Acordei com barulho de algo caindo. Me levantei e saí de meu quarto. Elissa estava no banheiro, tentando, sem sucesso, pegar sua escova de dente.
– O que você tá fazendo, meu amor? Por que não chamou a mamãe? – perguntei entregando a escova a ela. Elissa pegou a escova, me olhou e passou reto por mim, saindo do banheiro.
Fui atrás dela. Ela andou até a sala e foi até sua mochilinha. Guardou sua escova de dentes lá, colocou a mochila nas costas e pegou Panqueca que estava no sofá.
– Elissa? – chamei, e ela nem me olhou. Meu coração apertou. – Filha, fala com a mamãe... – pedi, me aproximando dela.
Ela andou até a porta de casa e girou a chave, abrindo-a sem dificuldade alguma. Atravessou o corredor e bateu na campainha do apartamento de Harry.
– Elissa, por favor! - chamei.
Panqueca me olhava como se estivesse confuso. Não sei como ainda tinha lágrimas depois da noite de ontem, mas senti meus olhos arderem.
A porta do apartamento de Harry se abriu e meu coração se apertou mais ainda, como se isso fosse possível. Harry estava com algumas olheiras, mas estava lindo, como sempre. Usava só uma boxer e estava com cara de quem recém tinha acordado. Seu olhar estava triste e percebi que ele tentava, a todo custo, não me encarar.
– Papai, eu quero morar com você – Elissa falou.
É o quê? Não sei o que me chocou mais em sua frase. Se foi o jeito que se dirigiu a Harry ou seu pedido.
– Ursinha, não faz assim, a mamãe... – Implorei, me aproximando dela.
– Por favor? – pediu, me interrompendo.
Eu não estava acreditando naquilo. Harry me olhou sem saber o que fazer. Soltei um soluço baixinho e escondi o rosto nas mãos.
– Elissa, vem, vamos conversar. – Ele disse e ela entrou em seu apartamento, sem nem olhar para trás. – Nós vamos conversar e depois você volta pra casa, tudo bem? – Harry falou, olhando para mim, como se me avisasse que iria dar um jeito naquilo.
– Eu não quero. – Elissa disse, decidida.
– Você quer panquecas? Eu faço, mas você tem que conversar comigo. Promete? – Propôs e ela assentiu, concordando e andando para dentro de casa.
Harry se virou para mim e sorriu tristemente antes de fechar a porta e me deixar ali, desolada, no corredor.
xxx
Eu estava na cozinha desde que Elissa havia ido para casa de Harry. Não fui a faculdade e nem ao trabalho. Nem me importei em avisar Callie. Nunca faltava, então, esperava que ela entendesse. Já havia assado 5 bolos. Dois de chocolate, um de baunilha, um de fubá e um red velvet. Eram 14h, eu acho.
Elissa não havia voltado, nem Harry. Essa hora ela devia estar na escolinha e Harry, trabalhando. E nenhum dos dois queria falar comigo. Eu não tinha ninguém para me fazer companhia, nem Panqueca.
Suspirei, largando as coisas em cima da pia. Saí da cozinha e fui até o banheiro. Resolvi tomar um banho. Liguei o chuveiro e pensei no que poderia fazer. Eu precisava ajeitar as coisas com Harry, e principalmente, com Elissa. Eu esperava que ele conseguisse colocar um pouco de juízo na cabecinha dela e que ela viesse para casa e falasse comigo. E depois eu tentaria conversar com Harry.Assim que saí do banho, ouvi a campainha tocando incessantemente. Vesti uma camisola qualquer que estava em cima da cama e corri para a porta. Quando abri, Callie entrou como um furacão.
– Meu Deus, o que foi que aconteceu com você? – perguntou, enquanto me olhava. – Você não apareceu no trabalho e nunca fez isso antes, eu sabia que tinha acontecido alguma coisa, mas... – ela olhou por cima de meu ombro em direção a cozinha. – Você resolveu abrir uma padaria e não me falou?
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A Place To Call Home
RomanceUma mãe solteira, de apenas 22 anos, resolve mudar de cidade para começar uma vida nova com sua filha de três anos, após sua mãe, que era quem a ajudava com tudo, perder a batalha para o câncer. Sua vida começa a mudar já no trem a caminho de Londre...