Saí correndo daquela padaria, sem pensar duas vezes. Nem olhei para trás. Ver Harry abraçado a sua ex-mulher, ambos com sorrisos enormes no rosto... Céus. Eu não sabia o que pensar. Mas estava me sentindo péssima.
Então era assim? Eu me declarava e ele resolvia as coisas com Melissa? Depois de abrir meu coração e finalmente falar que o amava, que o aceitava como pai de Elissa, que queria ficar ao lado dele para sempre? Além de não me responder e sair sem nem me beijar, ele faz isso?
Balancei a cabeça e mordi o lábio assim que senti meus olhos encherem de lágrimas. Eu sempre quis acreditar que Harry era um homem decente. Mas será que ele realmente teria coragem de me largar assim que sua esposa reaparecesse? Ele seria capaz de fazer isso comigo?
Entrei pela porta da empresa e fui direto ao meu escritório. Assim que abri a porta, me deparei com Ian e Callie quase fazendo outro filho em cima da mesa, seminus.
– AI MEU DEUS, desculpa! – Cobri meus os olhos rapidamente enquanto andava até minha mesa, jogando-me em minha cadeira.
– Mas que merda, Nat! Achei que não voltava mais hoje! – Call disse, irritada, enquanto subia sua saia até a cintura.
– Deixei minha bolsa aqui... – Dei de ombros, organizando minha mesa para poder ir embora.
Ian estava abotoando sua camisa e ria. Callie logo começou a rir e ajudou o noivo a fechar os botões. Eu não esboçava reação alguma. Estava muito entretida guardando minhas coisas em minha bolsa para falar algo.
– O que aconteceu? – Call perguntou, enquanto arrumava seu cabelo e vinha em minha direção.
– Nada.– Menti, mordendo o lábio.
Ela e Ian trocaram alguns olhares desconfiados e se voltaram para mim novamente.
– Natalie... – Callie me repreendeu, sentando na ponta de minha mesa.
– Eu vi o Harry com Melissa. - Contei de uma vez.
Os olhos de Ian se arregalaram e Callie parecia que tinha visto um fantasma.
– A Melissa? Você tem certeza? – Ian perguntou.
– Ruiva, linda de morrer? Sim, tenho certeza. - Afirmei, cruzando os braços, desanimada.
– O QUÊ? Quando ela voltou? Como? Pra quê? – Call perguntava, confusa.
Eu apenas neguei com a cabeça, dizendo que não sabia.
– Natalie, deve ter alguma explicação – Ian falou, aproximando-se de nós duas. – O que você viu?
– Vi os dois juntos. Isso basta. – Encerrei o assunto e me levantei da cadeira, passando minha bolsa por meu ombro. – Vou buscar Elissa. Bom fim de semana pra vocês.
Callie apenas me encarava, sem falar nada - provavelmente não sabia o que falar. Vi que ela olhou para Ian como se perguntasse o que fazia e ele deu de ombros, como se respondesse que não sabia.
– Amanhã passo na sua casa as 15h. Esteja pronta. Você e Elissa. – Praticamente me intimou.
Olhei-a por cima do ombro antes de sair pela porta e concordei com a cabeça, indo embora logo em seguida.
Quando já estava em frente à Sunshine esperando por Elissa, percebi que não havia comprado nada na padaria. Meu plano era comprar cookies para fazer surpresa à Elissa. Ela amava cookies e havia me pedido mais cedo. Bufei, frustrada.
Meu pensamento logo voou para Harry. Eu não queria pensar no pior, mas na minha cabeça, eu já tinha praticamente certeza de que eles se resolveram e iriam voltar a ficar juntos. E eu? Ficaria sozinha, de novo, e com a certeza de que não fui feita para ser feliz com um homem ao meu lado.
Elissa logo apareceu me tirando de meus pensamentos. Ela corria em minha direção, com a mochilinha nas costas, enquanto sorria abertamente.
– Mamãe linda! – Falou assim que chegou perto de mim.
Me abaixei para abraça-la e a enchi de beijinhos, ouvindo-a rir. Me afastei e me levantei, segurando-a pela mão.
– Oi, meu amor! Como foi seu dia hoje? – Perguntei enquanto andávamos juntas para longe da escola.
– Aprendi as vogais, mamãe! – ela falou, orgulhosa. – Assim ó: aeiou! – Falou, tudo junto, como se fosse uma palavra. Eu ri. Como ela podia ser tão fofa?
