois braços que me abraçavam - que agora eu sabia serem de Ian - se afastaram e Harry veio até mim, levantando meu rosto.
- Por favor, quero sair daqui. - Implorei, escondendo meu rosto em seu peito.
Ele assentiu e eu o ouvi falar:
- Mark, você dirige meu carro, eu vou atrás com ela. Ian, você leva Call e Anne pra casa já que vocês vieram juntos e... - ele foi interrompido por Callie.
- Não! Eu não vou pra casa! Eu vou ficar com ela! - Call falava, exaltada.
- Amor... - Ian a chamou, mas ela negou.
- Não. Eu vou junto, e ponto final. Nós brigamos antes e eu não vou deixar ela sozinha agora. - Explicou, seu tom de voz saindo firme.
- Vamos pra nossa casa, é mais perto daqui - Anne disse, encontrando uma solução boa para todos.
No segundo seguinte estávamos todos andando em direção aos carros e quando eu vi, já estávamos entrando na casa de Anne e Mark.
- Levem ela pro quarto de visitas. - Anne pediu.
- Banho. - Pedi. - Eu quero tomar um banho.
Eu, Harry, Callie e Anne começamos a subir as escadas. Anne se afastou dizendo que iria buscar uma roupa para mim. Nós entramos no quarto de visitas e eles me levaram para o banheiro.
- Callie, você...? - Harry pediu a ela e ela o olhou sem entender.
- Eu? Por que eu? Você é namorado dela. Harry coçou a cabeça sem jeito. - Vocês não...? - Callie perguntou e ele negou, sem graça. - Ah! - Ela exclamou, surpresa, e depois confirmou com a cabeça.
- Pode deixar. - Obrigado. Vou estar aqui fora se precisar. - Harry falou e fechou a porta do banheiro, deixando nós duas ali dentro.
- Me desculpa, eu... - Comecei a falar, mas Callie me abraçou com força, negando.
- Não precisa falar nada, tá tudo bem e eu amo você - ela falou e eu desatei a chorar em seu ombro.
- Eu não acredito que isso aconteceu de novo - Falei baixinho, e ela se afastou de mim, me olhando, surpresa.
- De novo? - perguntou e eu assenti, voltando a chorar na mesma hora. - É por isso que você...? Oh. - falou, concluindo sozinha e voltando a me abraçar. - Meu Deus. Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo.
Eu chorava no ombro dela como há muito tempo não fazia. Estava soluçando sem parar enquanto ela fazia carinho em minha cabeça. Três batidas na porta foram ouvidas e ouvimos a voz preocupada de Harry:
- Callie? O que tá acontecendo? Tá tudo bem? Vocês precisam de algo?
Eu neguei com a cabeça e ela entendeu na hora. Respirei fundo, mentalizando que precisava me acalmar.
- Tá tudo bem, Harry. Vou colocar ela no banho agora. - Explicou a ele e eu sorri fraco para ela, agradecendo.
Harry não falou mais nada.
- Como você quer fazer isso? - Call perguntou. - Quer que eu te ajude? - Balancei a cabeça, concordando. - Tudo bem, então, vamos levantar. - Ela estendeu a mão para mim e eu a peguei, me levantando.
Call levantou minha blusa, tirando-a e soltou um gritinho quando olhou para meu pescoço e minha cintura.
- O que foi? - Perguntei, me virando de frente para o espelho.
Um soluço escapou por meus lábios e meus olhos voltaram a arder. Meu pescoço estava todo marcado e minha cintura estava com marcas de apertões. Aquilo não sairia tão cedo.
Callie me virou de frente para ela novamente e abriu minha saia, fazendo com que ela caísse no chão. Tirei minha calcinha e meu sutiã e logo eu estava em baixo do chuveiro junto com Callie. Ela havia tirado sua roupa e estava só de calcinha e sutiã. Me virou e começou a passar sabonete em minhas costas, enquanto eu só sentia a água cair pelo corpo e rosto, levando junto as lágrimas que eu ainda não havia parado de derramar.
Logo já estávamos as duas enroladas em toalhas e saímos do quarto, que estava vazio. Em cima da cama havia a roupa que Anne havia separado para mim. Callie me ajudou a me vestir e eu me deitei na cama. Ela voltou para o banheiro e vestiu suas roupas. Depois, veio até mim e se sentou ao meu lado.
- Eu sinto muito, muito mesmo. - Ela disse, enquanto fazia carinho em meu cabelo - Eu sabia que era algo grave, mas eu nunca imaginei que fosse algo assim.
Eu mordi o lábio, assentindo. Ninguém nunca imaginava.
- Agora, mais do que nunca, você precisa de ajuda... Precisa conversar. Não vai conseguir guardar isso pra você mais uma vez.
- Eu sei - concordei, enquanto me encolhia e me virava de lado -, eu tinha decidido procurar ajuda quando vocês foram embora lá de casa - confessei. - É por isso que eu e Harry nunca... Nós nunca... Eu não consigo.
- Eu entendo. Quer dizer, eu não entendo porque nunca vivi isso, mas agora, eu compreendo - falou. - Eu quero perguntar uma coisa, mas você não precisa responder se não quiser. - O pai de Elissa, ele... - não deixei ela terminar.
- Sim.
Ela ficou em silêncio, assimilando o que eu tinha falado. Agora que ela já sabia de tudo, estranhamente, eu sentia vontade de continuar a contar. E foi o que eu fiz.
- Ele era meu namorado. Nós nunca havíamos feito nada. Fomos a uma festa, e eu acabei provando uma droga nova... Ele se aproveitou de mim e... Quando eu vi, já tava acontecendo e eu não conseguia afastar ele de mim - Contei, soltando um soluço baixinho e me encolhendo mais.
