Eu estava sentada na recepção esperando ser chamada. Minhas mãos estavam suando e eu não parava de sacudir minhas pernas. Harry colocou sua mão sobre a minha coxa, me fazendo parar de sacudi-la.
– Se acalma. – Pediu, sua voz calma.
– Natalie Hayes? – Uma voz chamou e eu levantei meu olhar, encarando a médica. Sorri brevemente e olhei para Harry, que sorriu, me incentivando.
Caminhei até a médica e sorri brevemente. Entramos na sala e ela fechou a porta.
Depois do episódio no pub, eu havia pedido ajuda à Harry para encontrar um profissional que me ajudasse. Ele não se ofendeu. Não estranhou. E não se importou quando eu disse que não conseguiria me abrir com ele. Apenas disse que estava orgulhoso de mim, pois sabia como isso era difícil, e que sabia exatamente a quem iria me encaminhar.
Então, depois de ter passado o mês de Julho inteiro desmarcando a consulta inúmeras vezes – Harry ficou muito bravo quando descobriu – eu estava finalmente dentro daquele consultório. Eu criei incansáveis diálogos em minha cabeça, de como eu contaria tudo que já aconteceu comigo ao profissional que me atenderia. Mas eu não sabia como começar. Não podia simplesmente falar "então, eu sou assim porque meu pai bateu em mim e em minha mãe até meus 18 anos, que foi quando eu engravidei porque fui estuprada, aí meu pai nos deixou e dois anos depois minha mãe morreu. Aí eu vim para Londres com minha filha e fiz amigos e me apaixonei por Harry, até que eu quase fui estuprada de novo em um pub e agora estou aqui". Podia?
– Natalie? – a mulher à minha frente falou, e eu finalmente a olhei. – Nós já estamos sentadas há alguns minutos e você não falou nada.
Suspirei e me mexi desconfortável na cadeira.
– Eu sei que isso é difícil pra você. Quando Dr. Judd te encaminhou para mim, ele me explicou que você passou por muita coisa e que não falava sobre isso, mas que finalmente havia pedido ajuda – ela disse, enquanto a ouvia em silêncio. – Quero que saiba que pode confiar em mim. Eu estou aqui pra te ajudar. Nada mais que isso. E não vou desistir enquanto não atingir meu objetivo, que é te fazer lidar com seus traumas.
Continuei em silêncio. O fio solto na barra da minha blusa estava muito mais interessante do que conversar com ela. Mas aí eu me lembrei que prometi. Prometi à mim mesma, a Harry, a Callie, a Anne... A Dra. Watson continuava a me olhar, me analisando. Mordi o lábio e respirei fundo.
– Eu não sei como fazer isso. – Confessei mexendo na barra de minha blusa de maneira nervosa, vendo-a assentir.
– Apenas comece a me contar o que você acha que é relevante.
Ótimo. A minha vida inteira, quem sabe?
– Me fale sobre seus pais. – Pediu.
– Hm... Meu pai era violento. – Disse e ela fez uma anotação em sua prancheta. – Ele batia em Angie e em mim.
– Angie é sua mãe? – Perguntou.
– Era. Ela faleceu.
– Tem quanto tempo? - Perguntou, erguendo as sobrancelhas.
– Já estamos em Agosto, então, 9 meses. Ela tinha câncer. – Expliquei, mordendo o lábio.
Ela novamente fez anotações em sua prancheta e voltou sua atenção para mim.
– Quando seu pai começou a bater em sua mãe? – Perguntou.
– Eu não sei. Desde que me conheço por gente, acho... – falei, encolhendo-me na cadeira. – Eu nunca tive momentos bons com ele, então realmente não me lembro.
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A Place To Call Home
RomanceUma mãe solteira, de apenas 22 anos, resolve mudar de cidade para começar uma vida nova com sua filha de três anos, após sua mãe, que era quem a ajudava com tudo, perder a batalha para o câncer. Sua vida começa a mudar já no trem a caminho de Londre...