– Que legal, ursinha! Logo você vai ser mais inteligente que a mamãe! - Ela me olhou e negou com a cabeça.
– Impossível, mamãe. Você sabe tudo! – falou, rindo sapeca logo em seguida.
Senti meu celular vibrar e peguei-o de minha bolsa. Uma foto de Harry apareceu no visor e eu ignorei a ligação, voltando a guarda-lo. Seja o que for, não queria ouvir hoje. E daria um jeito de sair de casa a noite para não ter que vê-lo também.
– Mamãe teve uma ideia! – Exclamei de repente e Elissa me olhou, animada. – O que acha de irmos ao cinema?
– PIPOCA! – ela gritou, levantando as mãozinhas.
– Muita pipoca! Vamos comprar a maior de todas, só pra nós duas! – Prometi e ela bateu palminhas, animada.
Pedi um táxi e logo ele chegou. Entrei com Elissa no banco de trás e pedi ao motorista que nos levasse ao shopping mais próximo.
– Por que não chamamos papai Harry? – Elissa perguntou, quebrando o silêncio.
– Ele tá ocupado hoje, ursinha – respondi a primeira coisa que veio em minha cabeça.
Elissa fez bico, mas concordou com a cabeça, entendendo. O taxista logo nos deixou em frente ao shopping e eu paguei pela corrida. Segurei na mão de Elissa e fomos em direção ao cinema, comprar nossas entradas e a maior pipoca de todas.
– Vou ficar sem comer pipoca por um ano. - Comentei enquanto saíamos da sala do cinema.
– Um ano é muito tempo, mamãe! – Ela me olhou espantada.
– É modo de dizer, meu amor. Porque comemos muita pipoca e eu enjoei, entendeu?
– Então eu vou ficar sem comer por dois anos! - Elissa afirmou e deu uma gargalhada, me fazendo rir junto.
De repente, Elissa parou em frente à uma loja de brinquedos e começou a pular e apontar para algo dentro da loja. Me virei e logo vi o que era. Anne estava com Nick dentro da loja, e logo Elissa se juntou a eles. Eu nem tinha percebido que ela saiu de meu lado.
– Elissa! Não sai correndo assim! – Pedi quando alcancei os três.
– Nat! – Anne disse, me cumprimentando com um abraço.
– Oi, amiga – A cumprimentei com um sorriso de lado.
– Fomos ao cinema! – Elissa disse. – E comemos a maior pipoca do mundo inteiro!
– Do mundo inteiro? – Ele perguntou, seus olhos arregalados, e logo se virou para a mãe. – Eu também quero, mamãe!
Anne riu e assentiu, dizendo a ele que comprariam depois. Nick e Elissa se afastaram e foram olhar alguns brinquedos. Anne e eu fomos atrás deles, mas ficamos um pouco afastadas.
– E então? Como estão as coisas? – Anne perguntou.
– Tudo bem. Essa semana tive a primeira sessão com a psiquiatra. – Respondi simplesmente, abrindo um sorriso pequeno.
– Que maravilha, Nat! Fico muito feliz por você, de verdade! – Anne disse, sorrindo enormemente.
Retribuí seu sorriso e voltei meu olhar para minha filha e Nicholas.
– Mas você não parece muito animada. Aconteceu alguma coisa? – Anne disse e voltei minha atenção para ela.
– Não é nada – ela fez uma cara de desconfiada –, prometo!
Anne deu de ombros. Elissa e Nick se aproximaram de onde estávamos. Nick segurava um dinossauro enorme nas mãos e Elissa segurava um quebra cabeças.
– Compra pra eu? – Elissa me pediu. Peguei o quebra cabeça de suas mãos para olhar e logo sorri para ela.
– Vamos montar hoje a noite, pode ser? Só eu e você! – falei, enquanto ela abria um sorriso enorme.
– Nat, Elissa, nós já vamos. Só passei comprar um presente para um aniversário que vamos amanhã – Anne disse.
Nick e Elissa se abraçaram desajeitadamente, apertando muito um ao outro, fazendo com que eu e Anne sorríssemos.
– Até, amiga. Bom fim de semana! – Me despedi e então olhei para Elissa. – Vamos pagar e vamos para casa!
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A Place To Call Home
RomansaUma mãe solteira, de apenas 22 anos, resolve mudar de cidade para começar uma vida nova com sua filha de três anos, após sua mãe, que era quem a ajudava com tudo, perder a batalha para o câncer. Sua vida começa a mudar já no trem a caminho de Londre...