Ela subiu na cama e se deitou ao meu lado, me abraçando por trás, fazendo carinho em meu braço.
- Nat, não precisa... - ela disse, mas eu a cortei novamente.
- Eu preciso, Callie. Preciso falar. Por favor - pedi e ela assentiu. - Foi a pior noite da minha vida. Sentir ele em cima de mim, doeu tanto... Terminei com ele, obviamente, mas eu não contei pra ninguém. Dois meses depois, eu descobri que tava grávida. - Funguei baixinho e ela continuava em silêncio, me ouvindo.
"Contei só pra mamãe. Foi nesse dia que meu pai nos deixou, mas antes de ir, ele bateu em mamãe, como sempre. Eu tentei ajudar, mas não consegui. Quando ele disse que iria embora, eu e mamãe achamos que ele tava louco. Mas ele foi. E nunca mais voltou. Na semana seguinte, mamãe me levou na delegacia. Eu contei tudo que havia acontecido. Mas, ninguém acreditou em mim e ainda me culparam por eu estar drogada. Apesar disso, me deram a opção de tirar Elissa. Eu nunca cogitei essa possibilidade. Eu não vejo ela como algo ruim, que me faz lembrar dessa noite sempre que a vejo. Eu vejo Elissa como meu milagre. Porque de algo tão sujo e tão doentio, ela surgiu. E não poderia ser mais perfeita."
Callie sorriu e me abraçou mais forte. Eu me permiti chorar mais um pouco e me afastei, me virando para ela.
- Por favor, não conta pro Harry. - Pedi a ela.
Ela ia falar algo, mas a porta se abriu, com Harry, Anne, Ian e Mark entrando em silêncio, me olhando preocupados. Callie beijou minha bochecha e se levantou, indo em direção ao noivo.
- Eu e Ian ligamos para o pub - Mark falou. - Solicitamos as filmagens da noite de hoje e se eles negarem, abriremos um processo contra eles, pois estarão encobrindo um crime que aconteceu dentro do estabelecimento deles.
- Eles têm uma semana. Vai ficar tudo bem - Ian disse, sorrindo em minha direção.
- Obrigada pelas roupas - eu falei à Anne. - Obrigada a todos vocês. De coração. Não sei o que teria acontecido se... Se vocês não tivessem chego.
Harry suspirou e veio em direção a cama, sentando-se ao meu lado, onde Callie antes estava.
- Vamos dormir aqui hoje, tudo bem? Amanhã cedinho passamos buscar Elissa e vamos pra casa. - Bom, nós vamos pra casa. Qualquer coisa nos liguem. - Ian falou pegando a mão de Callie.
- Se precisarem de algo, me chamem, por favor! - Anne falou.
Os quatro se viraram para sair do quarto, mas eu chamei:
- Call? - ela se virou e me olhou. - Obrigada.
Ela sorriu e balançou a cabeça, confirmando, antes de sair do quarto.
Harry se levantou e tirou sua roupa, ficando só de boxer. Antes de deitar, me olhou em dúvida.
- Posso?
- Claro que sim, por que não poderia? - Perguntei, estranhando sua pergunta.
- Eu não sei, eu... - coçou a cabeça, sem graça. - Achei que depois do que aconteceu você teria... Você sabe...
- Medo? - Falei e ele assentiu. - De todos os homens do mundo, você é o único que me traz segurança, Harry. Eu nunca teria medo de você.
Ele deu um suspiro de alívio e abriu um sorriso. Se aproximou da cama e deitou-se, me puxando para o seu peito. Me aninhei ali e fiquei quietinha, apenas sentindo sua presença.
- Você me perdoa? - Perguntou.
- Perdoar? Pelo que? - Perguntei sem entender.
- Por ter te deixado ir ao banheiro sozinha. - Ele explicou. - Eu podia ter ido e ter esperado do lado de fora, e isso não teria acontecido, e...
- Harry. Não. - O interrompi. - Você não tem culpa. Eu não tenho culpa. Só existe um culpado e eu e você sabemos bem quem é.
Ele assentiu, soltando o ar que estava prendendo. Me abraçou mais forte, e depois de um tempo eu quebrei o silêncio:
- Eu preciso de ajuda. - Confessei.
- No quê? Eu te ajudo, no que precisar. - Ele disse, enquanto seus dedos passeavam lentamente pelos meus braços.
- Não, Harry. Eu preciso de ajuda. Profissional. - Esclareci, e ele me olhou, surpreso. Abriu um sorriso de lado e assentiu.
- Vamos conseguir ajuda. Vai ficar tudo bem.
Eu sorri para ele e ergui minha cabeça, lhe dando um beijinho no queixo. Voltamos a ficar em silêncio. Eu estava sem um pingo de sono. Harry parecia estar da mesma maneira, pois ainda passava os dedos pelos meus braços, me acariciando.
Eu me sentia extremamente segura. Ali, deitada nos braços do homem que eu amava, eu tive certeza de que enquanto eu tivesse ele em minha vida, eu sempre conseguiria superar meus medos e traumas. Harry era meu porto-seguro. Quando finalmente eu comecei a sentir meus olhos pesarem, me lembrei de uma coisa. Mas e se ele se assustasse? Decidi por falar apenas o necessário:
- Harry?
- Hm?
- Gosto muito de você. - Declarei.
Mesmo estando de olhos fechados, eu sabia que ele estava sorrindo quando me respondeu:
- Eu também gosto muito de você, Natalie.
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A Place To Call Home
RomanceUma mãe solteira, de apenas 22 anos, resolve mudar de cidade para começar uma vida nova com sua filha de três anos, após sua mãe, que era quem a ajudava com tudo, perder a batalha para o câncer. Sua vida começa a mudar já no trem a caminho de Londre...